Há 22 anos à frente do Comitê Olímpico Brasileiro, Nuzman será indiciado por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa
Há 22 anos à frente do Comitê Olímpico Brasileiro, Nuzman será indiciado por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa | Foto: AFP



Rio – Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) há 22 anos, e Leonardo Gryner, ex-diretor de operações do Comitê Rio-2016 e braço direito de Nuzman, foram presos nesta quinta-feira por agentes da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro. Nuzman é suspeito de intermediar a compra de votos de integrantes do Comitê Olímpico Internacional (COI) para a eleição da capital fluminense como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Ele foi detido em sua casa, no bairro do Leblon, na zona sul da cidade, por volta das 6 horas.

De acordo com o MPF, os dois presos serão indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. "Carlos Nuzman e Leonardo Gryner foram os agentes responsáveis por unir pontas interessadas, fazer os contatos e azeitar as relações para organizar o mecanismo do repasse de propinas de Sérgio Cabral (ex-governador do Rio, preso desde novembro de 2016, condenado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa) diretamente a membros africanos do COI, o que foi efetivamente feito por meio de Arthur Soares (o empresário "Rei Arthur")", afirmou a Procuradoria.

"A gente está demonstrando que o Brasil não é mais um paraíso de bandidos e corruptos. A operação serviu para prender pessoas que pensavam que nunca poderiam responder por seus atos. Enquanto os medalhistas buscavam a tão sonhada medalha de ouro, dirigentes do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) guardavam seu ouro na Suíça", afirmou a procuradora Fabiana Schneider.

Após as prisões, o MPF apontou que Carlos Arthur Nuzman teve crescimento "exponencial" de seu patrimônio entre 2006 a 2016. Na denúncia dos procuradores federais, a ocultação de bens, incluindo 16 barras de 16 barras de ouro depositadas em um cofre na Suíça, motivaram a prisão.

A investigação conjunta do MPF e do Ministério Público Financeiro de Paris, na França, começou após denúncia do brasileiro Eric Walther Maleson, presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG), feita aos procuradores franceses. A partir daí, apurou-se a relação entre viagens dos empresários Arthur Soares, o "Rei Arthur", e Eliane Cavalcante para a África em 2009, além de transferências bancárias para a Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês).

De acordo com o MPF, Rei Arthur direcionou US$ 2 milhões de propina destinada ao ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), para Papa Massata Diack, filho do presidente da IAAF, Lamine Diack. O objetivo, de acordo com a investigação, era garantir o voto do dirigente senegalês ao Rio de Janeiro na eleição, realizada em Copenhague, na Dinamarca, em 2009.

OUTRO LADO
Segundo o advogado Nélio Machado, que defende o presidente do COB, "há um habeas corpus já impetrado que não foi julgado lamentavelmente". O defensor afirmou que iria se inteirar dos fatos e fará um pronunciamento em seguida. "Vou ver quais são os fundamentos dessa medida dura e que não é usual, pelo menos dentro dos padrões do devido processo legal". A defesa de Leonardo Gryner não foi encontrada pela reportagem.