O futebol brasileiro anda tão por baixo que, pra agradar, um jogo só é pouco. Quarta-feira, passei os olhos por sete partidas. Com meu controle remoto esperto, indo pra lá e pra cá, no fim de duas horas, acabei me dando por satisfeito: vi um lindo sem-pulo do volante Mineiro, da Ponte Preta, vi lances de alta voltagem no jogo Sport 4 x São Paulo 3, gostei, mais uma vez, do padrão de jogo do Atlético Paranaense e do Goiás, vi o Santos derrotar, com brilho e empenho, a Portuguesa.
É fora de questão que o futebol tem encantos que o tornam irresistível como fonte de emoções. O diabo é que a ganância – e só a ganância – está levando todo mundo à mais completa exaustão: começa no jogador e culmina no torcedor, passando, naturalmente, pelo treinador e pelo cronista. Ninguém resiste a um calendário maluco que superpõe copas, torneios, campeonatos, numa ciranda sinistra que estoura músculos e nervos de jogador, que descabela treinador, sem falar do desgaste físico e emocional dos árbitros, da saturação do público, por mais apaixonado que seja.
Já é mais nem o caso de perguntar: de onde vem tamanha insanidade? É claro que é do cartola, esse monstro ‘‘de escuridão e rutilância’’ que, com perdão do destempero verbal, enche o saco da gente, há séculos. E o mais engraçado é que, volta e meia, você vê, ouve e lê todos eles a deplorar a estupidez do calendário, o disparate de amontoar competições, com o fito único de faturar.
Outro dia, discutia-se, na Rádio Globo, sobre a saída do jovem Roger, então pretendido pelo Benfica, de Lisboa. A equipe do Elso Venâncio fazia o advogado do diabo, lembrando ao próprio Roger que, talvez, fosse melhor pra ele esperar um pouco mais. No Fluminense, Roger estaria mais próximo da seleção do que no Benfica. Roger, por sua vez, ponderava que tinha razões profissionais e pessoais pra aceitar a proposta, por sinal que acabaria gorando. Na ocasião, foi ouvido o vice-presidente do Flamengo, Walter Oaquim. O moço foi claro e certeiro: ‘‘Olha, gente, o Roger está se transferindo por 10 milhões de dólares. Nessa transação, ele recebe um milhão e meio de dólares. Além do que, estará se livrando de um futebol estupidamente desgastante. Não há jogador que aguente ter que disputar 90 partidas por ano’’.
Quem falou é um mero espectador? Coisa nenhuma. Falou o vice-presidente do clube mais popular do Brasil, o poderoso Flamengo. Pergunta-se: por que, então, o Flamengo de Walter Oaquim não põe o bloco na rua e lidera um protesto contra esse banquete de canibais em que transformaram o futebol brasileiro?

A CPI do futebol