Capitão, 30 anos, volante e ‘‘xerife’’ da Portuguesa - cujo técnico já propôs que seja homenageado com um busto de bronze na sede do clube - deixou em Cascavel, onde começou a carreira, histórias que formam rico folclore. Elas são lembradas pelo técnico do Cascavel, Elói Kruger, 44 anos, responsável por sua formação na segunda metade dos anos 80, quando o apelido Capitão - por ser originário do interior de Capitão Leônidas Marques, município vizinho a Cascavel - substituiu o nome de batismo, Oliúde José Ribeiro.
Capitão começou a aparecer no futebol em 85, quando foram disputados em Cascavel os Jogos Abertos do Paraná. A seleção local, comandada por Elói, conquistou o título com 11 jogos sem um gol contra. ‘‘O que devemos muito a ele, além do goleiro Maizena, do centroavante Sílvio e outros’’, lembra Elói. Foi ele quem fixou Capitão como volante.
Em 86, no Cascavel, Capitão teve sua primeira chance ao final de uma excursão pelo Sul do País, na disputa de divisão intermediária do campeonato nacional. O técnico era Chiquinho, que só o aproveitou no último jogo, contra o Criciúma (SC): havia vários jogadores contundidos ou suspensos. Capitão foi apontado como ‘‘o melhor em campo’’. Chiquinho, com seu sotaque gaúcho, cumprimentou-o: ‘‘Mas báh, negrinho, não sabia que tu jogavas esta bola...’’.
Capitão, embora tímido, não perdoou: ‘‘Professor, eu treinei tanto tempo com o senhor, e o senhor ainda não sabia...’’. Elói lembra, brincando, que Capitão comia muito, ‘‘no sentido que se quiser entender...’’, e bebia ‘‘uns cinco litros de leite por dia, mandados por seu pai, que tinha um sítio’’. No início, ele embarcava pela manhã em um velho ônibus, na localidade de Santa Lúcia (hoje município), treinava no Cascavel e retornava. Segundo Kruger, o ônibus ‘‘nem chegava a parar, e ‘descarregava’ o Capitão na beira da estrada coberta por nuvens de poeira...’’.
Capitão deixou o Cascavel em 88. Já na Portuguesa, em uma partida contra o Flamengo, o técnico Antonio Lopes determinou-lhe que ficasse ‘‘de olho aberto o tempo todo em cima de Zico’’. Em um descuido do volante, Zico fez 1 x 0. No vestiário, bronca em cima de Capitão. Veio o segundo tempo e ele achou que poderia ir ao ataque tentar o gol e ‘‘descontar’’ sua falha. Aí Zico fez 2 x 0. Na volta ao vestiário, mais bronca. E Capitão tentou desculpar-se, dizendo que havia procurado ficar de ‘‘olhos abertos’’, mas tinha dado ‘‘duas piscadinhas apenas...’’ - fatais.
Apesar de alvo de permanentes brincadeiras dos companheiros, o jogador ‘‘já demonstrava desde os tempos de amador uma força física e espiritual impressionante’’, diz Elói Kruger, observando também que ele raramente sofria algum tipo de contusão. ‘‘Capitão é extremamente regular, eficiente na marcação e nunca vi ele buscar a sombra no campo’’, avalia o técnico.