SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Há seis anos morando na Alemanha, o mesatenista carioca Hugo Calderano, 23, voltou aos treinamentos há mais de um mês respeitando o protocolo sanitário estabelecido na pequena Ochsenhausen.

Localizada no sul do país, a cidade tem cerca de 9.000 habitantes e tornou-se a moradia do brasileiro em 2014, aos 18 anos. Desde então, ele defende o time local, o Liebherr Ochsenhausen.

Calderano, sexto colocado no ranking mundial (o melhor desempenho de um atleta do país na história do esporte), faz contato diário com seus familiares que moram no Rio de Janeiro, conversa por meio de vídeo com o pai e se mantém informado sobre a situação vivida pelos brasileiros durante a pandemia da Covid-19.

Para o mesatenista, neste momento o mais preocupante é observar que o Brasil não segue integralmente as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e não adota as práticas que tiveram os melhores resultados pelo mundo, enquanto os casos da doença continuam dando saltos no país.

"Estou muito triste pela situação do Brasil, as coisas têm piorado e ficamos aqui preocupados", diz Calderano à reportagem.

Ele conta que não costuma falar sobre o assunto durante os treinos, mas mesmo assim sente certo incômodo. "Eu imagino que os alemães saibam como o governo [brasileiro] conduz o país nesta pandemia. Honestamente, tenho um pouco de vergonha."

A Alemanha registrou até quarta-feira (27) cerca de 182 mil casos do novo coronavírus e 8.548 mortes. O país liderado pela chanceler Angela Merkel foi um dos primeiros da Europa que relaxaram regras de distanciamento social e permitiram o retorno de competições esportivas, como o Campeonato Alemão de futebol, que retornou no último dia 16.

O Brasil, com 414 mil casos confirmados e 25.697 mortes, ainda vê sua curva de contágio em ascensão.

A mãe de Hugo, Elisa, lhe faz companhia na Alemanha desde o dia 15 de março. Ela foi visitá-lo e acabou pega de surpresa diante da explosão de casos da doença e do fechamento de aeroportos. Se há um lado positivo nisso tudo, certamente é a presença materna.

"Para mim, é muito bom poder passar um tempo com ela. Desde que saí de casa, aos 14 anos, nós não passávamos tanto tempo juntos", afirma o atleta.

Antes de se mudar para a Alemanha, ele já havia deixado o Rio de Janeiro para treinar e morar em São Caetano, no ABC paulista.

Na volta aos treinos do Liebherr Ochsenhausen, o brasileiro convive com o processo de desinfecção dos equipamentos, como bolas e raquetes, antes e depois de cada atividade. O ginásio recebe até cinco pessoas simultaneamente.

O seu time, atual campeão da Bundesliga, está na semifinal da competição. Diferentemente do futebol, ela ainda está paralisada, com previsão de retorno no fim de junho.

Com a agenda esvaziada pelo cancelamento de eventos, Calderano foca nos treinos e colhe avanços, inclusive na parte física. Desde o isolamento, ele havia improvisado uma mesa em sua casa e não deixou de praticar o esporte.

A principal mudança, e a mais sentida, foi o adiamento da Olimpíada de Tóquio para 2021. Com chance de uma medalha inédita para ele e o país nos Jogos, o brasileiro teme que o evento possa acabar cancelado.

"Estou preocupado com como as coisas estão se desenvolvendo", diz. "Espero que consigam desenvolver uma vacina, porque não tem como realizar uma Olimpíada sob esse risco que temos hoje."