SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O caminho que levou John Textor, 56, ao Botafogo começou a ser trilhado no Linkedin. Foi em uma mensagem na rede social, em 12 de julho de 2021, que Thairo Arruda e Danilo Caixeiro fizeram o primeiro contato com o bilionário norte-americano, que acertou a compra de 90% das ações do futebol do clube carioca.

"É tipo quando alguém pergunta onde você conheceu a namorada e você responde: no Tinder. Com o John, foi isso. A gente mandou mensagem para ele no Linkedin, e dali surgiu um papo", conta Arruda, comparando a rede de negócios a um aplicativo de encontros amorosos.

Facilitou o encontro o fato de os empresários brasileiros terem diplomas da prestigiada Universidade Yale, nos Estados Unidos. Houve, então, uma conversa inicial de 30 minutos, sobre oportunidades no Brasil. Meses depois, o futebol do Botafogo estava nas mãos de Textor.

Após as primeiras reuniões, Arruda e Caixeiro começaram a trabalhar para o americano e prospectar possíveis clubes brasileiros em que ele poderia investir. Eles também atuavam como consultores no debate sobre a lei da SAF (Sociedade Anônima do Futebol), que estabeleceu parâmetros para o modelo clube-empresa e permitiu a compra da agremiação alvinegra com um aporte prometido de R$ 400 milhões.

O acordo representou um passo importante para a Matix Capital, empresa que os dois brasileiros têm em sociedade com o português Fernando Capelo. Eles, que até então não recebiam nada pela consultoria a Textor, foram convidados a integrar a Eagle Holding, empresa do bilionário para negócios no futebol.

A dupla está também no Comitê de Transição do Botafogo, como representantes de Textor. Composto também por representantes do clube, o grupo tem a missão de superar entraves e concretizar a mudança do futebol preto e branco do modelo associativo para o formato clube-empresa.

Caixeiro, hoje com 31 anos, e Arruda, que tem 36, conheceram-se fazendo MBA, concluído em Yale em 2019, e se aproximaram justamente pela vontade de fazer negócios no futebol. Passaram dois anos na Europa --um deles em Portugal, onde participaram da compra do clube Académica de Coimbra-- e cultivaram relacionamentos com potenciais investidores.

Mas, para eles, o dinheiro só está chegando mesmo agora. A ideia que sempre apresentavam era que só receberiam com negócio fechado. Assim, foram queimando suas reservas e dizem que estavam perto do limite quando se acertaram com Textor, que é dono também do Crystal Palace, da Inglaterra.

"Com esse euro a R$ 6, comi muito miojo. Peguei um empréstimo com a minha mãe... Mas chegou uma hora em que começou a apertar. A gente virou e falou: 'Pô, o que que a gente faz para monetizar nosso trabalho?'. Porque a longo prazo estava insustentável", lembra Caixeiro.

Thairo vendeu um apartamento e voltou a morar com os pais, recebendo uma mesada deles e da irmã.

"Na Europa, a gente andava com um carro alugado que era o mais barato possível. Só que a gente estacionava a duas quadras de distância de onde tínhamos as reuniões. Ninguém podia ver a gente com ele. Como a gente ia fazer negócio se os investidores interessados em comprar o clube vissem a gente com um carro que parecia o do Mr. Bean?", diverte-se.

A aposta deu certo. No Brasil, a Matix Capital já tem conversas relativamente avançadas com outros clubes. Os dois ganharam espaço no mercado justamente pela proximidade com possíveis investidores do exterior, aliada ao conhecimento da realidade do futebol brasileiro.

Diferentemente de empresas consolidadas, como a XP Investimentos e a Ernst & Young, que auxiliam os clubes no processo de venda, a Matix se propõe a ser a consultora de quem compra. Dessa maneira, atua de forma paralela às outras companhias.

Os dois mantêm bastante alinhado o discurso sobre como trabalham, quais os planos para o futuro e a análise do mercado brasileiro. Têm diferenças, no entanto, na maneira como se comportam nas redes sociais.

Thairo Arruda nasceu em Borborema, no interior de São Paulo, cidade de 16 mil habitantes --hoje ele já tem 1/8 dessa quantia em seguidores. Nas suas redes sociais, comenta temas politicos e diz que não pretende parar de fazê-lo mesmo com o escrutínio público.

Já Danilo Caixeiro, que é do Rio, tem um comportamento mais discreto. Sua conta no Instagram é restrita aos que autoriza como seguidores, e ele não tem publicações no Twitter.

O discurso dos dois volta a se alinhar quando questionados sobre como lidar com a possibilidade de que a lua de mel com a torcida do Botafogo acabe transformando-se em pesadelo caso o time não tenha bons resultados esportivos.

"O clube estava respirando por aparelhos, na UTI. A primeira coisa é salvar o clube para ele ter mais cem anos de história. A partir de agora, a gente tem que alinhar a expectativa do torcedor. Brigar para ser o maior clube do Brasil? A gente não pode entregar isso dentro de um ano, né? Tem um certo tempo. Daqui a alguns anos, o clube vai ser realmente um dos mais vencedores do Brasil novamente", afirma Arruda.