Da exploração do algodão para o futebol. A união das duas atividades poderia ser muito mais lucrativa, principalmente por mexer com uma paixão brasileira. Assim a família Matsubara, de Cambará, decidiu criar um time de futebol em 1974, mas sem imaginar que o clube poderia chegar onde chegou.
A Sociedade Esportiva Matsubara nunca conquistou um título estadual no futebol profissional, no qual está desde 76. Nem ao menos chegou à disputar uma final de campeonato. Mas ficou marcada pela supremacia nas categorias de base onde ganhou quase tudo e foi a pioneira no Paraná a dar importância aos juvenis e juniores. O grande responsável por essa tradição foi o técnico Luiz Carlos de Oliveira, o ''Bolão'', que dirigiu o time júnior durante 13 anos.
Em 76, no primeiro campeonato profissional que disputou, o Matsubara foi vice-campeão da Primeira Divisão Paranaense, subindo para a Divisão Especial, onde estavam os grandes times do Estado. A vaga veio após uma vitória por 2 a 0 sobre o Agroceres, de Santo Antônio da Platina, com dois gols do folclórico zagueiro Marmita. ''Tirei a camisa e a joguei para a torcida quando fiz o segundo gol. Aí fui expulso'', relembra o zagueiro-artilheiro, que gostava de pintar de caju a cabeleira black power. ''Joguei uma partida com o cabelo colorido e o seu Takeo (Matsubara, presidente do clube na época) mandou tirar senão seria mandado embora'', conta.
O auge da equipe profissional do Matsubara foi entre 85 e 95. Em 86, o time surpreendeu e foi campeão da Copa Brasil-Sul, que reunia clubes do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O time comandado pelo técnico Paquito bateu o Figueirense na final. O primeiro jogo, em Cambará, o Matsubara venceu por 1 a 0. O empate sem gols em Florianópolis na segunda partida deu o título ao time cambaraense.
Em 88 foi a vez da Série C do Campeonato Brasileiro. Somente o Fluminense, de Feira de Santana (BA), foi capaz de segurar o time do Norte Pioneiro. Apesar de conseguir o acesso à Série B, o Matsubara não chegou à disputá-la, pedindo licença.
Em 89, quase o time conquista o estadual. Depois de um Paranaense muito disputado, o time de Cambará chegou à semifinal contra o União Bandeirante. No primeiro jogo, disputado no Estádio Regional, os donos da casa venceram por 1 a 0. Na segunda partida, em Bandeirantes, o União mostrou que não entregaria a vaga na final e fez 3 a 2. A decisão foi, então, para o terceiro jogo, também no Estádio Luiz Meneghel. O União não deu chances ao Matsubara e goleou por 3 a 0. ''Nosso time era bom, mas o deles era melhor, mas valeu'', justifica o ex-lateral-esquerdo do Matsubara e atual auxiliar-técnico do União Bandeirante, Julio Fernando Marques, o Tutinha, 38 anos. O ex-lateral começou a carreira em 82 nos juvenis do clube e, em 87, subiu para o profissional, onde ficou até 89, quando encerrou a carreira e passou a dirigir as categorias de base do Matsubara.
O lateral-direito Jorge Luís e os atacantes Ratinho e Tico foram os destaques na campanha do Matsubara em 89. Tico, um dos maiores jogadores da história do clube, ainda teve um consolo após a eliminação do Estadual. Ele foi o artilheiro do campeonato com 24 gols. No ano seguinte, repetiu a dose, balançando 20 vezes as redes adversárias. Posteriormente, os três atletas foram negociados com o Atlético Paranaense.
Mas ao contrário da torcida e de ex-jogadores, o presidente do clube, Sueo Matsubara, não gosta muito de falar do passado. Saudosismo não é com ele. ''Não vivo de passado, vivo de presente. Meu negócio é o que está acontecendo agora e não o que aconteceu'', frisa.
Apesar de não gostar de relembrar a história, Sueo não escapa de comentar o ocorrido em 95, quando investiu pesado, montou um time para ser campeão, sob o comando do meia Neto, ex-Corinthians, e transferiu a sede do Matsubara para Londrina. ''Não me arrependo de nada. Foi um bom investimento. O Neto ajudou e muito a divulgar o time em todo o Brasil'', garante Sueo.
No ano passado o futebol profissional do Matsubara se licenciou das competições oficiais. ''Pedimos licença para reestruturar o time e não perder mais dinheiro. No interior você paga para jogar e era isso que estava acontecendo. Não compensava'', justifica Sueo.
Sobre o futuro do time, ele é taxativo. ''O ano que vem voltaremos para a Série A-1''. O dirigente diz que não vai montar uma equipe apenas para disputar o campeoanto, mas sim para subir para Primeira Divisão novamente. ''Caso contrário é só gastar dinheiro à toa. Montar time está fácil hoje em dia. Tem muito jogador parado. Pegamos algumas peças experientes e mesclamos com uma molecada boa que temos aqui e pronto'', observa o dirigente.
O técnico para 2004 será Heid Menezes, o Mazza, primeiro goleiro da história do Matsubara.