Na semana passada eu estava no Maracanã para Fluminense x São Paulo, na volta do Brasileirão depois da data Fifa. Ricardinho era um dos comentaristas comigo. Chegamos cedo ao estádio para acompanhar a partida do Vasco, que jogava mais cedo, em Belo Horizonte. E, na cabine, víamos pela TV um jogo de Série B, tal as dificuldades de Vasco e Cruzeiro.

Na noite anterior, no mesmo palco, o Brasil tinha perdido para a Argentina. E Ricardinho havia trabalhado também, e naturalmente conversávamos sobre a partida, que foi a última da seleção brasileira este ano.

Ricardinho foi um meio-campista que hoje está difícil de encontrar: facilidade de ser um “8” ou “10” ou até um “5” mais moderno que não é tão marcador, mas tem a habilidade para dar saída de bola. Mas não foi sobre isso que conversamos. Falamos de protagonismo e personalidade.

O Brasil perdeu Neymar e ficou sem referência. Mesmo já não tendo as mesmas condições físicas do passado recente, Neymar ainda é o melhor jogador que temos. E não há sucessor a curto prazo. E não vai surgir para a próxima Copa.

Mas Ricardinho valoriza um outro ponto para que os craques surjam e ganhem maturidade, que é o tempo necessário para que este caminho aconteça. E citou Ronaldo, que aos 17 anos já era fenômeno. Foi a uma Copa do Mundo (94), não jogou, esperou e foi cuidado para que quando entrasse em campo não fosse cobrado excessivamente, mas ao mesmo tempo teve que respeitar hierarquias. E isso só fez encorpar ainda mais seu futebol de gênio.

Hoje, Endrick, por exemplo, chega e joga, mas ainda sem uma carreira consistente para entrar na Seleção adulta e é cobrado pelo que faz no Palmeiras.

Ricardinho jogou com Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e outros que além da genialidade tinham a personalidade de protagonistas. Eram mais que craques com a bola. E tiveram que construir espaço, criar autoridade.

E Ricardinho cita um exemplo. “Antes da Copa de 2002, o Ronaldo, com o joelho moído depois de mais uma cirurgia, falou pro Felipão: ‘pode me convocar que eu vou jogar e vamos ganhar a Copa’ e foi lá e ganhou. É isso que não temos mais porque a gente endeusa qualquer jogador que surge sem ele ter construído nada ainda”.

E conversamos ainda por mais um longo tempo com a assustadora conclusão de que não temos a mínima chance de formatar um time campeão para 2026. Porque falta mais que futebol. Faltam personalidades protagonistas.

Julio Oliveira é jornalista e locutor esportivo da TV Globo - A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina