Marta Medeiros
de Maringá
Se naturalmente existem muitas diferenças entre o homem e a mulher, no futebol a maior delas é a financeira. As jogadoras que participam em Maringá, desde a última sexta-feira, do Torneio Sul Brasileiro de Futebol Feminino sabem muito bem disso. Às vezes, elas não ganham nada ou recebem apenas o salário mínimo, e ainda assim, entram em campo com muita disposição para defender seus clubes. E para quem pensa que estar ‘‘naqueles dias’’ em pleno campeonato é o fim do mundo está enganado. Treinadores garantem que o desempenho físico melhora muito nesta fase.
Para o preparador físico Leandro Elias, do Sport Club Internacional, equipe tricampeã do campeonato gaúcho, as mulheres são muito ‘‘mais pele’’ no futebol. Elias se refere à dedicação do elenco feminino durante os treinos e jogos em comparação à falta de disciplina dos homens. Segundo o treinador, o maior problema está no excesso de delicadeza das mulheres. ‘‘Quando um time masculino está jogando mal é fácil chamar a atenção e brigar, mas fazer o mesmo com uma equipe feminina é difícil. Elas choram’’, afirma Elias.
O preparador do Inter só lamenta mesmo a falta de patrocínio e incentivo dos clubes para o futebol feminino. A reclamação recebe coro de Glaucia Bahia de Brito, auxiliar e relações públicas da Associação Esportiva Scorpion, de São José, município da grande Florianópolis (SC). Glaucia conta que o público é curioso e interage muito bem com o futebol feminino, mas conseguir patrocínio é uma luta sem fim. Esperança das equipes está na transformação dos clubes em empresas. Uma das exigências é a manutenção de três modalidades olímpicas é o futebol feminino é uma delas.
Além das cifras que no futebol masculino ganham proporções milionárias, o feminino mostra outras diferenças interessantes. Quem as observa são as próprias jogadoras que lembram: na cobrança de falta a parte protegida são os seios. ‘‘Na barreira, as mãos dos homens protegem em baixo e as nossas no alto’’, brincam as atletas.
O treinador Elias vai mais além e afirma que no futebol feminino não exige apenas o preparo físico, mas principalmente o psicológico. Afinal, as mulheres menstruam e o fluxo muitas vezes coincide com um torneio ou um jogo amistoso. O treinador ressalta que acompanha e anota o ciclo menstrual de todas as jogadoras.
Professor de Educação Física, Elias explica que durante a menstruação os hormônios estão em alta e a atleta desempenha melhor fisicamente. Em contrapartida, o próprio preparo físico reduz o nível de gordura no organismo o que implica em ciclos menstruais completamente desregulados. Entre uma menstruação e outra, no entanto, está o fantasma da ‘‘Tensão Pré-Menstrual’’, a temida e chata TPM. ‘‘É preciso muita paciência e jogo de cintura para lidar com as mulheres nesta hora’’, conta o treinador.
Anotadas as devidas diferenças, sem dinheiro, mas com muita ‘‘ginga’’ nos pés, a meio esquerda do Scorpion, Rosilene da Silva, 20 anos, prefere pensar em um futuro melhor e não se incomoda com os problemas femininos. Ela sabe que o seu time é pequeno e amador, mas o amor pelo futebol ainda é latente. Tímida e de poucas palavras, Rosilene joga há seis anos e sonha, como a maioria dos atletas, em participar da seleção brasileira.
Para a meio campo Eduarda Marranghello Luizetti, 28, a Duda, o sonho já foi possível diversas vezes. Além da seleção brasileira, a jogadora do Inter teve passagens nos clubes italianos do Milan e Verona. Além de se destacar no time, Duda é a própria fundadora do futebol feminino no clube gaúcho. A equipe foi criada em 1996, mas a jogadora está na profissão desde os 13 anos de idade. É uma das poucas no país que ganha um salário em torno de R$ 1 mil, considerado ‘‘alto’’ entre as atletas do futebol feminino brasileiro.
Em Maringá, as jogadoras ficaram instaladas em alojamentos do Ginásio Chico Neto. Participam do torneio, além do Scorpion e Inter, as equipes do União Ahú (Paraná) e Maringá Seleto.É o que a experiência tem demonstrado, conforme constatam os treinadores das equipes femininas de futebol
James NegriniExperienteA meio campo Duda tem experiência internacional e faz parte da seleção brasileiraJames NegriniNa vontadeRosilene é o destaque do Scorpion: não há fôlego ‘‘monetário’’, apenas vontade de jogar