SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O texto do manifesto dos jogadores da seleção brasileira começou a nascer de reuniões entre todos os 24 convocados por Tite. Integrantes da comissão técnica também participaram. Mas a definição das palavras a serem usadas e da mensagem exata ficou a cargo dos jogadores considerados líderes do elenco, como Neymar, Casemiro e Marquinhos.

Desde a semana passada, os atletas tentam definir o que dizer sobre o descontentamento geral com a realização da Copa América no país e o relacionamento com o presidente da CBF, Rogério Caboclo. O afastamento dele, no último domingo (6), tornou tudo mais fácil.

Após a partida desta terça (8), contra o Paraguai, eles querem demonstrar o sentimento do grupo sobre a disputa do torneio no país, depois da desistência de Argentina e Colômbia. A ideia apresentada é fazer críticas à Conmebol, à CBF e à forma como foi conduzido o processo de escolha do Brasil como sede, às pressas e sem conversas com os atletas.

Chegou a ser ensaiado um movimento de boicote à competição, mas isso apenas aconteceria se os brasileiros conseguissem a adesão das outras nove seleções envolvidas. Isso não aconteceu.

Apesar de críticas individuais, como as feitas por Sergio Aguero (Argentina) e Luis Suárez (Uruguai), a avaliação foi que não havia um apoio abrangente para tomar medida tão drástica.

O pensamento é apresentar um manifesto que diga que o grupo está descontente e deseja deixar isso claro.

O pensamento é de expor o descontentamento com a divulgação do manifesto, mas jogar a Copa América, mesmo que a contragosto. Até a tarde desta terça-feira (8), não havia nenhuma intenção de politizar o assunto com protestos contra o governo federal. Tite atuou para garantir essa isenção.

O incômodo dos jogadores apenas cresceu desde a apresentação para as partidas das Eliminatórias para a Copa do Mundo, contra Equador e Paraguai. Em reunião com Caboclo no início da semana passada, antes de viagem a Porto Alegre, o grupo, com as bênçãos do treinador, cobrou o dirigente sobre falta de diálogo, a realização da Copa América um ano antes do Mundial e o que consideraram desorganização na preparação da seleção.

A reação do presidente foi a pior possível, na visão do elenco. Reagiu como se os jogadores fossem subordinados que deveriam obedecer às ordens dos dirigentes.

Tudo ficou pior ainda na última quinta-feira (3), quando Casemiro deveria conceder entrevista ao lado de Tite na véspera do jogo. Caboclo proibiu o volante brasileiro de falar com a imprensa e exigiu uma reunião a sós com ele.

Nervoso, Casemiro não foi ao encontro dos jornalistas, mas não aceitou a conversa particular com o mandatário da CBF por considerar que ele estava alterado. Para os jogadores, foi a gota d'água.

A pedido de Tite e por lealdade ao treinador, os atletas prometeram se pronunciar apenas após a partida contra o Paraguai. Depois do episódio com Casemiro, aconteceram novas conversas gerais do grupo e também dos mais experientes para ajustar o que dizer.