SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A brasileira Amanda Lemos, 36, mais conhecida como Amandinha, enfrenta neste sábado (16) a americana Michelle Waterson, pelo UFC. Nas horas que antecedem o confronto, Lemos, de 1,63 m de altura, terá de perder 10 kg para se enquadrar no limite da categoria peso palha (até 52,6 kg). O montante representa quase 20% da massa corporal dela.

Após a pesagem oficial, que ocorre na sexta (15), a meta é recuperar 6,4 kg para chegar ao combate com 59 kg, de acordo com Peterson Pepe, treinador de Lemos.

A perda rápida de peso não é uma exclusividade da categoria feminina. Porém, a falta de estudos e de estratégias específicas para as atletas mulheres preocupa especialistas.

Uma pesquisa desenvolvida pelas universidades de São Paulo, de Birmingham e de Nottingham e publicada em 2019 mostrou que as lutadoras perdem, proporcionalmente, tanto peso quanto os homens nos momentos que antecedem a pesagem pré-luta.

Para chegar ao resultado, os pesquisadores compilaram dados de massa corporal de 4.432 atletas de boxe, judô, MMA (artes marciais mistas, na tradução), taekwondo e luta greco-romana tabulados em estudos anteriores.

De acordo com o levantamento, os atletas de MMA passam, em média, pelas maiores variações, com emagrecimento de 7,4 kg, seguido de ganho de massa na mesma ordem. O gênero do lutador não teve impacto relevante na medida.

Mas outra conclusão da pesquisa foi justamente a falta de representatividade feminina nesse tipo de estudo. Do total de atletas que tiveram os dados compilados, apenas 156 eram mulheres. Essa falta de um olhar específico para as lutadoras pode ser perigosa.

Em artigo recente, Reid Reale, pesquisador da área de nutrição esportiva com foco em esportes de combate da Universidade de Shangai, afirmou que que há um desequilíbrio nas estratégias pré-luta, pois homens e mulheres adotam práticas semelhantes para perder e recuperar peso, sem considerar diferenças fisiológicas existentes. Isso pode colocá-las em risco, já que não há conhecimento consolidado sobre o tema.

"As estratégias de perda de peso para mulheres devem ser consideradas caso a caso, levando em conta as individualidades de cada atleta", conclui Reale. Sem acompanhamento adequado, as lutadoras podem ter dificuldades para se reidratar e recuperar massa muscular, o que pode ocasionar perda de força, resistência, além de danos à saúde.

Especialista em esportes de combate, o professor USP Emerson Franchini diz que a maior dificuldade para compreender o desempenho das atletas do sexo feminino está relacionada às variações hormonais decorrentes do ciclo menstrual.

"Em alguns estudos, esse controle é importante para que se possa compreender ajustes fisiológicos", explica o professor. Por outro lado, segundo Franchini, quando a variável do gênero não é importante, a análise pode ser feita de forma similar ao que ocorre com atletas do sexo masculino.

Ele esclarece também que há diferença entre as modalidades: no MMA, entre a pesagem e a competição se passam de 24 a 36 horas, sem limite de ganho de peso pós-pesagem. "Assim, os atletas reduzem um percentual muito maior da massa corporal e recuperam uma quantidade também muito mais acentuada do que no judô."

Franchini traz a luta japonesa como exemplo porque é a modalidade na qual ele concentra seus estudos. Ele e outros quatro pesquisadores da Escola de Educação Física e Esportes da USP identificaram uma tendência dos judocas que venceram suas lutas na Olimpíada de Tóquio terem ganhado maior quantidade de massa corporal entre as disputas individuais e por equipes do que aqueles que perdiam suas lutas. As equipes no judô são compostas por homens e mulheres em igual proporção.

O caso do judô pode servir como referência, de acordo com Franchini. "Como a Federação Internacional de Judô passou a dar a mesma importância para os dois sexos, isso gerou um efeito positivo de investimento mais igualitário, e o interesse de pesquisadores também aumentou em relação às disputas das atletas do sexo feminino".

O professor, contudo, previne que "alguns métodos adotados para perda de massa corporal, como laxantes, diuréticos, sauna e coletes de borracha, podem ser danosos à saúde". Os atletas ainda ficam sujeitos a altas cargas de estresse.

"A recuperação tem influência sim na performance dos atletas, quem tem uma melhor recuperação com acompanhamento tem vantagens, mostram pequisas", afirma Peterson Pepe, treinador de Lemos.

Em sua preparação, Amandinha recorre a 11 treinos por semana, dieta acompanhada por nutricionista e desidratação --com vários métodos, como sauna, mantas térmicas com toalhas e banheira quente. No instagram da atleta, é possível encontrar vídeos dela no processo.

Amandinha iniciou a carreira no peso galo (até 61 kg) e nele foi campeã do Jungle Fight --maior competição nacional da modalidade. Conforme explica Pepe, a mudança de categoria tem impactos na vida do atleta. "Hoje, ela tem outra rotina para manter a forma e o peso baixo. Foi aí que entraram endocrinologista, nutricionista e outros profissionais de saúde".