SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Rafael Ramos, lateral direito do Corinthians, foi preso em flagrante na noite deste sábado (14) após ter sido acusado de praticar uma ofensa racista contra o lateral Edenilson, do Internacional, durante empate entre as equipes por 2 a 2, pelo Campeonato Brasileiro, no estádio Beira-Rio, em Porto Alegre.

De acordo com o delegado Carlo Vitarelli, o atleta português foi detido no posto policial dentro do estádio. O jogador foi liberado mediante pagamento de fiança por parte do clube, estipulada em R$ 10 mil.

"Ele foi preso. Ele cometeu um crime de injúria racial e foi preso, mas é afiançável. Como ele pagou, vai responder em liberdade. Claro, se ele não pagasse a fiança, poderia ser recolhido no presídio", afirmou o delegado.

Edenilson, por sua vez, manifestou-se pelo Instagram. Ele começou dizendo que "sabe o que ouviu" e que procurou o atleta corintiano "para que ele assumisse e me pedisse desculpas, afinal todos nós erramos e temos o direito de admitir". No entanto, escreveu ele, "o mesmo continua a dizer que eu havia entendido errado. Eu não entendi errado, o procurei pelo respeito que tenho por alguns integrantes do Corinthians, e para que ele pudesse ter uma chance de se redimir."

Após ser liberado, Ramos afirmou que tudo foi um mal-entendido. "Estou de cabeça e consciência limpa. Foi tudo um mal-entendido entre eu e o Edenilson. Ele entendeu errado. Conversei com ele, conversamos, apertamos a mão", disse. "Ele [Edenilson] sentiu um pouco de receio de passar por mentiroso. Eu expliquei que ele não é um mentiroso, que apenas entendeu errado as palavras que eu falei".

O ato de injúria racial ocorreu aos 30 minutos do segundo tempo, quando os dois jogadores se desentenderam após uma disputa de jogo. Quando a bola saiu para a lateral, o atleta colorado se dirigiu ao árbitro Braulio da Silva Machado para relatar que teria sido chamado de "macaco".

O duelo chegou a ficar paralisado por cerca de cinco minutos. Durante a confusão, Edenilson foi falar com o jogador do time alvinegro, que negou a ofensa.

Após a partida, os jogadores do time gaúcho deixaram o gramado sem dar entrevistas. Cerca de uma hora após a partida, o clube gaúcho divulgou nota para repudiar o ocorrido. "É inadmissível que ainda ocorram fatos desse tipo em 2022, não há espaço para o racismo em nossa sociedade. O Clube do Povo reitera que repudia todo e qualquer ato de preconceito e apoia o seu atleta."

Segundo o presidente do Internacional, Alessandro Barcellos, Edenílson prestou depoimento à Polícia Civil para registrar a ocorrência. "O Edenilson relata que foi ofendido de uma forma muito forte. A gente tem confiança que o Edenilson, pela pessoa que é, jamais faria desse episódio algo diferente do que ele está relatando", afirmou o cartola.

Ainda de acordo com o dirigente, após conversar com o adversário, o jogador colorado tomou a decisão de registrar a ocorrência. "O Edenilson quis ouvir do atleta [Rafael Ramos] um pedido de desculpas, ele pediu por alguma possível ofensa, mas não pela injúria racial, então ele optou por fazer a denúncia."

O vice-presidente do Internacional, Emílio Papaléo, acrescentou que o clube dará todo o suporte ao atleta.

"A verdade é que nós acreditamos no nosso jogador, nos solidarizamos com ele e, como clube, como uma instituição, estamos apoiando o Edenilson em qualquer atitude que ele queira tomar", afirmou.

Já o diretor de futebol do Corinthians, Roberto de Andrade, afirmou que o jogador do time alvinegro foi ao vestiário do Internacional e conversou com Edenilson. Segundo o dirigente, o português disse que havia falado "mano, caralho" e que o atleta do clube gaúcho teria entendido errado.

"Ele [Edenilson] entendeu outra coisa, por isso deu todo esse fato. Ele [Rafael] pediu desculpas se ele [Edenilson] tinha entendido outra coisa", acrescentou o cartola.​

Em nota, o Corinthians afirmou que repudia o racismo e que ouviu de seu atleta uma versão diferente sobre o ocorrido. "Em decorrência da denúncia feita pelo atleta colorado, a lei obriga que se trate o caso como flagrante, seguido de detenção. O pagamento de fiança não implica admissão de culpa, permitindo ao atleta que se defenda em liberdade no inquérito." ​

Segundo o site Globoesporte.com, Rafael Ramos esperou a chegada de um advogado contratado pelo clube paulista, Fabiano Serveira, para prestar seu depoimento à polícia.

No início da madrugada de domingo (15), Ramos se manifestou novamente, via redes sociais, reafirmando não ser racista e dizendo que o caso poderia servir para estimular o combate ao racismo.

"Há muito pouca coisa nas nossas vidas de que temos certezas absolutas. Esta é uma delas. Não fui, não sou e nunca serei racista. [...] Que este caso tenha servido para que este tema seja novamente levantado. E que possamos todos reafirmar: racismo não!", publicou o jogador do Corinthians.

Ainda no gramado do Beira-Rio, minutos após o fim do jogo, o atacante Jô foi o primeiro a falar a respeito do caso. Segundo ele, Rafael Ramos negou ter usado a palavra "macaco". "Disse que foi outra palavra em português de Portugal", afirmou o jogador corintiano.

Na súmula do jogo, o árbitro Braulio da Silva Machado relatou o que foi informado pelo jogador "Edenilson Andrade dos Santos, que seu adversário nº 21, sr. Rafael Antônio Figueiredo Ramos, havia proferido as seguintes palavras para ele: 'foda-se macaco'", escreveu o juiz.

No texto, o árbitro escreveu ainda que Rafael afirma que "houve um mal entendido devido ao seu sotaque [português] e diz ter proferido as seguintes palavras 'foda-se caralho'."

O técnico do time paulista, o português Vitor Pereira, disse que acredita na versão de seu compatriota. "Eu acredito nas pessoas. Acredito no Rafael e no que ele me disse. Pelo que conheço, da educação do Rafael, acho praticamente impossível ele ter um comportamento como o Edenilson diz que teve", relatou. "Eu falei com o Edenilson, acredito que ele percebeu da forma como entendeu. Já tive essa experiência. Português e o [português] brasileiro não são as mesmas línguas."

Já o técnico do Inter, Mano Menezes, comparou a gravidade da acusação de Edenilson com a suposta fala de Rafael Ramos.

"Cabe ao Edenilson dar continuidade a essa atitude dele, porque é uma atitude, também, bastante séria. Tão sério quanto o falar é você dizer que alguém falou sobre você. Então, vamos esperar que as coisas tomem o rumo que devem tomar", disse o comandante.