SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Duas megagoleadas impressionantes, de 95 a 0 e de 91 a 1, em uma liga de futebol de Serra Leoa estão sendo alvo de investigação das autoridades esportivas do pais da África ocidental, que em sua história jamais vira placares tão elásticos.

Na rodada final do campeonato da Liga Super 10 Regional Leste, duas partidas, Gulf FC x Koquima Lebanon e Lumbebu United x Kahunla Rangers, decidiriam qual time continuaria na disputa para tentar subir de divisão.

O Gulf e o Kahunla estavam empatados em pontos e, caso ambos ganhassem seus confrontos, a definição sairia no saldo de gols.

Os jogos aconteciam no mesmo horário e, no intervalo dos dois, o Gulf ganhava de 7 a 1 e o Kahunla, que atuava como visitante, por 2 a 0.

No segundo tempo das duas partidas, o que se viu foi um festival de gols das equipes que lutavam pelo acesso.

O Gulf anotou 84 gols nos 45 minutos da segunda etapa, vencendo por 91 a 1, e o Kahunla fez mais ainda no mesmo período de tempo: 93 gols, ou mais de dois por minuto, para triunfar por 95 a 0.

Uma situação escandalosa, em duplicata, que não deixou alternativa à Associação de Futebol de Serra Leoa (SLFA, na sigla em inglês) a não ser iniciar uma apuração dos fatos.

O provável é que, no espaço entre o primeiro e o segundo tempo, dirigentes dos clubes interessados em vencer para colher um louro esportivo maior tenham oferecido gratificação financeira para que os adversários sucumbissem de forma vergonhosa.

Essa combinação, por óbvio, é ilegal no futebol –e em qualquer esporte–, mesmo que não envolvesse dinheiro.

Com a fortíssima suspeita de manipulação de resultados, a SLFA determinou a anulação dos placares.

Em comunicado, a entidade informou que questionará em sua diligência as equipes de arbitragem envolvidas nos dois jogos e também os jogadores e dirigentes das quatro agremiações.

"Todos os culpados serão tratados de acordo com as leis da SLFA e entregues à comissão anticorrupção do país", declarou à BBC Sport Africa o presidente da associação, Thomas Daddy Brima. "Não podemos deixar uma situação constrangedora como essa permanecer impune."

A reportagem da BBC disse ter feito contato com três dos clubes envolvidos, não tendo localizado representantes do Gulf.

O Kahunla, na figura do seu diretor executivo, Eric Kaitell, condenou o comportamento antidesportivo do próprio time e dos demais envolvidos.

O gerente-geral do Lumbebu, Mohamed Jan Saeid Jalloh, negou ter havido qualquer acerto manipulativo com o adversário e reclamou de que sua equipe foi prejudicada por ter tido três jogadores expulsos.

Ele reconheceu que a equipe "levou muitos gols no segundo tempo" e que, "frustrado, nervoso e desconcentrado", perdeu a conta de quantas bolas estufaram as redes.

Já o presidente do Koquima, Mohamed Lanfia, apresentou uma explicação estapafúrdia.

Segundo ele, o jogo em questão não era oficial, e sim uma partida festiva, um encontro entre "jogadores da comunidade", incluindo alguns do time dele, realizado "para entreter os fãs que compraram ingresso para ver a partida contra o Gulf".

Só que, com uma derrota acachapante de 91 a 1, os torcedores do Koquima certamente não chamaram o que viram de entretenimento, e sim de aborrecimento.