Sinônimo de sofrimento nos EUA, Bills têm nova chance nos playoffs da NFL
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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021
ALEX SABINO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A revista Forbes elegeu em 2016 a cidade esportiva mais sofrida dos Estados Unidos. Deu Buffalo. A fórmula de julgamento levou em conta jejum de títulos, grandes campanhas que terminaram em fracasso e a decepção dos fãs.
Se o município do estado de Nova York ficou com o primeiro lugar, grande parte da culpa é do Buffalo Bills.
A equipe da NFL (National Football League, a liga profissional de futebol americano) tem agora uma nova chance de acabar com isso. No último sábado (9), diante do Indianapolis Colts, voltou a venceu nos playoffs pela primeira vez desde 1995 e está a dois jogos de disputar o título da liga no Super Bowl.
"Ano que vem vamos voltar ao Super Bowl. E vamos ser campeões", disse o kicker Scott Norwood em janeiro de 1991.
A mitologia perdedora dos Bills tem muito a ver com essa frase. O time havia acabado ser derrotado em uma das finais mais dramáticas da história. O próprio Norwood errou um chute na última jogada e o New York Giants ganhou por 20 a 19. A única vez em que o Super Bowl terminou com apenas um ponto de diferença entre vencedor e vencido.
Metade da profecia de Norwood se concretizou. Os Bills retornaram ao Super Bowl não apenas uma, mas três vezes: em 1992, 1993 e 1994. Perderam todas. Caíram, respectivamente, diante do Washington Redskins e do Dallas Cowboys (duas vezes), o que levou a imprensa americana a criar a frase "anyone but Buffalo" (qualquer um, menos Buffalo).
Nenhum outro time chegou a quatro Super Bowls seguidos, e Buffalo perdeu de todos os jeitos. Apertado, de lavada, com quarterbacks titular e reserva, respeitando o adversário ou o provocando antes da final.
"O que faz um torcedor dos Bills depois de vencer o Super Bowl? Desliga o videogame", era a piada nos anos 90, muito antes dos memes.
Neste sábado (16), às 22h15 (de Brasília), a franquia de Buffalo enfrentará o Baltimore Ravens pelo que é chamado de divisional playoffs, a semifinal da AFC (American Football Conference, uma das duas conferências da NFL). Depois disso, se ganhar, terá a final da própria AFC e, então, o Super Bowl contra o campeão da NFC (National Football Conference).
Os Bills terminaram a temporada regular com a segunda melhor campanha da AFC. Foram 13 vitórias e 3 derrotas. Ficaram atrás apenas do atual campeão do Super Bowl, o Kansas City Chiefs (14-2).
O time teve a segunda melhor produção ofensiva da NFL, com média de 396,4 jardas por jogo. Um dos destaques da temporada, o quarterback Josh Allen, 24, foi o quinto melhor (passes para 4.544 jardas no total), e o wide receiver Steffon Diggs ficou em primeiro nas jardas recebidas: 1.535.
A boa campanha e ter voltado a vencer nos playoffs gera otimismo na torcida, apelidada de Bills Mafia, apesar dos sofrimentos nas últimas décadas.
Os dramas não ficaram restritos ao Super Bowl. Em 1999, a equipe tinha um jogo ganho contra o Tennessee Titans, fora de casa, depois de converter um field goal (chute que vale três pontos) a 16 segundos do fim. Na teoria, era apenas reiniciar o jogo e comemorar a classificação.
Quando os Bills devolveram a bola ao adversário para a última jogada, o que deveria ser uma formalidade, Tennessee conseguiu protagonizar lance inusitado, com passe lateral que enganou os defensores de Buffalo. Marcou touchdown, venceu e avançou nos playoffs. A jogada foi batizada como "music city miracle" (o milagre da cidade da música, já que os Titans jogam em Nashville, capital do country nos Estados Unidos).
Buffalo foi eleita a cidade mais sofrida também porque nenhum clube ou franquia local jamais ganhou um título nacional entre as principais ligas profissionais. O município tem o Buffalo Sabres, da NHL (hóquei), e já teve o Buffalo Braves na NBA.
Por problemas financeiros, a franquia de basquete se mudou para a Califórnia em 1978. Transformou-se no San Diego Clippers, hoje em dia Los Angeles Clippers, que continua sem títulos da NBA.
Os Bills foram campeões em 1964 e 1965 da AFL (American Football League), liga que era rival da NFL e se fundiu a ela em 1970.
"Ainda incomoda quando as pessoas perguntam sobre isso. É uma dor que nunca acaba. Você tem de seguir em frente. Éramos uma equipe persistente e que nunca desistia. Mas será que éramos um fracasso porque perdemos quatro Super Bowls? Quantos times chegam ao Super Bowl a cada ano? Dois. Estávamos sempre lá", relembra o quarterback Jim Kelly, integrante da equipe que de 1990 a 1993 perdeu as finais.
A presença dos Bills nos playoffs não é a única novidade da atual pós-temporada. O Cleveland Browns conseguiu chegar ao mata-mata pela primeira vez desde 2002, derrotou o Pittsburgh Steelers no último fim de semana e agora encara os Chiefs. Os Browns chegaram a ter recorde negativo de 0 vitória e 16 derrotas em 2017.