SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Observatório da Discriminação Racial no Futebol iniciou projeto de um aplicativo para denúncias de racismo.

A ideia é ter uma ferramenta para coletar informações sobre casos no ambiente esportivo, mapeá-los e criar um banco de dados que possa ser usado tanto por órgãos ligados ao poder judiciário como para acompanhamento dos processos por parte de qualquer indivíduo.

Recentemente, levantamento da Folha mostrou como episódios de racismo têm punição branda no futebol brasileiro.

"A ideia do aplicativo surge da quantidade de denúncias que o Observatório vem recebendo nas redes sociais. E muitas vezes a gente não tem muito o que fazer com elas. A partir do aplicativo, a ideia é que a gente consiga, num primeiro momento, mapear, tentar entender a veracidade dessas informações e, num segundo momento, criar cada vez mais parcerias com organizações do poder público", afirma à Folha Marcelo Carvalho, diretor da entidade.

Ele conta que se inspirou no Kick Off, entidade que combate o racismo no futebol inglês e que tem um aplicativo próprio.

O diretor também reafirma que será necessário checar a veracidade das acusações, o que em parte o próprio Observatório já faz quando recebe denúncias pelas redes sociais, antes de divulgá-las.

Mais detalhes de como será esse processo no aplicativo devem surgir durante o seu desenvolvimento, mas ele reitera que quem deve investigar é o poder público.

As denúncias poderão ser feitas tanto pela vítima quanto por quem presenciar o caso de racismo, e não se limitará a jogadores, abrangendo também funcionários dos clubes e até a torcida. A ideia é que seja possível fazer upload de fotos e vídeos dentro do sistema.

"E por isso é importante o aplicativo ter todas as camadas de proteção para que a gente pense na segurança de quem está delatando o crime", afirma.

A ferramenta do Observatório também terá material de apoio sobre como e quando a vítima deve fazer as denúncias aos órgãos competentes, que podem investigar e eventualmente punir os responsáveis.

"De início, a função do aplicativo será criar esse banco de dados, e é importante frisar que essas denúncias precisam também ocorrer na Justiça e na polícia", explica Marcelo.

Segundo ele, são comuns as histórias de vítimas que não sabem como proceder quanto ao seu caso. Quando é necessário ou não ir ao Ministério Público, por exemplo. Ou então se apenas fazer o Boletim de Ocorrência é suficiente, ou se mais ações são necessárias para que aconteça a investigação contra o agressor.

"Uma das ideias é aproximar das vítimas as instituições de justiça e de combate ao racismo. O aplicativo quer ter essas informações de forma clara", completa.

A iniciativa ainda não tem data para ser lançada. O Observatório está em busca de parceiros para financiá-la. Também está na fase final para a definição de como será criada a ferramenta: se por voluntários, se por uma empresa privada, ou com a ajuda de ambas as alternativas.