Regata chega ao fim para Cisne Branco
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quinta-feira, 20 de abril de 2000
Por Julio Cruz Neto
Salvador, 21 (AE) - Termina amanhã para o Cisne Branco a longa viagem do descobrimento. 45 dias depois de sair de Lisboa, o navio-veleiro da Marinha que leva a bordo a reportagem da AE, com patrocínio do Banco Bandeirantes, vai entrar na Baía Cabrália às 9h, participando de uma parada naval que promete muita pompa, com a participação dos demais veleiros, inclusive o navio-escola português Sagres e a Caravela Boa Esperança, réplica das antigas embarcações - além de navios de guerra.
A maioria dos veleiros já chegou. O primeiro, ontem, foi o trimarã Bahia, seguido pelo hobie cat Olé. E depois chegaram os veleiros que efetivamente disputaram a regata desde o início, na categoria ORC. O vencedor foi o português Marujo, que já liderava a disputa e tem tudo para se sagrar campeão no Rio, dia 30, quando terminar a quinta e última perna. Em segundo, ficou o Telemar, que tem a bordo Lars Grael e entrou na disputa apenas em Salvador, há três dias.
Lars contou que seu veleiro cruzou a linha de chegada à meia-noite de quinta para sexta-feira: "Foi uma excelente velejada, com bom nível técnico. Pegamos tempo ruim perto de Ilhéus e perdemos a pernada ali." Ele disse que quer ser o melhor daqui para a frente: "Vamos tentar melhorar para ganhar a pernada maior, até o Rio." O veleiro Mariposa, que disputa a regata desde Lisboa, chegou a Cabrália com um tripulante que demonstrou muita força de vontade e teimosia para exercer sua profissão. É Miguel Lacerda, um dos grandes velejadores portugueses e ex-campeão de caça submarina em seu país - o mesmo esporte que, quando ele tinha apenas dois anos de idade, matou seu pai.
"O mar sempre foi um fruto proibido lá em casa", lembra ele: "E por isso mesmo, sempre me atraiu. Comecei a fazer pesca submarina desde pequeno e passei a vida inteira no mar." Lacerda, que hoje tem 42 anos, pratica os dois esportes (vela e caça) desde os nove. Mas deixou de competir em 81, devido a problemas com a federação portuguesa.
Seu pai morreu num campeonato mundial, pegando uma garoupa, peixe abundante no Mar Mediterrâneo, que vive de 20 a 40 metros abaixo da superfície, explica Lacerda: "Nessa profundidade, tudo fica mais perigoso." Mas ele vingou o pai. E a memória se fez presente: "Quando peguei minha primeira garoupa, uma enorme nos Açores, lembrei dele." Biólogo de formação, Lacerda hoje em dia faz desenhos que reproduzem a vida marinha para instituições e museus, "como baleias em tamanho real". Já fez dezenas de expedições no Atlântico e uma volta ao mundo num iate de 50 pés. Ainda caça, mas só para comer: "Uns robalos na costa portuguesa." Do pai, seu ídolo, ele tem apenas duas recordações, "uma discussão, algo que fiz de muito errado, e um passeio de carro".