Osmani Costa
De Londrina
Não há como não notar. A cena se repete de manhã e à tarde – o comboio utilizado para o deslocamento de jogadores e comissão técnica da Seleção Brasileira Pré-Olímpica, pelo centro da cidade, chama a atenção dos londrinenses por um fato curioso: a presença de dois ônibus.
À frente do comboio vai o ônibus oficial da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), lotado pelos 20 jogadores, membros da comissão técnica, seguranças, assessores de imprensa e outros funcionários daquela entidade. Atrás, quase que completamente vazio, separado por uma viatura e motocicletas da Polícia Militar (PM), segue o ônibus... reserva.
Este segundo ônibus foi uma exigência da CBF, entre as muitas feitas para que o torneio fosse disputado em Londrina. O veículo será usado no transporte da delegação brasileira em caso de defeito no ônibus titular, que veio do Rio de Janeiro. As outras quatro seleções que participarão do Pré-Olímpico na cidade terão só um ônibus cada.
‘‘É uma sensação estranha, meio esquisita esta, ter de dirigir o ônibus sem ninguém dentro’’, revela o motorista Antonio Luiz de Souza, 38 anos, que há quatro anos trabalha na TIL, empresa que venceu a licitação feita pela prefeitura para oferecer os ônibus às seleções. ‘‘Em 16 anos de profissão, esta é a primeira vez que dirijo um ônibus tão vazio. E, por mais engraçado que possa parecer, não é nada fácil.’’
O ônibus da TIL é, na verdade, um reserva de luxo – como aqueles jogadores que todo clube de futebol gostaria de ter no elenco. Com 38 poltronas do tipo leito, aveludadas, o veículo conta com frigobar, ar condicionado, três aparelhos de TV, videocassete, aparelho de CD para som ambiente, relógio digital no teto e toilete a bordo.
Fabricado em 98, o ônibus – utilizado pela empresa em viagens de turismo – já rodou cerca de 140 mil quilômetros mas continua impecável, segundo o motorista Carlos Daniel de Deus, 41 anos, funcionário da TIL há pouco mais de três anos. Na quarta-feira à tarde, ele era o motorista reserva do ônibus reserva. Isto mesmo, o segundo ônibus à disposição da CBF sempre trafega com dois motoristas.
Mas não são apenas dois os motoristas do ônibus – placas AHP-9284 – reserva. Treinados sob o rigor do planejamento e das exigências da CBF, há outros dois motoristas da TIL – Aparecido de Souza e Expedito dos Santos – trabalhando na função. Eles se revezam na direção, trabalhando sempre em dupla, dia sim, dia não.
Até o final da competição, os quatro motoristas não trabalharão em viagens normais da empresa. Eles estão em plantão exclusivo para atender a Seleção Brasileira. Diariamente, o curto itinerário do Hotel Crystal para o Estádio Vitorino Gonçalves Dias (VGD), e vice-versa, é cumprido duas vezes pelos motoristas da TIL. Cada deslocamento dura em média cinco minutos. Uma hora antes de cada partida, o ônibus reserva já está no local. Com o motor ligado, para o funcionamento perfeito do ar condicionado que ninguém irá usufruir.
Até agora nenhum incidente aconteceu com nenhum dos dois ônibus. O motorista Antonio de Souza responde com uma gargalhada, quando perguntado se torce por um defeito no ônibus da CBF, para que ele possa, enfim, transportar os jogadores da Seleção. ‘‘É lógico que estou preparado e seria uma honra para mim, dirigir para eles. Mas não quero que o ônibus oficial quebre, não’’, ressalta ele.
O motorista comenta que, caso um dia consiga conversar com algum jogador da Seleção, pedirá a ele conselhos sobre como fazer para jogar futebol melhor. ‘‘Quero também, é lógico, levar o autógrafo para minhas duas filhas. Mas, se isto não for possível, conversar com um deles já será uma grande orgulho, uma recompensa’’, diz Souza.
Já do ônibus titular da Seleção – placas LBS-1516, Rio de Janeiro – pouco se sabe além do que se vê de fora. Entrar nele é expressamente proibido para repórteres. O motorista titular, que não pode ser identificado, está proibido de dar entrevistas e detalhes sobre o veículo. Tudo por questão de segurança, segundo as autoridades da CBF.