SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quando terminar a temporada do futebol na França, no final deste mês, Hilton Vitorino vai se reunir com o presidente do Montpellier, Laurent Nicollin. Em pauta estará o futuro do zagueiro brasileiro. O dirigente já havia sinalizado no passado com um cargo de olheiro ou como membro da comissão técnica.

Na conversa com a reportagem, o tom de voz o jogador denuncia sua intenção real.

"Eu não estou pronto para parar de jogar. Não consigo imaginar isso porque sou tão doido por futebol que não penso em outra coisa. Digo para a minha esposa: mais seis meses como atleta e chegar aos 44 seria bom demais", afirma.

Nenhum jogador brasileiro tem mais partidas no futebol francês. Não há outro representante do país tão velho quanto ele na elite das principais ligas nacionais da Europa. Em setembro, Hilton completa 44 anos.

Há três meses, ele chegou aos 500 jogos na primeira divisão da nação a qual chegou em 2004 com o pensamento de ficar seis meses e voltar ao Brasil.

Nesta quarta (12), o Montpellier enfrenta o Paris Saint-Germain pela semifinal da Copa da França. Confronto que pode colocar Hilton Vitorino contra Neymar, às 16 horas, com transmissão da Fox Sports.

"Já o enfrentei algumas vezes. Como ele atua mais pelos lados do campo, não tivemos confronto direto. Mas é muito difícil marcá-lo. Ele é imprevisível", avalia.

A final do torneio está marcada para o próximo dia 19.

As negociações de novos contratos são normais na vida do zagueiro nascido no Gama, no Distrito Federal, e revelado pela Chapecoense em 1996. Desde que chegou ao seu atual clube, em 2011, apenas seu primeiro acordo teve duração de dois anos. Todos os outros foram por apenas uma temporada.

"Eu cheguei no Montpellier com quase 35 anos. Nunca disse para o técnico para me deixar fora de treinos quando eram apenas atividades físicas. Sempre treinei todos os dias. Isso é o que me motiva. Eu treino como se fosse o primeiro dia de teste nos juniores da Chapecoense. Essa vontade me ajudou a chegar até aqui", explica.

Ele afirma que algumas vezes, no passado, algum integrante da comissão técnica lhe dizia que aquele dia não precisava ir ao campo. Logo perceberam que o conselho era inútil.

No Montpellier, Hilton foi campeão francês em 2012. Conquistou o mesmo título em 2010 pelo Olympique de Marselha, equipe que deixou em 2011 após sua família sofrer um violento assalto em que o defensor foi agredido e sua casa, roubada.

Ele se identificou mais com a pequena Montpellier, perto da costa do Mediterrâneo e com menos de 300 mil habitantes. Por isso afirma que, mesmo depois de parar, não pretende sair da cidade.

"Um dia no passado eu era apenas um garoto no Gama. Nem penso que hoje em dia tenho mais de 500 jogos no futebol francês. Acho que só vou prestar atenção a isso quando parar".

Não que tenha esse plano.

"Já faz oito anos que me perguntam sobre aposentadoria. Antes de cada campeonato eu digo 'vamos jogar este ano e ver o que acontece'. Sei que uma hora vou ter de pendurar as chuteiras. Jogar até os 50 seria coisa de louco, não é?", pergunta, antes de cair na risada.

Depois da Chapecoense, Hilton foi para o Paraná Clube em 2001. Ajudou o time a ser campeão do módulo amarelo (a segunda divisão) da Copa João Havelange e no ano seguinte, estava tudo certo para ser negociado com um time mexicano. Foi quando apareceu o Servette, da Suíça. Ficou quase dois anos no clube até ser emprestado para o Bastia, em 2004. Este foi o momento que iniciou sua ainda atual passagem pela França.

Ele percebe às vezes um olhar curioso dos atacantes adversários mais jovens, de quem imagina como ser possível aquele senhor ainda atuar no futebol profissional. O brasileiro tem uma filha de 18 anos que faz faculdade na França. Se fosse filho e tentasse o esporte, poderia até enfrentar o pai em campo.

Há também os que o procuram após as partidas para dar parabéns pela carreira.

"Eu imagino que deve ter os que conversam entre eles e dizem que vão enfrentar aquele vovozinho. Pensam que vão 'deitar' em cima de mim por causa da idade. Quando a bola rola, não é bem assim. Mas tem os que me incentivam a continuar", explica.

Embora não diga abertamente, é isso o que ele deseja. O jogador que assinou o primeiro contrato para jogar na França em um aeroporto (porque a janela de transferências ia fechar), imaginou que logo apareceria um time brasileiro interessado em repatriá-lo e que encontrou um lar em Montpellier, não pensa em parar por enquanto.

Pode até ser obrigado a isso pelas circunstâncias. Mas confessa que será difícil. No que depender de Hilton Vitorino, quando setembro chegar e completar 44 anos, ele estará em campo, como jogador do Montpellier.

"De qualquer jeito, eu tenho orgulho do que fiz. Nunca imaginei estar na história desse jeito, com mais de 500 jogos pelo campeonato. Quando jogo, eu não lembro da minha idade. Sou apenas um jogador de futebol, como qualquer outro, mesmo que seja um garoto, porque eu me sinto jovem também", finaliza.