TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) - Em uma edição olímpica marcada pela ausência de apoios de familiares e torcedores em Tóquio devido às restrições impostas pela Covid-19, o skate brasileiro tem em seu elenco uma situação inusitada.

O pai da catarinense Isadora Pacheco, 16, que compete às 21h desta terça (3) na modalidade park, abriu mão de uma rara vaga de credenciado a que tinha direito pelo fato de a filha ser menor de idade. A mãe de Rayssa Leal, 13, medalhista no street na semana passada, por exemplo, acompanhou a filha no Japão.

Será a competição mais importante da carreira de Isadora e a primeira em que Alexandre Pacheco, 51, não estará presente para acompanhá-la de perto. A conta do pai foi pragmática.

Ele deu o lugar de representante legal da garota para o auxiliar técnico da seleção brasileira de park, Miguel Catarina, com papel passado e firma em cartório. "Ela vai precisar muito mais de um técnico do que de um pai. O pai ela teve a vida inteira", diz Pacheco à reportagem. A filha concordou e disse ter ficado orgulhosa da decisão de abrir mão da vaga, porque "o Cata pode ajudar toda a seleção".

O número de credenciados nesta edição dos Jogos foi reduzido devido à pandemia. Familiares, alguns treinadores e outros acompanhantes acabaram vetados das viagens. Foi o caso, por exemplo, de Gabriel Medina. O surfista reclamou várias vezes de não ter podido levar sua mulher, Yasmin Brunet, para o Japão.

"Eu me sinto aqueles caras que ajudam os alpinistas a chegarem até o último acampamento no Everest. Dali em diante, é com ela. Vai ser a primeira competição que vou vê-la pela TV. Estive presente em todas. Desde o começo", afirma o pai da atleta, emocionado.

Isadora começou a andar de skate com cinco anos de idade e fez sua primeira prova no circuito mundial aos 11. Ela chega a Tóquio com pouca idade, mas experiência na carreira: foi vice-campeã mundial da categoria sub-14, finalista de Mundial e campeã brasileira em 2019.

A atleta está na turma de 20 skatistas que vão competir no park e tentam buscar mais medalhas no esporte, um dos queridinhos dos brasileiros na primeira semana de Jogos, durante a disputa da modalidade street. Além de Isadora, o Brasil terá Dora Varella, 20, e Yndiara Asp, 23, na competição feminina do park. Entre os destaques estrangeiros favoritos ao pódio estão outras menores de idade, como a britânica Sky Bown, 13, e a japonesa Misugu Okamoto, 15.

De longe, Pacheco diz torcer para que essa edição continue sendo, segundo ele, das "zebras". "Já estou com sentimento de missão cumprida. Minha filha não é uma das favoritas. Ela tem poder e força, mas não é uma das favoritas. Está a ponto de estourar a qualquer momento. A gente tem visto muitas zebras. Acredito que as Olimpíadas podem ser o lugar em que a mágica aconteça. Ela tem muito skate no pé."

A condição para Pacheco não estar em Tóquio é que a filha ligue uma vez por dia para ele, o que vem sendo um desafio devido ao fuso horário. "Mas estou conseguindo falar com eles todos os dias, estão super orgulhosos por lá, felizes, acompanhando as redes sociais e torcendo para todo mundo", diz a atleta.

Em meio a uma edição em que a saúde mental domina as histórias olímpicas, pai e filha se preocupam. Isadora já disse usar técnicas de respiração e tem acompanhamento psicológico. "Ela é uma adolescente, mas está sendo cobrada como adulta. Sabe dessa condição. Ela tem 16 anos, se não curtir, não ser uma adolescente, vai curtir quando? Acho que ela consegue equilibrar isso muito bem, como ninguém".

Após os atritos públicos na modalidade do street, com Kelvin Hofler, Leticia Bufoni e Pâmela Rosa, o receio dessa vez é outro. "Isadora é bagunceira. Já avisei todo mundo que é para puxar a orelha", diz ele.