Real não perde a prepotência
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 10 de janeiro de 2000
Por Cosme Rímoli
São Paulo, 10 (AE) - Nem depois de prometerem vencer por cinco ou seis gols de diferença ao Raja Casablanca, os jogadores do Real Madrid esqueceram a prepotência. Ironizando acreditavam que a vitoria por 3 a 2 havia sido suficiente para chegar à final do Mundial. Não assumiam o vexame.
E a Fifa deixou as coisas ainda mais difíceis aos espanhóis. O técnico Vicente del Bosque teve de voltar atrás à sua determinação de levar sete jogadores de volta à Madrid imediatamente pensando na partida contra o Mallorca na Segunda-feira. A Fifa proibiu.
Roberto Carlos, expulso no jogo de hoje, era a imagem do descaso. Não se mostrava nenhuma preocupação com a chance do Real não decidir o título. Ao saber que estava proibido de voltar à Espanha, sorriu. "Melhor, ganhei três dias de férias.
Como não posso jogar na última rodada, vou aproveitar para ir à praia."
Da expulsão, Roberto explicava sem muita vontade de falar: "Fui um pouco rude. O rapaz quis debochar fazendo embaixadinha. Fui dar um tapa na bola para recomeçar o jogo logo e o acertei. Depois ele fingiu que estava machucado e tomou um bico do Guti. O Guti tinha toda a razão de chutá-lo."
A única preocupação de Roberto Carlos era com a sua imagem. Não com a imagem do Real, mas com a do Corinthians. "Eu quero que fique registrado que não respondi às provocações dos torcedores corintianos. E eu acho que o Corinthians já está na final do Mundial", dizia deixando cada vez mais claro que pretende mesmo jogar no Parque São Jorge no futuro.
Um pouco mais decepcionado estava Karembeu. O jogador que foi expulso e ainda falhou nos dois gols dos marroquinos dizia que não estava preocupado com a vitória apenas por 3 a 2 contra o Raja. "Eu estou triste porque não vou jogar no Maracanã, um velho sonho meu. Contra os marroquinos, só posso falar que foi uma partida normal. Eles mostraram que tem bom time. O importante foram os três pontos." O técnico Vicente del Bosque em vez de falar sobre a decepção com o futebol do Real Madrid preferia o caminho mais fácil. "O Raja jogou com o coração. Valorizou a nossa vitória. Entramos em campo três vezes, ganhamos duas e empatamos uma. Fizemos nossa obrigação. Agora todas as ficha estão com o Corinthians."
Sávio também não queria ver as falhas do seu time. "Para o Raja jogar de igual para igual com o Real foi como se ganhassem um título. Sabia que o jogo iria ser difícil e que eles se fechariam na defesa. Mas eles atacaram? É verdade. Mesmo assim fomos melhor e ganhamos com dois jogadores a menos. Está de bom tamanho."
Apenas um atleta teve coragem de criticar o time: o jovem Morientes. "Fomos muito lentos no primeiro tempo e depois no segundo tivemos expulsões infantis. Nossos jogadores não podem agir como meninos. Pelo que atuamos não merecemos uma diferença maior."
O único jogador do Real que voltará para a Espanha amanhã será o atacante Anelka, que torceu o joelho. A Fifa exigiu que todos os jogadores permanecessem no Brasil. Mesmo os expulsos e suspensos. "Ninguém vai voltar e pronto. Vamos aproveitar para treinar pelo menos para o Espanhol", dizia Vicente del Bosque.
A equipe embarcou hoje para o Rio de Janeiro em um vôo fretado
às 23h30. Valeu a ironia do treinador do Raja Casablanca, Fahti Jamal. "Os jogadores do Real falaram que iriam ganhar por seis gols de vantagem. Eu acho que eles tinham a obrigação de ganhar com essa diferença. Afinal, são ou não são o poderoso Real Madrid? Parece que não."