SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - A nadadora Erica Sullivan negou que tenha protestado contra a participação de Lia Thomas, a primeira mulher trans a se tornar campeã em uma prova da NCAA, a principal liga universitária dos EUA, na competição, realizada na última quinta-feira (17).

Após a prova, Sullivan, que ficou em terceiro, se juntou às competidoras Emma Weyant (2ª) e Brooke Forde (4ª) para uma foto sem a presença da campeã. A atitude foi vista como protesto contra a participação de Thomas, que conquistou o ouro ao nadar 500 jardas (cerca de 457 metros) em 4min33s24.

Em uma mensagem no Instagram, Sullivan publicou uma foto em que cumprimenta Thomas e, na legenda, explicou que a polêmica imagem se refere à reunião das companheiras da seleção norte-americana nas Olimpíadas de Tóquio.

"Ser submetida a falsas alegações na mídia conservadora devido a esta foto com minhas amigas de Tóquio não é algo que acontece todos os dias. Como a foto ainda está circulando, achei que seria mais fácil postar a foto pretendida junto com outra foto minha apertando a mão de Lia depois de sua INCRÍVEL prova de 500 jardas livre", escreveu a nadadora.

"Realmente não poderia ter passado por esse caos sem minha incrível equipe que me defendeu quando senti que estava sendo deturpada e trabalhando tão duro quanto elas para me motivar a fazer o meu melhor pelo Texas. Também agradeço à minha namorada incrível que editou meu artigo com a Newsweek apoiando Lia. Não teria sido capaz de soar tão eloquente ou poderosa sem sua mente e voz incríveis", finalizou.

Lia Thomas competiu por três anos na equipe masculina antes de passar pelo processo de readequação de gênero, durante a pandemia. Para competir com outras mulheres, ela teve de ser submetida a um tratamento para reduzir as taxas de testosterona.

Segundo a antiga recomendação do NCAA, que era similar a orientação do COI (Comitê Olímpico Internacional), Thomas precisaria de um ano completo com o nível de testosterona abaixo do limite de 10nm/l (o que ela cumpriu e disputou toda a temporada universitária deste ano) para estar apta para competir com mulheres.

Com a dimensão de seus resultados, a nadadora passou a ganhar destaque na imprensa norte-americana e já mudou seu status em relação ao período em que competia com homens, sem grande desempenho.

A Fina (Federação Internacional de Natação) e a USA Swimming (federação de natação dos EUA) são as responsáveis por determinar a elegibilidade ou não de atletas trans na natação universitária. Enquanto a Fina ainda prepara uma regulamentação —que está está sendo elaborada e ainda não tem data para ser anunciada—, a USA Swimming publicou no início do mês uma nova regra. A mudança estabeleceu um limite menor do nível de testosterona, de 10 para 5nml/l, e num período maior, de 12 para 36 meses de controle.

Por se tratar de uma nova medida, a NCAA, inicialmente, decidiu rejeitar a regra da USA Swimming. O uso do nível de testosterona como elemento regulador é muito contestado por alguns especialistas, que indicam que vários outros fatores biológicos também deveriam ser considerados. Uma das sugestões é determinar uma idade limite para a transição de um atleta.