Rodrygo, o garoto que dormia entre bolas de futebol, vira herói do Real Madrid
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quarta-feira, 04 de maio de 2022
ALEX SABINO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Herói do Real Madrid, Rodrygo, 21, poderia facilmente estar do outro lado da final da próxima Liga dos Campeões. Em 2018, quando o Santos escutou propostas pelo talento precoce de 17 anos, seu empresário Nick Arcuri apareceu com dois interessados.
"Ele poderia escolher entre o Liverpool e o Real Madrid", disse na época o presidente da agremiação, José Carlos Peres.
O empresário consultou a família e, principalmente, o atacante. Rodrygo não pensou duas vezes. Queria jogar no Real Madrid. Ele tinha na cabeça a imagem de Cristiano Ronaldo, que naquele ano conquistaria o torneio europeu pela terceira vez consecutiva na equipe espanhola (e contra o Liverpool).
Ao chegar a Madri, no verão europeu de 2019, teve Eden Hazard como companheiro de equipe. O brasileiro tinha a imagem do atacante belga como descanso de tela do celular.
Hazard ainda é integrante do elenco madrileno. Ainda está no clube onde passou mais tempo criando polêmicas e lesionado do que jogando futebol. Rodrygo colocou seu nome na história com dois gols, no finalzinho, para virar o placar na partida de volta da semifinal do principal torneio de clubes do mundo nesta quarta-feira (4).
O Manchester City vencia por 1 a 0 no Santiago Bernabéu. O brasileiro saiu do banco de reservas durante o segundo tempo e levou o confronto para a prorrogação. No tempo complementar, Benzema fez, de pênalti, o gol do 3 a 1 e da classificação para a decisão da Liga dos Campeões.
No próximo dia 28, o Real enfrenta, em Paris, o Liverpool. O mesmo clube inglês que um dia quis Rodrygo.
"Não tem explicação [a virada]. São coisas que só se passam no Real Madrid. Esta camiseta ajuda a gente a lutar até o final", disse após a obtenção da vaga improvável.
Ele havia afirmado ao pai, Eric Batista, que faria três gols, o que era uma promessa e tanto para quem imaginava que não seria titular.
"Ficou faltando um", brincou.
É uma referência à pessoa mais influente da sua vida. Eric foi lateral direito com passagem por pequenos clubes do interior. Pelo Campeonato Paulista de 2012, quando estava no Mirassol, marcou Neymar em uma partida contra o Santos. É a pessoa que o acompanha todos os treinamentos de Rodrygo e lhe dá conselhos.
"Às vezes, eu estou cansado, quero ficar em paz, mas sei que preciso escutá-lo", já disse Rodrygo.
Nascido em Osasco, cidade da Grande São Paulo, o astro do Real Madrid vem de uma família de futebolistas. Além do pai, seu avô e tios também atuaram. Sua mãe, Denise, jogou de maneira amadora.
Aos 32 anos, em 2016, Eric decidiu abandonar a carreira para cuidar da do filho, então com 15. Deixou o elenco do Cuiabá para apostar em Rodrygo, que já era uma revelação do Santos e seria profissionalizado no ano seguinte. Quando o garoto nasceu, seus pais tinham 17 anos.
A família dele é tão ligada ao futebol que uma de suas lembranças de infância era dormir entre várias bolas em sua casa, em Osasco.
Ao chegar ao Santos, aos dez anos, começou a se destacar até ser visto com o aposto que recai sobre todas as apostas que aparecem no clube: o novo raio. Rodrygo começou a se firmar na equipe principal aos 17 anos, em 2018, em um período de entressafra do clube que dura até hoje: a crise financeira impedia a formação de elencos fortes, e os títulos se tornaram escassos. Ele também ficou pouco tempo na Vila Belmiro.
Naquele mesmo ano foi negociado com o Real Madrid pela cifra recorde (na história santista) de 45 milhões de euros (R$ 235 milhões em valores atuais). Desse total, a agremiação ficou com R$ 188 milhões. Sem esse dinheiro, as contas da diretoria não teriam fechado. Rodrygo rendeu mais ao Santos do que as vendas de Robinho, também para o Real Madrid (30 milhões de euros ou R$ 157 milhões atualmente), em 2005; e Neymar para o Barcelona, em 2013 (17 milhões de euros ou R$ 89 milhões).
Apesar de ter sido negociado em 2018, ele se apresentou ao clube espanhol apenas em 2019. Para Rodrygo, os gols contra o Manchester City e um eventual título europeu podem ser o passaporte para algo ainda maior.
"Estou trabalhando para estar na Copa do Mundo. Quando você está bem no Real Madrid, ajuda muito sua chance de ir para a seleção brasileira", constatou.