A despedida de Fred, do Fluminense, no último sábado (9) mostrou a força que os ídolos ainda têm na marca de um time. A semana que antecedeu o jogo contra o Ceará foi de frenesi total no Rio de Janeiro. Os ingressos se esgotaram, muitas camisas ressurgiram nas ruas e muitos reavivaram a paixão pelo tricolor carioca em função de um Frederico. O Maracanã recebeu 63 mil pessoas, que foram presenciar uma noite histórica, única e emocionante.

Imagem ilustrativa da imagem O peso de um ídolo
| Foto: Marcello Dias/DiaEsportivo/Folhapress

O título de ídolo está sempre disponível, e todos querem, mas poucos constroem essa realidade ao longo de uma carreira. A fórmula está pronta para se tornar um ídolo: conquistas, popularidade, excelência técnica e longevidade num mesmo clube ou time. Mas o caminho para ocupar este espaço precisa de uma peculiaridade que está fora da fórmula acima citada: naturalidade.

Se formos buscar na história encontraremos muitos atletas vencedores em seus clubes, que conquistaram muitos troféus, que passaram quase a carreira toda numa mesma agremiação, mas não se tornaram ídolos. Ser ídolo passa por algo a mais, passa por identificação, por uma simbiose que nenhum dos lados explica, apenas sente. Fred não foi um craque, mas foi histórico no Fluminense. Um time centenário que há algumas décadas não tinha um jogador que criasse uma identificação com a real nação “guerreira”. E ele entendeu e conseguiu criar esta conexão entre time, jogadores e torcida. Isto também compõe um ídolo.

Hoje em dia estes símbolos estão mais escassos, pelo principal fator na sua composição que é a longevidade num mesmo time. As passagens são mais rápidas e a identificação acaba não acontecendo porque não existe este tempo. Cássio é ídolo no Corinthians. D’Alessandro, que acaba de se aposentar, é ídolo no Internacional. Nenê é ídolo no Vasco. E mesmo ficando somente nos grandes clubes essa busca já se torna escassa. E como vai ser no futuro?

Um ídolo, além de marcar uma era, faz brotar nos jovens o desejo de torcer e seguir aquele time, de ir ao estádio, de comprar camisas e se apaixonar pelo time de coração, de verdade. Um ídolo projeta e potencializa uma marca de maneira tão natural que este patrimônio fica a serviço por um longo tempo. Fred parou em campo, mas se o Fluminense conservá-lo próximo ao clube, manterá o torcedor próximo dos dois.

Julio Oliveira é jornalista e locutor esportivo da TV Globo – A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina