SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Das 23 jogadoras brasileiras que disputam a Copa América feminina, na Colômbia, 18 delas debutam na competição em que o Brasil é o maior vencedor, com sete conquistas em oito edições.

Nomes como Angelina, 22, e Duda Sampaio, 21, representam parte do processo de renovação da equipe iniciado por Pia Sundhage após os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021.

Além de buscar novas opções técnicas, a treinadora sueca trabalha para formar novas lideranças que possam dar continuidade à trajetória sedimentada por Marta, Cristiane e Formiga.

Por quase duas décadas, as três foram os pilares da seleção, mas, pela primeira vez desde 2003, quando o trio se formou, nenhuma delas está na briga pelo caneco continental. Com elas, o Brasil viveu um longo período de conquistas e resultados expressivos.

Juntas, ganharam a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, mesmo ano em que ficaram com o vice na Copa do Mundo, na China. Também levaram duas pratas, nos Jogos de Atenas, em 2004, e Pequim, 2008. Foram três títulos da Copa América no período (2003, 2010 e 2018), sempre com ao menos uma das três em campo.

Para o futuro da equipe, somente Marta ainda está nos planos de Pia. Formiga se aposentou em novembro de 2021. Cristiane ficou fora da lista de convocadas para Tóquio e não teve mais nenhuma chance desde então.

Marta, por sua vez, ainda é a dona da camisa 10 do Brasil, mas não pôde ir com a equipe à Colômbia por causa de uma lesão no joelho. Aos 36 anos, ela tem futuro incerto.

"Para mim, foi um prazer estar perto delas [Formiga, Cristiane e Marta]. Infelizmente, Marta está lesionada, mas isso dá ao time a chance de fazer algo diferente", diz a treinadora.

A sueca sabe o peso que a jogadora —eleita seis vezes a melhor do mundo— ainda tem para seu elenco. No entanto, já enxerga novas lideranças. "Só precisamos ser pacientes para esperar que elas avancem."

Nesse ponto, destacam-se a zagueira Rafaelle, 31, a lateral Tamires, 34, e a atacante Debinha, 28.

"A questão da liderança é bem dividida. Depende muito do setor", afirma Rafaelle. "Acho que não tem essa líder como a figura da Marta. Ela ausente, a gente se divide bem nessa liderança", acrescenta.

Por enquanto, tem dado certo. O Brasil lidera o Grupo B, com seis pontos em dois jogos, após as vitórias sobre Argentina (4 a 0) e Uruguai (3 a 0). Nesta segunda-feira (18), pega a Venezuela, às 18h (de Brasília). Antes de encerrar a primeira fase, enfrentará também o Peru, na quinta-feira (21).

Apesar dos bons resultados, a treinadora do Brasil não está satisfeita. Ela não aprovou o desempenho das jogadoras na última partida. "Não gostei do jogo, o Uruguai fez o seu trabalho muito bem, tentou dificultar o nosso jogo. Eu não gostei da nossa atuação, temos que melhorar", disse. "Nós perdemos a bola muitas vezes, não tivemos conexão e demos muito espaço para as adversárias".

Mesmo com a crítica, o Brasil continua sem ser vazado na competição. E tem como artilheiras Adriana (4), Debinha (2) e Bia Zaneratto (1). Debinha, Zaneratto, Luciana, Rafaelle e Tamires são as únicas que já tinham disputado a competição, que garante vagas para a Copa do Mundo de 2023 e os Jogos Olímpicos de 2024.

Com o suporte dessas atletas mais experientes, jovens como Angelina e Duda Sampaio, peças importantes do novo meio-campo, que estavam não faz muito tempo na seleção de base, têm se destacado.

"Já criei dentro de mim uma certa liderança, uma liberdade de poder falar dentro de campo e fora também. Tento trazer o que aprendi na base para a seleção principal", afirmou Angelina.

Com a proximidade do próximo ciclo de Copa e das Olimpíadas, a surgimento de novas peças como ela era mais do que necessário. Porém, para Renata Mendonça, colunista da Folha especialista em futebol feminino , esse processo demorou para começar.

"A verdade é que nós não nos preparamos para formar outras Martas, Cristianes ou Formigas", afirma. "O investimento na base feminina começou há apenas três anos. Perdemos talentos para a seleção americana, como é o caso da Catarina Macario que, sem oportunidade de jogar no Brasil, mudou-se para os Estados Unidos."

Renata ainda espera ver Marta de volta à seleção, mas destaca a importância de as atuais jogadoras terem mais protagonismo para garantir o futuro da seleção e da categoria no país. "Esses ciclos precisam acontecer pelo desenvolvimento do futebol feminino no Brasil."