Obrigado, Altair!
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 17 de junho de 2013
EDUARDO MENDES E THIAGO SALATA Enviados especiais a Brasília (DF)
Noite de sábado, o longo dia de trabalho após Brasil x Japão tinha terminado. Jornalistas confraternizavam-se numa churrascaria de Brasília. A conta já estava sendo paga quando surgiu a notícia do desaparecimento de Altair Gomes de Figueiredo, 75 anos, bicampeão com a Seleção em 1962.
Às 13h30, o ex-lateral, que sofre Mal de Alzheimer (mais ao lado), perdeu-se do grupo que tinha outros campeões mundiais. Estavam em Brasília desde quarta-feira para homenagens e esperavam o ônibus para ir ao Mané Garrincha. Justo Mané, que Altair marcou com eficiência tantas vezes pelo Fluminense.
Um médico que acompanhava o grupo foi buscar um remédio. Altair então sumiu, fazendo os amigos entrarem em desespero.
Lá pelas 23h, ao saber do sumiço, o que fazer? Foi a pergunta que nós, jornalistas, fizemos. Não sabíamos. Pagamos a conta, cada um partiu para o seu hotel. Num mesmo táxi, entramos junto com os amigos Alexandre Lozetti e Leandro Canônico, do site "Globoesporte.com" . Não podemos nos esquecer de Celio Batista de Araújo, o taxista, que não sabia da história: só nos ouvia enquanto conversávamos sobre Altair
E se a gente o achar na rua? Impossível sonhar com aquilo. Seguimos viagem. Sempre falando do drama de Altair, e sem a menor pretensão de encontrá-lo. Sinceramente. O destino era apenas o nosso hotel.
O carro entrou na Avenida das Nações, perto da Embaixada da Itália. Larga e escura. Vimos um senhor de terno andando como quem está sem rumo à beira da pista. Ele parou para urinar naquele instante. E se for o Altair? Um sentimento sem explicação tomou conta de nós por segundos. Celio, o taxista, pegou um retorno, chegou perto do senhor. Olhamos sem reação à pergunta: "Você é o Altair?"
Mais incrédulos ficamos com a resposta: "Sou eu!". Era mesmo. Altair, encontrado por nós, às 23h40 de sábado. Mais de dez horas desaparecido. Sabe-se lá por onde andou. A distância para o hotel em que deveria estar era de oito quilômetros.
Atordoado, Altair dizia procurar ex-colegas do Fluminense. Procurava o ex-goleiro Castillho, falecido em 1987. Não fazia idéia que o Brasil tinha jogado naquela mesma tarde . 3 a 0 sobre o Japão. Só não tinha dúvidas de uma coisa: "Sou bicampeão do mundo".
Nós, jornalistas, sabíamos que tínhamos uma matéria, mesmo que aquilo fosse o de menos. Avisamos as redações ainda sem saber ao certo como agir. Altair nos pediu para levá-lo ao Barreto, bairro onde mora, no Rio de Janeiro. Nós já sabíamos que ele estava hospedado no Manhattan Plaza, Setor Hoteleiro Norte. Altair sentou na frente, falando baixo, lembrando do Flu e pedindo água. Nós quatro, atrás, apertados.
Incrédulos. Emocionados.
Outra emoção difícil de descrever tomou conta de nós quando o táxi chegou ao hotel. Amigos desesperados esperavam. "Estão todos aí", festejou o campeão, em outro momento de lucidez. Um carro do Departamento de Repressão a Sequestro (DRS) também estava ali. Varreduras já tinham sido feitas em hospitais e delegacias, sem pistas nenhuma até aquela hora. Uma foto de Altair já estava na intranet da polícia civil. Três equipes acompanhavam o caso em busca de informações.
Amigos nos abraçaram, chorando. Aliviados. Nós, felizes. Pepe, Zito, Coutinho, Jair Marinho e Amarildo estavam no mesmo hotel. Roberto Dinamite, presidente do Vasco, apareceu para dar um abraço em Altair e, depois de perguntar sobre o Fluminense, mandou um recado: "Agora o senhor precisa descansar".
Um dos amigos pediu uma foto de nós quatro, junto com Altair. Uma honra, antes de vê-lo ser levado ao quarto para o justo descanso. Nós ficamos, para contar a todos como o achamos. Vários deles seguiam com lágrimas nos olhos. Voltaram a nos abraçar. Nos agradeceram de novo.
Como se fosse preciso. A gente é que agradece a sorte de achar Altair. O dia 15 de junho de 2013 ficará para sempre na memória destes jornalistas. Foi uma noite iluminada. Ontem, Altair voltou para casa, no Rio.