SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O grupo rebelde houthi, do Iêmen, lançou mísseis nesta sexta-feira (25) contra instalações da petrolífera estatal da Arábia Saudita Aramco -uma das maiores empresas do mundo no ramo. O ataque, em Jidá, ocorre a dois dias da etapa da Fórmula 1 na cidade. Não há relatos de vítimas, segundo o governo local.

De acordo com os rebeldes, apoiados pelo Irã, os bombardeios causaram incêndios em dois tanques da empresa. O ataque foi direcionado a uma estação de distribuição de produtos petrolíferos.

Mais cedo, a agência de notícias Reuters relatou uma enorme nuvem de fumaça preta sobre a cidade, às margens do mar Vermelho. Vídeos compartilhados em redes sociais, que não puderam ser verificados de forma independente, também mostraram incêndios em tanques de petróleo em uma instalação da Aramco nos arredores de Jidá.

A fumaça pôde ser vista de perto do autódromo, onde os treinos livres desta sexta sofreram atraso por causa do ataque. "Posso sentir cheiro de queimado. É o meu carro?", perguntou o atual campeão mundial, Max Verstappen, à sua equipe pelo rádio. A Fórmula 1 informou que a corrida, programada para domingo, ocorrerá normalmente.

A coalizão liderada pela Arábia Saudita confirmou os ataques e disse que os incêndios já haviam sido controlados no começo da noite (pelo horário local, à tarde em Brasília).

Os houthis ainda declararam que miraram "instalações vitais" em Riad, capital saudita. "Realizamos vários ataques com drones e mísseis balísticos", disseram em um comunicado. Segundo eles, foram 16 alvos.

Antes disso, a mídia estatal saudita relatou que uma série de ataques com drones e foguetes havia sido interceptada, bem como um foguete balístico lançado em direção à cidade portuária de Jazan, no sudoeste do país, quase na fronteira com o Iêmen.

Neste último episódio, porém, a intercepção não foi suficiente para conter todos os estragos: uma usina de distribuição de energia pegou fogo, segundo a imprensa local. Os ataques ocorrem na véspera do sétimo aniversário da intervenção militar do país na guerra civil do Iêmen.

Após as explosões, o Ministério da Energia disse que não se responsabilizará por qualquer falta de oferta de petróleo para mercados globais, culpando os rebeldes por uma eventual queda na oferta do produto. A Arábia Saudita é o maior exportador da commodity.

Os EUA, que apoiam a aliança saudita, condenaram os ataques e os chamaram de inaceitáveis.

O bombardeio desta sexta ocorre enquanto as Nações Unidas tentam garantir uma trégua temporária para o mês sagrado muçulmano (Ramadã), que começa em abril.

As negociações, porém, são cercadas de tensão. No último fim de semana, uma explosão provocada pelos houthis levou a uma interrupção temporária na produção de uma refinaria; um terminal de distribuição também foi atingido e pegou fogo. Antes disso, no dia 11, o grupo atacou uma refinaria em Riad, causando um pequeno incêndio.

Já em janeiro, o alvo dos rebeldes foi outro: Abu Dhabi, que também faz parte da coalizão que tenta consolidar o atual governo iemenita, apoiado internacionalmente. Na ocasião, um ataque houthi provocou um incêndio próximo ao aeroporto da capital dos Emirados Árabes Unidos e a explosão de três caminhões-tanque. O incidente deixou três mortos e seis feridos.

À época, houve uma contraofensiva. A aliança liderada pelos sauditas lançou uma série de ataques aéreos em Sanaa, capital iemenita controlada pelos houthis. Segundo os rebeldes, que detêm grande parte do norte do Iêmen, 20 pessoas morreram, entre elas um ex-militar houthi.

A guerra do Iêmen é vista como uma batalha por procuração entre a Arábia Saudita, país muçulmano sunita, e o Irã, xiita. Quem sofre, porém, é a população local. Segundo estimativa da ONU feita no ano passado, dos 30 milhões de habitantes do país, 21 milhões precisam de ajuda.

Além disso, o conflito já deixou 10 mil crianças mortas ou mutiladas, segundo a Unicef (fundo da ONU para a infância), e 11 milhões de crianças precisam de ajuda humanitária.

A coalizão interveio no Iêmen em março de 2015, depois que os houthis derrubaram o governo apoiado pelos sauditas no final do ano anterior. Os rebeldes, por sua vez, dizem que estão lutando contra um sistema corrupto e contra a agressão estrangeira.