No mundo cíclico, tudo tem um fim. Por mais que não seja planejado, há um momento que é preciso mudar a rota. Há as mudanças programadas e as que acontecem por necessidades imperativas ao tempo, a situação financeira ou política. No futebol não é diferente. Clubes estão sempre vivenciando fases, que se alternam com vitórias e títulos ou não.

Flamengo e Palmeiras são os times mais vitoriosos nos últimos cinco anos. E não só no país, mas na América do Sul, tendo conquistado as últimas quatro edições da Libertadores. Mas há uma diferença clara: a maneira com que cada um geriu a necessidade de se manter competitivo e não refém das conquistas.

O Palmeiras preferiu manter foco em gestão para que o time não perdesse essência. O técnico é o mesmo, se ajustando ao elenco que lhe é entregue a cada temporada. Jogadores importantes saíram e outros chegaram. Dudu, por exemplo, saiu e voltou. Scarpa, saiu. E há vários outros exemplos. O Palmeiras não se permitiu ser inferior à sua marca e instituição.

O Flamengo vive à sombra de 2019. O elenco pouco mudou, envelheceu e é cobrado pela temporada vitoriosa daquele ano. A base criativa do time é a mesma, mas sem uma sequência de técnico, o que fez o time oscilar demais e ficar refém dos seus craques.

A mudança é necessária para a equipe continuar sendo maior que seus nomes. E não refém. O rubro-negro ficou preso a Gabibol, Arrascaeta, Éverton Ribeiro, Pedro e Filipe Luís, que não entregam mais o que deram ao time. E não é por deficiência técnica, é porque há um desgaste de tempo que é natural. A diretoria não enxergou isso e entendia que manter um time multicampeão seria o suficiente para continuar vencendo tudo. Em certo ponto funcionou, mas com muito desgaste, como a passagem de Dorival Jr. no ano passado.

Mas, e agora? Quem vai ter a coragem de trocar três ou quatro peças importantes de uma só vez? Como suprir esses nomes ou “aposentar” estrelas como o próprio Filipe Luís e David Luiz? E Gabigol é ídolo a ponto de permanecer a qualquer custo?

O Flamengo atingiu um “patamar” administrativo-financeiro e se apoderou de uma soberba que não lhe permite ser humilde para se recolocar em uma rota segura. Mais do que reencontrar um caminho, é saber quem vai ter a coragem de dizer aos milhões de torcedores que o time vai precisar recuar um pouco para voltar a ser vencedor. Este será o grande dilema da reestruturação.

Julio Oliveira é jornalista e locutor esportivo da TV Globo - A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina