Técnicos brasileiros não aprovam Ancelotti no comando da seleção
Italiano foi anunciado nesta segunda-feira (12) como o treinador do Brasil para a Copa do Mundo
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 12 de maio de 2025
Italiano foi anunciado nesta segunda-feira (12) como o treinador do Brasil para a Copa do Mundo
Matheus Camargo

O técnico Carlo Ancelotti foi anunciado nesta segunda-feira (12) pela CBF como o comandante da seleção brasileira para a Copa do Mundo de 2026. Após as passagens sem sucesso dos interinos Ramon Menezes e Fernando Diniz, e da demissão de Dorival Júnior, o italiano, que está de saída do Real Madrid, foi o escolhido para buscar a retomada no moral da equipe.
A FOLHA entrou em contato com técnicos brasileiros para ter a opinião dos profissionais do país sobre a chegada de um estrangeiro ao comando técnico da seleção pentacampeã mundial. O discurso foi quase idêntico: todos preferiam ver um brasileiro como técnico do Brasil no próximo Mundial.
“Sou contra um treinador estrangeiro na seleção. E, mesmo que fosse para ser um estrangeiro, o Ancelotti não seria o meu nome. Existem outros treinadores com uma condição melhor de trazer algo novo para o futebol brasileiro. O Ancelotti, na minha opinião, não é essa pessoa. De toda forma, já se tentou de tudo, então, deixa tentar para ver no que vai dar. Até porque se fala muito de treinador estrangeiro no Brasil, mas, na verdade, poucos fizeram sucesso”, destacou Emerson Ávila, de 57 anos, que foi técnico da seleção brasileira nas categorias sub-17 e sub-20, e treinou times como Cruzeiro, Goiás e Londrina. Atualmente, treina o Pouso Alegre-MG no Campeonato Brasileiro da Série D.
“Para a classe de treinadores brasileiros, é muito ruim ver um estrangeiro comandar a única seleção pentacampeã do mundo. Se fosse para trazer um técnico estrangeiro, teria que ser o Abel Ferreira (do Palmeiras). É um cara que conhece o futebol brasileiro, está há quatro ou cinco temporadas aqui", opinou o experiente treinador, que deu ênfase ainda à barreira da língua, já que Ancelotti não é fluente em português. “O Abel não teria esse problema. Isso importa, sim”, concluiu.
Ancelotti será o quarto técnico estrangeiro da história da seleção brasileira. O primeiro foi Ramón Platero, uruguaio que esteve no comando do Brasil no Sul-Americano de 1925. O seguinte foi o português Joreca, que treinou a seleção em dois amistosos em 1944. Por fim, o último foi o argentino Filpo Nuñez, técnico em 1965 em um amistoso contra o Uruguai. Na ocasião, o Palmeiras representou o time brasileiro e Nuñez era o técnico da equipe alviverde - que jogou de amarelo.
"SOU CONTRA"
A opinião de Emerson Ávila é semelhante à de Roberto Fonseca, de 62 anos, atual comandante do Boavista-RJ, também da Série D. O ex-técnico de Londrina, Cuiabá, Guarani, Novorizontino, entre outros clubes, afirmou que são poucos os estrangeiros que fizeram sucesso no futebol brasileiro. Entretanto, Fonseca foi mais um a citar o português Abel Ferreira, do Palmeiras, como um nome que tem se destacado.
“O Abel é um treinador (estrangeiro) longevo e que vem fazendo um grande trabalho. Mas também tivemos vários que passaram e não deixaram saudade. Eu poderia enumerar muitos que estão circulando do mesmo modo que alguns treinadores brasileiros. A seleção brasileira, assim como os atletas, deveria ser comandada por um treinador brasileiro. Vários já demonstraram sua capacidade”, afirmou o técnico paranaense de Mandaguari.
“Assim como os atletas devem ser oriundos do nosso país, acredito que o treinador também deve ser. Claro que a troca de conhecimento é importante para o crescimento em todos os sentidos, mas acredito que a seleção brasileira precisa ser representada por um técnico brasileiro”, reforçou Fonseca.
IMEDIATISMO
O ex-técnico de Londrina, Grêmio Prudente e Juventus Jaraguá-SC, Alemão, de 50 anos, também defende que o ideal não seria um técnico estrangeiro na seleção brasileira, mas pontuou que vários bons treinadores locais foram “queimados” pela CBF.
“O grande problema do futebol brasileiro é o imediatismo. Querem o resultado para ontem, não esperam uma sequência. Eu não gostaria de ver um técnico estrangeiro à frente da seleção brasileira. Acho que poderíamos ter um bom treinador brasileiro no comando, mas os bons treinadores foram queimados", destacou o ex-jogador de equipes como LEC, Ituano e Monza, da Itália.
"Para mim, o Dunga foi um bom treinador da seleção e foi queimado. O Tite então, nem se fala, é um baita profissional. Não teve título (de Copa do Mundo), é verdade, mas o trabalho era sensacional. E hoje, realmente, não tem quem colocar, porque os que poderiam estar, já estão queimados", opinou.
Alemão citou treinadores como Roger Machado e Rogério Ceni como promissores, mas mostrou compreensão à escolha por Carlo Ancelotti.
“Sinceramente, não vejo ninguém que vá suportar essa pressão. Falta planejamento. A troca constante de jogadores, cada dia é um nome diferente. Convocações que ninguém entende direito. Espero, realmente, que o Ancelotti venha e coloque a casa em ordem, no sentido da personalidade dele, do que já conquistou no futebol. E certamente vão dar mais tempo para ele do que dariam para qualquer outro treinador. É o melhor nome no momento, mas não é o que eu gostaria”, encerrou.
PERFIL
Carlo Ancelotti tem 32 títulos na carreira, somando conquistas nacionais, continentais e mundiais. É o treinador com mais títulos de Liga dos Campeões da Europa em toda a história, com cinco taças conquistadas, sendo duas pelo Milan e três pelo Real Madrid. O veterano de 65 anos também treinou Juventus, Chelsea, PSG e Bayern de Munique.

