Mal acostumados
Nunca fomos pobres de talentos. Nunca fomos medianos. Nunca fomos igual a maioria
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 23 de outubro de 2023
Nunca fomos pobres de talentos. Nunca fomos medianos. Nunca fomos igual a maioria
Julio Oliveira
Fomos mal acostumados ao longo da história. Tivemos os melhores jogadores do mundo, o país mais vencedor e a referência do melhor futebol sendo espelho para toda a evolução mundial. O mundo todo queria jogar como o Brasil. O mundo todo queria ser o Brasil.
O futebol sempre foi o primeiro esporte no país não por ser o mais popular no mundo, mas porque todo brasileiro nasce respirando futebol. Tivemos o melhor do mundo para todo sempre. Várias gerações foram impactadas por gênios, que insistiam em nascer no Brasil. Melhores do mundo sucessivamente vestindo camisas dos mais importantes clubes do mundo.
Fomos mal acostumados.
Não precisávamos consumir outros mercados. Os ídolos estavam aqui. Não precisávamos colecionar camisas de times europeus, nem reverenciar um argentino ou português, porque os primeiros da lista sempre eram brasileiros. Não temos mais. Não somos mais.
Nosso atual melhor jogador não foi melhor do mundo. E não vai ser. Nosso atual melhor jogador não tem a empatia e o amor do brasileiro, e não arrasta fãs pelo país. O Neymar, um dia menino, hoje homem, deixará uma carreira marcada por lesões e polêmicas. Ficou rico, milionário, mas será pobre na lembrança.
Em 2002, quando o Brasil conquistou o penta diante da Alemanha, três jogadores já haviam sido melhores do mundo. Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo eram referências com história de títulos e futebol de encantar. E ainda tinha Roberto Carlos, Cafu...
Após os dois últimos jogos da Seleção pelas Eliminatórias é difícil não ter o sentimento de decepção, e não é só pelo futebol apresentado, mas por não nos apaixonarmos mais por aquilo que nos é apresentado. E é preciso ir muito além de dizer ou apontar que a geração não é boa, que o futebol mudou ou que agora é assim mesmo. Nunca fomos pobres de talentos. Nunca fomos medianos. Nunca fomos igual a maioria.
Mais do que encontrar este ou aquele técnico, o país precisa repensar raízes e formatos, pois foi pela sua essência que criamos craques e estilos. Sim, tudo mudou e todos evoluíram, mas nosso gosto pelo belo e criativo não mudou. Queremos o Brasil do espetáculo, do protagonismo, da excelência e da referência. Queremos o Brasil que assustava, que era enfrentado e também temido. Queremos o Brasil ousado e organizado, que era estudado e ainda surpreendia, o Brasil que nos acostumaram ver por seguidas décadas, que não existe mais.