Eu tinha 13 anos incompletos quando fui ao Estádio do Café com meu pai e meus irmãos - o mais velho e o mais novo – assistir ao jogo do Brasil contra a Romênia naquela noite de quarta-feira 17 de abril de 1991. Lembro de termos chegado com bastante antecedência para pegar um bom lugar na arquibancada.

E o fato que mais me marcou naquela partida, que tinha tudo para ser festiva, afinal, era a seleção brasileira jogando na cidade, foi uma cena de agressão até então impensável para um moleque que começava a pegar gosto pelo Tubarão e o Café naquele mesmo ano.

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Danilo, o mais velho, que naquele dia completava 15 anos, foi ao estádio com uma camisa azul da seleção. Por coincidência, foi de azul que o Brasil jogou, já que o adversário também tinha no amarelo a cor principal do uniforme. Pouco antes de o jogo começar, meu pai foi com o caçula, o Dudu, comprar alguma coisa no bar e eu e o mais velho ficamos à espera. Eis que dois delinquentes, já sob efeito de muita cerveja, abordaram meu irmão e imediatamente começaram a rasgar sua camisa, dizendo que ele era torcedor da Romênia. Eu não acreditava no que via. Meu pai, pernambucano do coração grande e o pavio curto, chegou correndo, arrancou o boné de um dos covardes e com ele os golpeou várias vezes até que se desvencilhassem do Danilo. Eu temia pelo meu pai, mas foi protegido pelo pessoal em volta, que, acredito, agiu instintivamente como ele para acabar com aquela cena pavorosa.

Passados todo o susto e a revolta, assistimos ao jogo, que teve ainda um apagão. O gol solitário da vitória da seleção foi marcado pelo volante Moacir, mas para nós o herói do dia foi o xará dele, o Moacyr com Y, meu pai.