SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A primeira coisa que José Antonio Liberato, o Maizena, 54, pensou ao chegar no Elosport, em fevereiro deste ano, foi na possibilidade de fazer o time melhorar. Piorar seria impossível.

A equipe de Capão Bonito já havia sido a pior do futebol paulista no ano passado. Jogou dez vezes, perdeu todas. Na classificação geral, ocupou a última colocação da Segunda Divisão ""apesar da nomenclatura, é o quarto e mais baixo patamar do futebol profissional do estado.

O Elosport não ganha uma partida em competições oficiais desde 8 de julho de 2018. O último gol marcado faz mais de um ano. Aconteceu em 8 de junho de 2019. E saiu em uma partida na qual o time perdeu por 10 a 1 para o Marília.

"Sei que faz muito tempo que o Elo [apelido do Elosport] não ganha um jogo. Mas eu gosto de desafio. Nós sabemos como fazer o trabalho e não vim para evitar ser o pior. Eu vim para subir de divisão", afirma Maizena, ex-atacante que passou por clubes do interior paulista e busca o primeiro acesso como treinador.

Quando teve essa chance, o azar bateu à porta. Técnico do Atlético El Mensu, do Paraguai, foi vice-campeão invicto da terceira divisão e não subiu, ele afirma, porque o maior rival do clube, o Deportivo Marina, teria entregado um jogo.

É a mesma falta de sorte que parece perseguir também o Elosport. O clube foi criado em 1993 para representar a Elotec, a construtora do seu fundador, Irineu Rodríguez Gonzalez. Desde a criação, em apenas duas temporadas não esteve no último patamar do estado (2002 e 2004), mas isso aconteceu por desistências de outras equipes, não pelos resultados em campo.

A aposta era que em 2020 tudo poderia ser diferente.

"Não havia elenco, o clube estava abandonado. Fizemos todas as reformas estruturais necessárias. Contratamos jogadores. Iniciamos o trabalho em fevereiro com técnico novo, atletas novos. Era um recomeço para o Elo para sair desse estigma das campanhas dos últimos anos", afirma Robson Malta, empresário que assumiu o futebol profissional.

Malta tinha tudo planejado e os jogadores concentrados desde fevereiro, em preparação para a Segunda Divisão, que começaria em abril. Mas a pandemia da Covid-19 impediu o início do campeonato e freou aquele que gestor e técnico acreditavam ser o ano da redenção do Elosport.

"O que a federação [paulista] nos diz é que vai ter campeonato. Só não sabemos a data", lamenta Malta, que passou por outras equipes paulistas, como Andreense e Atibaia. Este último está na A2, a divisão de acesso à elite do estado.

Em maio, enquanto aguardava novidades sobre a retomada do futebol, ele se sentiu mal e foi levado ao hospital. Descobriu que estava com dengue e foi internado. Quando se recuperava, os médicos diagnosticaram que havia sido infectado pelo novo coronavírus. Hoje está recuperado.

"Eu vim para cá com a obrigação de reerguer o clube. Quando a equipe estava quase formada, vem esse baque do coronavírus. É muito ruim isso, mas paciência", diz o zagueiro Rui, 21, contratado para a temporada que, para o Elosport, se resume ao Paulista.

Malta e seus sócios (o atacante Edílson, ex-Corinthians e Palmeiras, tem participação em jogadores) não desistiram do projeto. Rui é um dos 26 atletas confinados em dois alojamentos do clube desde fevereiro.

"Os meninos não saem daqui. Nem com a flexibilização. A gente faz um trabalho psicológico com eles. Precisam saber que isso é necessário para que vençam na vida", diz o técnico Maizena.

Houve mais percalços. Quinze jogadores foram dispensados no início do trabalho. Malta conta que alguns deles foram flagrados consumindo drogas no alojamento. Não diz quem são, nem a substância.

O que gestor, treinador e atletas esperam é que o trabalho iniciado antes dos concorrentes e a estrutura do clube sejam suficientes para enterrar qualquer falta de sorte. Na divisão mais pobre do estado, a agremiação é uma das raras que tem estádio e centro de treinamento próprios.

O salário médio do elenco é de R$ 1.500 mensais. Todo o grupo é sub-23, limite para inscritos na Segunda Divisão.

"O pessoal fala das campanhas anteriores, mas eu não gosto de falar em azar. Quem faz o nome do clube são os profissionais que estão aqui. Os jogadores, comissão técnica, direção. Chegou a hora de mudar isso", finaliza Maizena.