A possibilidade da venda de mando de campo de jogos do Londrina nesta Série B gerou outro debate da relação do torcedor com o time. Há uma reclamação antiga, do atual gestor, da falta de envolvimento da cidade com o Tubarão. Por que o torcedor vai pouco ao estádio? Por que o time não empolga se não estiver bem na tabela de classificação?

Imagem ilustrativa da imagem O Londrina e a sua torcida
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A relação torcida-time mudou. O perfil de quem frequenta os estádios também. Os valores dos ingressos e as novas concepções de Arenas influenciaram para que o público que vai hoje ver uma partida ao vivo seja muito mais consumidor do que apaixonado pelo time.

Mas, então, como definir hoje o torcedor do Tubarão? Já comentei neste espaço a herança de pai para filho pela escolha do time do coração, e que os pais de hoje já não conseguem transferir essa paixão exclusiva. Os jovens têm “seus times” preferidos. A própria colonização da região Norte do estado do Paraná já contribuiu, ao longo da história, para que houvesse sempre um segundo time do coração, geralmente paulista. Agora, a garotada ainda acompanha Barcelona, Real Madrid, PSG e outros que invadiram os videogames ou que tem os verdadeiros ídolos mundiais da atualidade.

Quando alguém reclamar que o londrinense não vai ao estádio é preciso relevar esses pontos e ainda um outro. Aquele torcedor, principalmente dos anos 1970 e 1980, tinha uma relação diferente com o clube, pelo fato de o futebol ter outras referências, que mudaram. Mas o torcedor ainda se sente apegado àquele tempo, quando conhecia todos os jogadores ou quando aqueles mesmos jogadores passavam longos anos no time e criavam uma relação de fidelidade que gerava essa proximidade. Havia mais o sentimento de “time da cidade”. Isso mudou no país inteiro, sim, mas a cidade de Londrina tem algumas peculiaridades que não dá pra comparar com outras regiões.

Voltar a ver o Estádio do Café cheio vai além de ter um time líder ou estar na Série A, passa primeiro por estabelecer uma relação com esse público que ficou órfão da história. Depois, se aproximar dos mais jovens que também torcem pelos times internacionais. O LEC ganhou concorrentes duríssimos e não dá pra esperar que só tendo um time e um campeonato sejam suficientes para ter arquibancadas lotadas. É preciso criar uma relação, seja de resgate ou de novo modelo, mas que seja uma relação e não uma obrigação.

A cidade de Criciúma, por exemplo, tem menos da metade da população de Londrina. Mas a relação time-torcida-cidade é muito diferente. O Tigre, que só tem um ponto a menos que o Tubarão neste Brasileiro, tem levado 10.000 pessoas em média ao Heriberto Hulse. Na última sexta-feira, contra o Cruzeiro, foram 15.000. Não é só ter um time de craques ou ser líder. É preciso entender que há uma história e ela precisa ser considerada neste relacionamento.

Julio Oliveira é jornalista e locutor esportivo da TV Globo

A opinião do colunista não representa, necessariamente, a da Folha de Londrina