SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - O programa de televisão Good Moorning America exibiu, nesta terça-feira (31), a primeira entrevista da nadadora transgênero Lia Thomas desde que ele passou a ser alvo de intensos debates nos Estados Unidos por vencer as 500 jardas no fortíssimo campeonato universitário da NCAA. Ao quebrar o silêncio, Lia rebateu as críticas que recebe por supostamente "tirar vantagem" da condição de mulher trans e disse que sonha em disputar uma Olimpíada.

"As pessoas trans não fazem a transição pensando na parte atlética. Fazemos a transição para sermos felizes, autênticos e verdadeiros. Fazer a transição para obter uma vantagem não é algo que influencia nossas decisões", afirmou.

Lia foi atleta da Universidade da Pensilvânia, uma das mais conceituadas do mundo do ponto de vista acadêmico e que faz parte, na NCAA, da Ivy League, uma conferência formada só pelas universidades da elite acadêmica (conta com Harvard, Yale, Cornell, etc), mas que não costuma ter programas esportivos campeões nacionais.

Ela primeiro competiu em provas masculinas, sendo vice-campeã da Ivy League em três provas, depois que iniciou a transição de gênero, para ser reconhecida como mulher, passou a disputar provas femininas. E, nelas, ampliou seu sucesso para um nível nacional, alcançando o título da NCCA nas 500 jardas livre (equivalente à prova de 400m livre na natação olímpica), o quinto lugar nas 200 jardas e o oitavo nas 1.650 jardas (equivalente à prova de 1.500m livre).

A NCAA tem, há dez anos, regras que permitem que mulheres trans compitam desde que passem por tratamento hormonal, em regras semelhantes às das Olimpíadas. Mas, até aqui, nenhuma mulher trans tinha se destacado nas competições no nível alcançado por Lia. E quando ela passou a competir em mesmo nível técnico de mulheres cis, seu direito de participar passou a ser questionado.

"Mulheres trans que competem em esportes femininos não ameaçam os esportes femininos como um todo. Mulheres trans são uma minoria muito pequena de todos os atletas. As regras da NCAA sobre mulheres trans que competem em esportes femininos existem há mais de dez anos. E não vimos nenhuma onda maciça de mulheres trans dominando", retrucou.

Na entrevista, Lia, que encerrou a graduação e, logo, sua elegibilidade na natação universitária, diz que tem como sonho de vida participar da seletiva olímpica norte-americana, em busca de uma vaga olímpica. Ela vai continuar treinando na Penn, onde agora vai cursar direito.

A eventual participação de Lia na seletiva olímpica em 2024, porém, já nasce cercada de polêmicas. Na esteira das discussões sobre a elegibilidade dela, no começo deste ano, a USA Swimming criou regras rígidas para a participação de mulheres trans em torneios de "elite", no que se encaixaria a seletiva.

A entidade passou a exibir um limite e 5nmol/L de testosterona (na Olimpíada o limite é 10) e um tratamento contínuo por 36 meses (na Olimpíada são 12). Além disso, criou um painel com três especialistas que vai avaliar caso a caso, dizendo se um atleta pode ou não participar dos eventos. O modelo tem sido criticado por grupos que defendem o direito de atletas trans competirem, que apontam que os critérios foram desenhados para barrar Lia.