TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) - Previsões de medalhas são comuns entre atletas olímpicos. Ninguém diz chegar à Olimpíada para perder. Mas poucos mostram tanta fé quanto Edival Marques, o Netinho, 23, um dos três brasileiros classificados para o taekwondo na Olimpíada de Tóquio.

Ele não prevê ouro apenas para si mesmo. Fala em 100% de aproveitamento da equipe do país na modalidade.

"Nosso time é muito bom e eu sempre tive uma cabeça muito boa para isso. Sempre gostei de lutar contra os campeões e nunca faltou confiança em mim mesmo", afirma o atleta à reportagem.

Ele será o primeiro atleta do taekwondo brasileiro a competir e entra no Makuhari Messe Hall na noite deste sábado (24), por volta das 23h (de Brasília). Sua previsão de medalhas douradas também contempla Ícaro Miguel (até 80 kg) e Milena Titoneli (até 67 kg).

O pensamento que Netinho sempre coloca em prática é o que lhe costumava dizer o pai, Loidmar Pontes: "Você é melhor do que os outros caras."

A pandemia em 2020 foi dura para Edival Marques. Não apenas pela Covid-19 ou pelas restrições que o impediram de treinar e competir pelo taekwondo. Também não por causa da espera pela vacina e o medo de ser contaminado. Foi o ano em que Loidmar morreu, vítima de câncer no fígado. Pode soar clichê dizer que o filho deseja vencer para dedicar-lhe a medalha. Mas é a verdade.

O lutador lembra não ter perdido apenas o pai, mas a figura responsável por mantê-lo no esporte. Seu maior incentivador, alguém que daria tudo para vê-lo em uma Olimpíada.

"Não fosse pelo meu pai... Eu nem sei. Foi triste no começo [após a morte], mas lembrei que ele já sofria há muito tempo com o câncer. Tinha feito transplante cinco anos antes. Sou muito grato, não tenho nada a reclamar. Ele foi em paz", comenta.

"Claro que me faz falta. Não tenho mais aquele cara que sempre me puxava, o conselho que vinha quando eu não sabia o que fazer. Isso está diferente. Comecei a fazer trabalho psicológico em grande parte por causa disso. Sentia falta da presença de uma pessoa para me apoiar. Sempre foi ele."

Um resultado em Tóquio, de preferência com medalha, se encaixaria na sua filosofia de "dar trabalho" para as gerações que estão por vir, como o exemplo de um nível que precisa ser atingido pelos jovens que começam no taekwondo. Netinho chama esse sentimento de "raiva", de fazer outros se esforçarem mais para obterem vitórias.

"Eu vim de baixo e consegui chegar até aqui com muita persistência. É para persistir porque todo mundo consegue o que quer", enfatiza.

A mensagem poderia servir para o adolescente Netinho. Ele próprio esteve a ponto de desistir do taekwondo na adolescência. Quem escuta a história do atleta não se surpreende ao descobrir que foi o pai quem o fez seguir adiante. Edival estava cansado de ficar na reserva da seleção brasileira juvenil e não via futuro para a carreira como lutador.

"Eu pensava pouco, tinha a cabeça fraca. Não tem mais isso de desistir. Taekwondo é o meu trabalho. Meu pai me disse que se eu persistisse, chegaria longe e ele estava certo."

Medalhista de ouro no Pan-Americano de Lima, em 2019, Edival vê sua categoria como nivelada e, por isso, a mais interessante de ser acompanhada na Olimpíada. A pandemia fez essa igualdade ficar ainda mais acentuada. A lembrança do brasileiro é de campeonatos recentes que disputou nos quais os favoritos foram derrotados.

"Estou mais tranquilo do que achei que estaria. Quando penso na Olimpíada, me imagino lutando e vencendo", finaliza Netinho, antes de repetir o que o seu pai sempre lhe dizia. Que ele é melhor que os outros caras.