Moacyr Prazeres, meu avô paterno, alagoano que veio com a prole para Londrina nos anos de chumbo (mais precisamente, 1964, ano do golpe militar) como engenheiro químico contratado da Usina de Porecatu, não era um fanático por futebol, mas longe de ser um desinteressado pelo esporte. Tinha simpatia pelo CRB, clube que frequentou na mocidade em Maceió. Também fingia torcer pelo Náutico só pra fazer pirraça com a família da minha avó, Cidinha, inteirinha pernambucana, inteirinha Sport.

Me lembro que o "vovoinho", como os netos o chamavam, de vez em quando ligava em casa para avisar de algum jogo que estava passando na TV. Certa vez, lá pelos anos 90, perguntei a ele por que não torcia para o time da cidade onde escolheu morar - até morrer. A resposta: "meu filho, não sou eu que não torço para o Londrina, é o Londrina que não me quer como torcedor".

Fico imaginando o que o vovoinho diria desse Londrina que está aí. Um time que não se entende dentro de campo, uma gestão que bate cabeça fora dele. O choque entre a direção executiva do clube e a gestão terceirizada do futebol nem acho de todo ruim, sinceramente. O que o Londrina mais precisava nesses mais de dez anos de parceria com a SM Sports era de dirigentes que não dessem amém a tudo o que o dono da empresa fala ou faz. Ainda mais quando há divergências também na condução do processo da SAF e na divisão de lucros.

A falta de prumo ficou patente na formação do elenco para a disputa da Série B. Veio um caminhão de jogadores, mas a areia era de má qualidade. No ano passado os problemas financeiros acompanharam toda a campanha, com atrasos salariais e de premiação mês sim outro também. Neste ano, dinheiro (ou a falta dele) nem vem sendo a maior questão, já que o rateio das verbas de direitos de transmissão rendeu cerca de R$ 10 milhões para cada um dos 20 clubes participantes. Ou é?

Tá certo, o futebol prega peças. Em 2022, com toda a pindaíba que motivou até greve dos jogadores, o time do Adilson Batista surpreendeu e chegou à reta final brigando diretamente com o Vasco pela quarta vaga do G4, terminando a campanha em nono lugar. Ao passo que o Operário, que gastou os tubos para subir, acabou caindo para a Série C.

As contas para que o Londrina evite o mesmo fim do Fantasma são complexas. É muito ponto para ganhar em pouco tempo. E não é nem a matemática que preocupa. Esse Londrina que está aí, tão complacente com as derrotas, tão impiedoso com seu torcedor a ponto de levar quatro viradas em casa - algumas delas com gol nos acréscimos - não inspira confiança. Quero muito estar errado, mas não vou criar qualquer expectativa. Se cair, que fique pelo menos alguma lição. Se permanecer na Série B, também (será mesmo a SM Sports a única "tábua de salvação" desse clube?). Só queria não ter que dar razão a meu avô.