Seja no futsal ou no basquete, Pato Branco (Sudoeste) se tornou modelo na captação de recursos para financiar equipes que disputam a elite das competições nacionais. As duas recebem recursos públicos da prefeitura que giram em torno de R$ 150 mil para cada uma, além de custeio com transporte e outros auxílios estruturais, como a cessão do ginásio de esportes, mas o grosso do investimento parte do empresariado local.

O secretário municipal de Esportes e Lazer, Paulo Vicente Stefani, relata que tudo começou com os gestores do futsal, que fizeram reunião com membros da prefeitura e empresários da cidade. “A gestão é compartilhada. A comissão técnica cuida da equipe, e a gerência dos recursos é realizada por um conselho composto por todos os patrocinadores. O time chegou ao êxito da conquista da Liga Nacional e da Taça Brasil. Nenhuma equipe paranaense ganhava a Taça Brasil desde 1994”, aponta.

O presidente do Pato Futsal, Luiz Sérgio Lavarda, destaca que os jogos da equipe pela Liga Nacional de Futsal e Copa do Brasil são transmitidos ao vivo e possuem um retorno de mídia que pode ser calculado em torno de R$ 70 milhões. “Foram 26 jogos transmitidos do Pato Futsal. São mais de 60 horas de transmissão ao vivo falando o nome do município de Pato Branco. É um retorno imensurável”, afirma. Hoje os moradores do município circulam com uniformes tanto do futsal como também do basquete. “A cidade voltou a ter orgulho”, destaca Lavarda, que foi um dos ídolos da cidade como jogador. Pato Branco, vale lembrar, é a cidade natal de dois ídolos do futebol de campo: Rogério Ceni, atual treinador do Fortaleza, e o atacante Alexandre Pato.

Luiz Sérgio Lavarda ressalta que o orçamento do Pato Futsal gira entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões anuais. O time conquistou no ano passado os títulos da Liga Nacional e da Taça Brasil de Futsal. Parte das receitas vem da comercialização de placas de publicidade. O Pato Futsal também possui o programa sócio-torcedor, com aproximadamente 600 membros que pagaram R$ 720 à vista para poder assistir a mais de 40 jogos com desconto de 20% sobre o valor do ingresso adquirido na bilheteria. “Com a camisa e os benefícios de descontos, sai quase de graça”. O time também possui lojas que comercializam produtos relacionados ao time, como camisetas e canecas.

INSPIRAÇÃO

O exemplo motivou outras modalidades a seguirem o mesmo caminho. “Uma coisa bacana é que na aba do futsal o basquete também se fortaleceu, e isso mobilizou o handebol e o voleibol, que estão surgindo na cidade. Isso é o que mais nos orgulha. Abrimos as portas e mostramos que é viável”, destaca Lavarda.

O presidente do Pato Basquete, Marcelo Pastorello, é também patrocinador da equipe por meio de sua empresa GT Combustíveis. “Temos 14 patrocinadores master bem pulverizados e que pagam valores que variam entre R$ 5 mil e R$ 25 mil por mês para ter o direito de ver a sua marca estampada na frente do uniforme”, enaltece.

Ele afirma que o time tem também o programa empresa amiga, dividido em duas categorias. “Na primeira, a empresa participa do backdrop em que é realizada a entrevista e do banner no ginásio, e na segunda categoria também participa do backdrop, do banner no ginásio e de inserções nas mídias sociais da equipe e pode fazer panfletagem no dia do jogo e montar showroom para distribuição de brindes e cestas premiadas”, destaca. O time também comercializa anúncios nas tabelas do ginásio, com valores que variam entre R$ 2 mil e R$ 5 mil, dependendo da posição. “Comercializamos também anúncios no telão por R$ 4 mil”, afirma. O mascote Dunk também tem o seu patrocínio, assim como o adesivo de quadra gera receita e até o rodo pode ter anúncio de empresa. “Agora vamos criar um túnel no corredor, no qual também vamos vender espaços”, adianta o dirigente.

O vice-presidente da Acepb (Associação Comercial e Empresarial de Pato Branco), Roberto Elias da Silva, destaca que o papel da associação empresarial é como uma grande incentivadora. “Muitos patrocinadores fazem parte do quadro de associados e do núcleo de divulgação. São empresas que auxiliam na venda do sócio-torcedor e trabalham nos jogos”, aponta. Silva, por exemplo, foi um dos patrocinadores do Pato Futsal na conquista do título nacional com sua empresa. “Foi bem bacana. Aproveitamos para divulgar a nossa marca nacionalmente”, destaca.

BOX

Faltam recursos e patrocinadores

Lucio Flávio Cruz

Reportagem Local

A falta de recursos e a dificuldade em encontrar patrocinadores são um fenômeno que atinge muitas equipes do esporte paranaense. Times que já foram protagonistas em competições nacionais hoje lutam para melhorar a estrutura e poder voltar aos tempos áureos. Bicampeão paranaense em 2007 e 2008 e semifinalista da Liga Nacional no ano seguinte, o Umuarama Futsal disputou pela última vez a principal competição do futsal brasileiro em 2016. O clube tem como meta voltar a jogar a Liga em 2020.

“Ter um calendário apenas com o Paranaense não dá suporte. Estamos nos reestruturando e pagando dívidas passadas para encaminhar a nossa volta no ano que vem”, afirmou o supervisor da equipe, Marcos Paulo Tavares.

Existem três caminhos para se disputar a Liga Nacional de Futsal. Por convite, alugando uma vaga ou comprando uma franquia, que hoje custa algo em torno de R$ 600 mil. De acordo com Tavares, o orçamento mensal para ter um time competitivo na Liga é de R$ 80 mil. O Umuarama tem uma folha atual de R$ 35 mil.

“O nosso apoio hoje é muito menor do que nos anos anteriores. Para voltar à Liga precisamos de um patrocinador master. A nossa maior receita vem do município, para a manutenção do nosso projeto social, que subsidia também a equipe principal”, revelou o supervisor.

CAMPO MOURÃO

Uma das equipes mais tradicionais do basquete paranaense, Campo Mourão (Noroeste) também sofre com a falta de dinheiro para se manter na elite nacional. Após disputar o NBB nas temporadas de 2016/17 e 2017/18, edição em que foi rebaixado, o clube não conseguiu voltar mais à principal competição do basquete brasileiro.

Uma das fundadores da LNB (Liga Nacional de Basquete), a equipe foi convidada a voltar ao NBB nesta temporada, mas abriu mão do convite por falta de estrutura. “Não era o momento de nos aventurar e não conseguiríamos ter uma equipe competitiva. Muitas vezes é melhor dar um passo atrás para se estruturar do que perder toda a credibilidade de um trabalho longo”, ressaltou o presidente do clube, Edson Hirata.

Para jogar o NBB os clubes precisam apresentar uma garantia financeira de pelo menos R$ 1,8 milhão. Hirata lembrou que nos anos em que disputou a Liga a equipe tinha patrocínios importantes de estatais paranaenses, algo que não existe atualmente. “É difícil convencer o empresário dos benefícios de uma parceria no esporte, mesmo com um retorno de mídia garantido. Como exemplo, na nossa última participação no NBB tivemos 11 jogos transmitidos ao vivo pela TV”, citou o dirigente.

Além da equipe adulta, Campo Mourão mantém um trabalho nas categorias de base desde o sub-8 até o sub-18 e ainda um projeto social com mais de 500 crianças de escolas públicas basicamente com recursos da prefeitura municipal. “Temos encaminhado dezenas de projetos, mas os retornos são pequenos”, lamentou Hirata.