ENOSHIMA, JAPÃO (FOLHAPRESS) - Ao deixar as águas da Baía de Enoshima, em uma pequena ilha perto de Tóquio, o velejador e recordista olímpico Robert Scheidt, dono de cinco medalhas em sete participações nos Jogos, fez uma sóbria reflexão sobre sua oitava colocação.

"Estava até hoje brigando por uma medalha. Assim é o esporte, se você não aproveita as oportunidades, os outros vêm e aproveitam. Assim são os Jogos Olímpicos, e assim que tem que ser", disse, ainda com o uniforme da regata final da classe laser.

A sexta medalha seria bem-vinda, obviamente. A marca deixaria o brasileiro isolado no ranking de atletas medalhistas no país --hoje ele divide o topo com Torben Grael, também da vela. Scheidt coleciona dois ouros, duas pratas e um bronze. Grael, dois ouros, uma prata e dois bronzes.

No caso das Olimpíadas de Tóquio, a vitória maior de Scheidt foi chegar à regata final, neste domingo (1º), com chances de pódio aos 48 anos, 25 deles depois de seus primeiros Jogos Olímpicos, em Atlanta-1996.

Muitos de seus adversários diretos têm menos da metade da idade do brasileiro. O medalhista de ouro em Tóquio, Matt Wearn (Austrália), que exaltou o brasileiro após a final, não havia completado nem um ano quando Scheidt conquistou sua primeira medalha, a de ouro também, nos Jogos de Atlanta em 96.

"Lógico que eu queria sair daqui com uma medalha, era meu maior objetivo, mas acho que cumpri uma das minhas grandes metas, que era chegar nas Olimpíadas competitivo, já que havia um grande questionamento sobre esse momento da minha vida", disse o brasileiro, que vive na Itália.

Scheidt não sobe no pódio, mas deixa o Japão com mais um recorde: sete participações em Olimpíadas, privilégio que, entre atletas brasileiros, divide com a jogadora Formiga, da seleção brasileira feminina de futebol.

"Quando comecei minha carreira na vela, nunca imaginei que chegaria a sete participações. É uma emoção muito grande, uma história linda, que consegui cumprir", afirmou.

Questionado, o mais experiente entre os velejadores não descarta participar dos Jogos de Paris em 2024.

"Acho que vocês adorariam ouvir que vou para Paris ou não vou. O que digo hoje é que acho difícil continuar na classe laser. É uma classe difícil, muito física, estou com 48 anos, já participei de cinco Olimpíadas nessa classe, foi um grande desafio participar desta e estar na forma que estou hoje", diz.

Scheidt conquistou três de suas cinco medalhas na laser, que exige um alto nível de preparo físico na vela. No início de 2019, ele anunciou o retorno à categoria.

O adiamento das Olimpíadas de 2020 para 2021, por causa da pandemia, deu mais tempo para que ele se preparasse para Tóquio. O brasileiro treinou em Torbole, na Itália, onde vive com a família,

Mas se for em outra classe? É possível esperar Scheidt em sua oitava participação olímpica? O brasileiro não descarta.

"Não vou mais falar que vou parar porque duas vezes já parei e voltei. Acho errado falar de novo que vou parar e depois voltar, prefiro não declarar nem pelo sim nem pelo não", respondeu.

O velejador disse esperar que uma nova geração assuma a classe laser nas próximas Olimpíadas. "Com relação a outras classes, é difícil responder hoje, porque ainda estou com o turbilhão do que aconteceu aqui essa semana", diz.

A semana foi de altos e baixos para o brasileiro nos Jogos de Tóquio.

Depois de um bom começo, chegando a ficar em terceiro lugar na classificação geral, Scheidt perdeu fôlego e entrou na água de Enoshima na tarde de domingo na sexta colocação, com chances remotas de levar a medalha de bronze.

"A partir do terceiro dia, passei a cometer alguns erros, tanto de estratégia, como de largadas. Chegue hoje com alguma chance matemática, mais bem difícil".

Além do ouro para o australiano Matt Wearn, a prata foi para o croata Toni Stipanovic e o bronze ficou com Hermann Tomasgaard, 27, da Noruega.

São os vencedores dos Jogos de Tóquio-2020. Mas estão longe, bem longe das marcas de Scheidt.