É só o sol começar a ''baixar'' e a turma vai chegando. Todos os finais de tarde, o campo de malha do Jardim Igapó, que fica no encontro das ruas Hungria e Romênia, em Londrina, recebe dezenas de jogadores que se aglomeram a espera da sua vez de mostrar a pontaria e habilidade em uma atividade que já virou tradição no bairro.
O aposentado José de Almeida, de 79 anos, conta que o jogo de malhas faz parte da rotina do bairro há mais de 15 anos. ''No começo, a gente se reunia e jogava na terra batida mesmo, era bastante improvisado, mas com o tempo o pessoal se organizou e foi melhorando'', lembra ele, que é apontado pelos companheiros como o principal responsável pela fundação do campo.
Para alegria da turma, há dois anos o local ganhou uma nova cara. Eles se organizaram, arrecadaram um pouco de dinheiro de cada jogador e conseguiram a ajuda de um candidato a vereador para reformar a pista e instalar os bancos. A prefeitura também colaborou com a colocação de três postes de iluminação que permitem algumas horas a mais de brincadeira depois que o sol vai embora. ''Agora a gente só vai para casa quando a fome aperta'', brinca o autônomo Eloir Guides, 55.
Além de estimular a prática do exercício físico, o jogo de malhas tornou-se um ponto de encontro para os moradores mais antigos da região, que acima de tudo procuram cultivar a amizade. ''Aqui todo mundo é amigo e conversa de tudo'', revela Eloir. Mas nem isso impede que algumas divergências aconteçam no decorrer dos torneios realizados diariamente. ''Às vezes acontece uma briguinha, mas depois de dez minutos estão todos brincando novamente'', completa.
E até as esposas, que poderiam encontrar motivos para reclamar da ausência dos maridos em casa, apóiam a prática da modalidade. ''No começo, minha mulher estranhava um pouco, mas depois acostumou. Ela fala que é melhor estar aqui que no boteco'', comenta José de Almeida.
O jogo é tão empolgante que já começa a atrair também a ala mais jovem do bairro. Tanto que já não é tão incomum ver alguns jovens desafiando a pontaria de quem já tem anos de prática. ''É difícil de ganhar deles, mas de vez em quando eles bobeiam e eu consigo. Aos poucos a gente vai pegando o jeito'', conta o mecânico Rodrigo Macedo, de 26 anos, que pelo uma vez na semana vai ao local jogar.
A participação dos jovens na brincadeira é vista com bons olhos pelos mais experientes, que pretendem assim divulgar e dar continuidade ao esporte. ''É importante que eles (jovens) se interessem. Nós temos o maior prazer em ensinar, pois queremos que o jogo continue por muito tempo aqui e em outros pontos da cidade também'', diz Francisco Azedo, 60, um dos mais apaixonados pelo esporte.
Para quem se interessar, eles deixam o convite e algumas dicas de como ''ficar craque na malha''. ''Assim como em outros esportes, é preciso estar concentrado e fazer o movimento correto, com o corpo equilibrado e o braço firme. Também não pode entrar na provocação do adversário'', aconselha Idevaldo da Silva, o Baixinho, dono da pontaria mais afiada, segundo o grupo.