'Segurança máxima' frustra torcedores
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 04 de janeiro de 2000
Osmani Costa
De Londrina
A chegada e o primeiro dia da Seleção Brasileira de Futebol em Londrina foram marcados pelo forte aparato repressivo da operação conjunta montada pelas polícias Militar, Civil e Federal. O esquema, feito de acordo com as exigências da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), prevê segurança máxima e um isolamento quase total dos jogadores e da comissão técnica em relação aos populares.
Isto ficou claro já no aeroporto, quando os integrantes da delegação brasileira desembarcaram do avião com uma hora de atraso direto para o ônibus da CBF, estacionado a poucos metros da pista de pousos e decolagens. O máximo que os torcedores conseguiram foram acanhados acenos de alguns jogadores.
Horas antes do desembarque da Seleção, o aeroporto já vivia um clima de forte tensão. Cerca de 40 policiais militares a pé, em motocicletas ou em viaturas estavam espalhados por todos os pontos estratégicos do local, fortemente armados e preparados para evitar improváveis incidentes.
É necessária toda precaução possível. Acredito que não esteja havendo exagero. Mas é melhor pecar pelo exagero do que por uma falha inesperada, afirmou o major Manoel da Cruz Neto, responsável pela participação do efetivo do 5º Batalhão da Polícia Militar na operação de segurança à Seleção. É um esquema especial, que só pode ser comparado aos realizados quando da vinda de presidentes da República.
O trajeto de cerca de 5 quilômetros entre o aeroporto (zona leste da cidade) e o Hotel Crystal (área central), onde está hospedada a Seleção, foi percorrido em pouco mais de dez minutos pelos dois ônibus. No veículo da CBF, pintado com as cores e o escudo oficial da entidade, além da logomarca do patrocinador, foram os jogadores e a comissão técnica chefiada pelo treinador Wanderley Luxemburgo. Atrás, seguia o ônibus conduzido pelo motorista Aparecido Baião de Souza, sem nenhum passageiro e nenhuma bagagem. O ônibus reserva, em todos os deslocamentos da Seleção, é uma das exigências da CBF.
O deslocamento da delegação pelas avenidas Santos Dumont, Juscelino Kubitscheck e Higienópolis chamou atenção dos populares pelo estridente som das sirenes das motocicletas e viaturas da PM, e também pelo inusitado da situação no trânsito. O comboio não respeitou os sinais vermelhos dos semáforos e andou, inclusive, na contramão em duas quadras na chegada do hotel, nas ruas Sergipe e Quintino Bocaiúva.
Não estamos exagerando, não. Estamos dando a cobertura que a Seleção merece e seguindo os critérios da CBF, que já tem muita experiência acumulada neste tipo de viagens e competições, comentou o capitão Sérgio Dalbem, comandante da Companhia de Trânsito (Ciatran) da PM. Felizmente, saiu tudo bem. Não houve nenhum incidente neste primeiro dia. Apenas pequenos e momentâneos transtornos para os usuários trânsito por onde passou o comboio, mas isto é normal e inevitável.
De acordo com o capitão, a Ciatran colocou à disposição do esquema de segurança para a Seleção 25 homens e três viaturas. À frente dos ônibus da delegação da CBF, seis batedores em potentes motocicletas da PM abriam o trânsito pelas ruas e avenidas. Na retaguarda, seguiam viaturas da Rone e do Pelotão de Choque com policiais empunhando armas de grosso calibre.
O capitão Dalbem explicou que o comboio da Seleção foi forçado a trafegar na contramação em algumas quadras nas proximidade do hotel e do Estádio VGD porque estes imóveis estão localizados no lado esquerdo das ruas, ao contrário do lado da portas dos ônibus, que ficam no direito. Foi uma dificuldade de natureza técnica que enfrentamos no planejamento da operação, em consequência da padronização dos ônibus. Esta medida foi tomada para evitar tumultos ainda maiores, que poderiam ocorrer com o embarque e desembarque do comitiva longe da entrada do hotel e do estádio, ressaltou o comandante da Ciatran.
Segundo o delegado-chefe da Polícia Civil (PC) em Londrina, Wanderci Corral Fernandes, seis policiais atuaram ontem na operação-chegada da Seleção, sempre no trabalho de cobertura e investigação nas imediações de onde estava a comitiva da CBF. Nenhuma anormalidade foi encontrada e ninguém foi preso ontem pelos policiais civis. Hoje, chega a Londrina uma equipe do Centro de Operações Especiais (Cope), vinda de Curitiba para se incorporar ao esquema de segurança à Seleção. Durante todo o mês, cerca de 40 homens da PC estarão participando desta operação.
Onde os ônibus da comitiva chegam para estacionar já encontram um forte esquema de isolamento policial, com o objetivo de se evitar o contato dos jogadores e da comissão técnica com os torcedores, fãs e populares. Mas, se depender do treinador Wanderley Luxemburgo, nem sempre vai ser assim (leia texto nesta página).