SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O adiamento da Olimpíada de Tóquio, agora oficializado para o período de 23 de julho a 8 de agosto de 2021, obrigou todos os envolvidos no movimento olímpico a iniciarem uma reorganização de seus planejamentos.

Para os atletas, o isolamento forçado pela pandemia de coronavírus ainda causa incertezas com relação ao retorno dos treinos e competições. Com isso, só há neste momento duas certezas para eles: a de que os Jogos serão disputados e que, inevitavelmente, eles estarão um ano mais velhos do que imaginavam quando começaram a se preparar para o Japão.

Bicampeão olímpico, o velejador Robert Scheidt, que conseguiu classificação, terá 48 anos na Olimpíada. A volante da seleção brasileira de futebol Formiga terá 43 quando a chama olímpica acender a pira no Estádio Nacional de Tóquio. Ambos vão para a sua sétima edição de Jogos Olímpicos.

"Não vejo uma grande diferença de competir com 45, 46, 47 ou 48. Lógico que eu gostaria de ter 25 anos de idade, estar no auge da carreira, mas eu fiz a Olimpíada do Rio [em 2016] com 43 e me comprometi a fazer a do Japão com 47. Neste ano a mais, vou poder identificar onde preciso melhorar", diz Scheidt, à Folha.

Até hoje, nenhum atleta brasileiro disputou sete edições da Olimpíada. O velejador, atleta mais condecorado do país, com cinco medalhas olímpicas, poderá também ampliar o próprio recorde com um novo pódio em Tóquio.

Em fevereiro do ano passado, Robert Scheidt anunciou que deixara sua aposentadoria da classe laser, decidida após a Rio-2016, para retornar à categoria, uma das que mais exigem fisicamente dos atletas.

Atual campeão olímpico da modalidade, o australiano Tom Burton tinha seis anos de idade quando Scheidt conquistou seu primeiro ouro, em Atlanta-1996. De lá para cá, o paulista faturou mais uma medalha dourada, além de duas pratas e um bronze.

Com bons resultados no circuito mundial, incluindo um 12º lugar no Campeonato Mundial da laser disputado no Japão, Scheidt conseguiu a classificação à sua sétima Olimpíada.

"Tenho a experiência de ficar um tempo ausente de competições e voltar, já fiz muitos 'comebacks' na minha carreira, porque tive várias mudanças de categoria e fiquei parado por lesão. Para mim não é novidade ter que dar uma parada e alterar radicalmente o meu calendário de competições, já estou acostumado", diz o velejador.

A Olimpíada de 1996, em Atlanta, foi histórica não só para Robert Scheidt, mas também para Miraildes Maciel Mota, outra atleta veterana que deverá marcar presença em Tóquio-2020 (a organização manteve o nome, apesar do adiamento para 2021).

Formiga, como ficou conhecida a meio-campista, estreou em Jogos Olímpicos na edição dos Estados Unidos. De lá para cá, em seis disputas, ajudou a seleção brasileira a conquistar duas medalhas de prata (Atenas-2004 e Pequim-2008), além de um quarto lugar na Rio-2016.

A jogadora do Paris Saint-Germain (FRA), que se preparava para chegar com 42 em Tóquio, comemorou a decisão do adiamento. Enquanto lida com as limitações do confinamento -comprou um quebra-cabeça da Torre Eiffel para passar o tempo, por exemplo-, a volante diz que seu planejamento para chegar bem no ano que vem não sofrerá nenhuma grande mudança.

"Fiquei super feliz [com o adiamento] e não foi nem pensando se em 2021 eu vou ter condições ou não. Não tinha mais como manter para julho. Eu sempre me cuidei e, se estou na seleção até hoje, como digo para as meninas, não é pelos meus lindos olhos verdes", brinca Formiga, que tem conseguido sair ao menos uma vez por semana para correr em um parque próximo de sua casa em Paris.

"Meu desejo não é estar na Olimpíada só por estar, mas para ajudar a seleção a conquistar algo que nos escapou há algum tempo. Se a Pia [Sundhage, técnica da seleção] entender que eu não tenha que ir, vou compreender. Mas eu tenho que fazer a minha parte para chegar lá", diz.

Mais ou menos como Robert Scheidt, Formiga se despediu da seleção brasileira após a Olimpíada de 2016. Contudo, menos de dois anos depois, foi convencida a reconsiderar a decisão.

Uma das pessoas que tiveram papel fundamental na sua volta foi o técnico Vadão, que comandou o Brasil nos Jogos de 2016 e na Copa do Mundo de 2019. Segundo a meio-campista, o treinador, "que não me ligou uma vez só, mas várias", usou um argumento decisivo para fazê-la voltar.

"Ele me disse: 'Você já pensou a seleção feminina fora de uma Olimpíada?' E eu respondi: 'Cara, você está ficando bem louco, né?'", lembra a jogadora.

Com Formiga de volta, a equipe conquistou o título da Copa América em 2018, que deu a vaga aos Jogos de Tóquio. A meio-campista ainda participaria do Mundial de 2019, na França, no qual o Brasil caiu para as anfitriãs nas oitavas de final.

Sem jogar em razão da pandemia do coronavírus, Formiga não sabe quando voltará a entrar em campo pelo PSG. Seu contrato com o clube vai até junho de 2020.

Para a volante, que ainda não conversou com os franceses sobre renovação, seu projeto olímpico não envolve apenas a sua vontade, mas um plano por parte do clube que dê suporte para que ela chegue bem em Tóquio.

Com a indefinição sobre o retorno do futebol no país e qual será seu futuro no Paris Saint-Germain, Formiga não descarta uma volta ao futebol brasileiro.

"Eu sei que, pelo clube, se eu chegar aos 50 anos com a energia que eu tenho, eles iriam me querer. Mas, quando chega uma certa idade, o contrato é uma segurança para a atleta. Se eu for jogar em outro lugar, vou dar a preferência a voltar para o meu país. Meu desejo é encerrar a carreira onde eu comecei, no São Paulo", completa a atleta, que só irá pendurar as chuteiras depois de Tóquio.