Em 2013, o Brasil embarca em seu mais importante ciclo olímpico, no qual até 2016 terá que preparar os atletas para brilhar em solo local. Uma responsabilidade e tanto e que vem gerando metas ousadas, como a divulgada pelo Governo Federal de colocar o país entre os dez primeiros no quadro de medalhas nas Olimpíadas do Rio de Janeiro e entre os cinco primeiros nas Paralimpíadas da capital fluminense.
O objetivo espera-se que seja atingido através do Programa Brasil Medalhas, lançado no último dia 13 e pelo qual haverá um reforço de R$ 1 bilhão nos investimentos voltados para atletas e técnicos de alto rendimento. Até então, segundo o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, o orçamento era de 1,5 bilhão.
Mas há quem defenda que, embora os investimentos nos próximos quatro anos sejam extremamente necessários, é pouco provável que o país consiga se sobressair de forma excepcional a ponto de conquistar uma colocação muito melhor que a das Olimpíadas de Londres, quando ficou na 22ª posição com 17 medalhas, marca que, por sinal, foi a melhor do Brasil na história dos jogos.
A falta de renovação, aliada a quantidade ainda pequena de esportistas brasileiros que conseguem atingir o grau máximo da carreira, se manter e destacar-se como atleta em plenas condições de disputar uma medalha olímpica são apontadas como consequências da falta de uma política do esporte mais eficiente quando se trata da formação de base. Todos esses fatores já podem ter colocado em "xeque" as expectativas de despontar o Brasil como um grande medalhista no final do próximo ciclo olímpico.
"Os atletas que temos hoje são os potenciais com idade jovem (16,18 e 20 anos), os quais já conhecemos e sabemos que são suficientes apenas para repetir ou melhorar muito pouco o quadro de medalhas de Londres", afirma Antônio Carlos Gomes, consultor em Esportes de Alto Rendimento e diretor de Ensino da Academia Brasileira de Treinadores do Comitê Olímpico Brasileiro(COB).
Ele destaca que para atingir resultados realmente consistentes seria necessário ter um trabalho mais eficiente de longo prazo, que vai de oito a dez anos, ou seja, começa na formação de base até o alto rendimento. "Temos poucos jovens fazendo o esporte olímpico. Se tivermos maior quantidade de pessoas na prática isso facilitará a descoberta e seleção de talentos com mais valor. Teria que ocorrer agora para termos resultados nos Jogos Olímpicos de 2020 e 2024, mas para 2016 é tarde", alerta Gomes.

Menos do que gostaria
A formação de atletas é uma tarefa que o técnico da equipe de atletismo de Londrina, Gilberto Miranda, conhece bem. Ele é responsável pelos velocistas, que disputam provas curtas, como 100 metros livres ou com barreiras.
Miranda já faz parte do projeto de formação de base do atletismo desde o início, há 12 anos, e já teve a oportunidade de descobrir diversos talentos, só que menos do que gostaria. "Aqui a gente revela apenas uns 5% do talento que existe por aí", estima.
A metodologia consiste, basicamente, em realizar seletivas que reúnem atletas em potencial ou interessados em conhecer o atletismo. Ele e os outros técnicos da equipe ficam de olho e avaliam uma série de fatores, como biotipo, resultados e determinação para o esporte. "De uns 400 que participam, de 20 a 30 entram para a equipe", destaca.
Mas o número pequeno de novos integrantes da equipe não é apenas uma questão de critério dos técnicos. Embora o projeto tenha evoluído muito nos últimos anos e conquistado patrocínios importantes, Miranda ressalta que ainda é pouco para fazer o que ele acha de extrema importância. "Precisa de uma quantidade maior de atletas começando a treinar, mas ao mesmo tempo a gente tem que segurar atletas de alto rendimento para garantir o patrocínio, algo que não é barato. Se aparecerem aqui 50 novos atletas com muito talento, hoje, só tenho condições de pegar uns 10", afirma.
Embora revelar atletas e vê-los evoluir no esporte seja algo gratificante para Miranda, por outro lado, ele destaca que também há pouco estímulo para as equipes de base do atletismo, já que as mesmas, segundo ele, têm pouca ou quase nenhuma chance de dar continuidade no trabalho e participar dos resultados realmente importantes. "No Brasil, contando com a nossa, temos umas seis ou sete equipes de base e dois clubes que dominam o trabalho de alto rendimento no atletismo. A gente acaba trabalhando pra eles, que levam os atletas para treinar em São Paulo", opina.

Esporte e Educação
"Na escola deve ser o local onde começa tudo", afirma Antônio Carlos Gomes, que aponta para a necessidade de uma política de esportes com uma base mais sólida antes mesmo da seleção de atletas com potencial e voltada também à formação humana e não somente na conquista de resultados. "Temos que buscar este entendimento onde a vontade do estado de ser o objetivo maior em educar através do esporte, promover saúde praticando esporte e sem dúvida oportunizar os talentos a serem os modelos esportivos da nossa sociedade".