O campeão catarinense Chrystian Borba não tem dúvidas: ‘‘O Waveski chega para ficar!’’ Com manobras arrojadas, como aéreos, tubos, rasgadas e batidas, a modalidade, um mix de surf e canoagem, começa a aparecer em diferentes picos brasileiros. ‘‘Não, não é um esporte novo. Só demorou muito para chegar ao Brasil’’, conta Chrystian, lembrando que em países como Austrália, África do Sul, Estados Unidos e França, o waveski é praticado e organizado desde os anos 60... O primeiro evento internacional da categoria realizou-se em 1975 no épico Gunston 500, fazendo parte do mundial de surf na África do Sul.
Na verdade, foram os antigos pescadores peruanos que originaram todas as atividades esportivas praticadas, hoje, sobre as ondas. Com seus ‘‘Caballitos de Totora’’, pequenas canoas feitas com uma espécie de junco extremamente leve, os locais costeiros do norte do Peru entravam mar adentro, navegando com um rudimentar remo de bambu, soltavam a rede e voltavam à praia surfando as ondas. Este conceito de deslizar sobre as ondas, em profunda harmonia com a natureza, cativou pessoas ao redor do globo, dando início à uma notável evolução de design e componentes de diferentes tipos de equipamentos. Aos poucos, foram aparecendo as inúmeras modalidades radicais que se apreciam nas praias atualmente.
Waveski é o esporte que mais se assemelha com a original técnica peruana. O atleta senta num pranchão de surf, onde é amarrado com tiras na cintura, coxas e, ainda, dispõe de alças, idênticas às do windsurf, para calçar os pés que o ajudam a dar o rumo à prancha e pressão nas manobras. Nas mãos, o remo – peça fundamental para a locomoção do waveski no mar, auxilia na entrada nas ondas e também assume a função de leme durante o surf na parede da onda. A maioria das manobras precisam do remo para serem executadas.
O esporte, apesar de incipiente no Paraná, é praticado nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e em algumas regiões do Nordeste. No Pico de Matinhos, nos dias de altas de ondas, podem-se ver os pioneiros curitibanos Ismael Rodeski, Leonel Anderman e o local Heriston arrepiando nas perfeitas direitas do pico. ‘‘Como é uma modalidade cara, de equipamentos importados, ainda estamos engatinhando no nosso estado. O grande desafio é atrair cada vez mais adeptos para criar uma associação e difundir o esporte’’, comenta o entusiasta Ismael, que promete para este ano trazer uma etapa do circuito brasileiro para o Paraná.
Esporte para todos
Um estória curiosa, que serve como lição de vida para todos, ilustra que o verdadeiro amor do homem pelo mar pode prevalecer sobre os percalços que a vida nos apresenta. O americano Rob Canalli, de 43 anos, foi vítima de um ataque de tubarão numa sessão de surf na Califórnia e perdeu a perna. Canalli encontrou no Waveski a forma de continuar perto das ondas e levou tão a sério que hoje viaja pelo mundo competindo nos principais eventos internacionais.
Recentemente, o público de Florianópolis se vislumbrou com sua performance no último mundial que se realizou na Praia Mole. ‘‘No Waveski é mais fácil ficar sentado na prancha e as manobras são muito parecidas com as do surf. Quando você quer alguma coisa, do fundo do coração, acaba aprendendo a se adaptar’’, ensina o atleta.
Mundial na África do Sul
Durante o Mundial de Waveski da África do Sul, realizado no ano passado, Chrystian Borba se uniu a mais sete atletas na pioneira equipe representando o Brasil, e saiu-se como o melhor brasileiro colocado, 25º no geral, após uma maratona de mês de competições. ‘‘Foi a melhor viagem que fizemos. Graças ao patrocínio do Instituto Nacional do Desporto e à Confederação Brasileira de Canoagem, chegamos a surfar, fora dos dias do evento, ondas clássicas, de até 4 metros, como foi o caso de Queens Berry Bay... ondas que ficarão gravadas na memória como as melhores da minha vida’’, relata Chrystian. A aventura de surfar na distante África do Sul proporcionou momentos insanos, com as ondas, e a experiência de vivenciar os contrastes sociais e culturais daquele povo.
Em alguns lugares era impossível parar o carro (nem sequer em postos de gasolina), dado ao sentimento de repulsa dos negros alimentado por tantos anos de repressão e racismo que os ingleses instauraram na região. Cobras super peçonhentas estão espelhadas à beira de todas as estradas do país: ‘‘Paradinhas para esticar as pernas ou urinar eram extremamente desaconselháveis...’’, lembra Chrystian.
Faz parte, a viagem valeu! A adrenalina de surfar as ondas perfeitas de Jeffery‘s Bay, Queens Berry Bay, Seal Point e Durban fez a cabeça da moçada, que experimentaram pela primeira vez dropar (descer) ondas gigantes em rasos fundos de corais.
Jerry Sirena, vizinho de Chrystian, da praia de Barra Velha, litoral norte de Santa Catarina, experimentou o pior caldo de toda a viagem na cara do amigo: ‘‘Lembro que estava tenso, entrando naquele mar enorme e perfeito, quando vi o Jerry dropar um pouco atrasado e o lip da onda arremessou longe engolindo o pobre que, de tanto dar volta debaixo d‘água, arrebentou as tiras da cintura e da coxa e acabou perdendo a prancha nas pedras’’, recorda Chrystian, e completa: ‘‘Quando fui socorrê-lo, Jerry veio à tona com um largo sorriso estampado. O cara voltou à praia, pegou outra prancha e caiu na água novamente...’’ Foi um dia intenso, após três horas de surf, os atletas saíram extasiados, mortos de cansaço, com a alma lavada.
Dicas de Chrystian Borba
- O principiante sempre deve ter uma cordinha amarrando o pé à prancha.
- Se perder a prancha jamais solte o remo, pois funciona como um salva-vidas. A tendência é que as ondas o empurrem com o remo para a praia.
- Ao surfar sobre fundos de pedra ou coral use sempre o capacete.
- Uma prancha nova, importada, custa US$ 650,00 (R$ 1300,00). Comece com uma prancha usada e grande, com boa flutuabilidade. De nada adianta sair gastando rios de dinheiro no período de experimentação.
- Natação e alongamentos são atividades recomendadas para os praticantes de waveski. Aumentam a resistência e auto-confiança no mar.
- Respeite o mar e os seus limites! A experiência e a evolução vêm gradativamente com a prática. Se as ondas estiverem maiores que a sua coragem, respeite, o seu dia ainda vai chegar.
Chrystian Borba tem o apoio da Prefeitura Municipal de Barra Velha, Hotel Mirante e Supermercado Linomar.
SERVIÇO: Entre na Onda
Paraná: Ismael Rodeski, [0xx41] 9988-1327
Barra Velha, SC: Chrystian Borba, [0xx47] 456-3016/9995-7728, e-mail: [email protected]
Florianópolis, SC: Álvaro Campos [0xx48] 232-71-29, e-mail: [email protected]
São Paulo: Rogério Cruz, fabricante de pranchas de Waveski, [email protected]
- Especiais agradecimentos ao Hotel Mirante de Barra Velha, que viabilizou a produção desta reportagem. Av. Gov. Celso Ramos, 106 Fone: [0xx47] 456-0343/456-2626..