Claudemir Scalone
De Londrina
O técnico Wanderley Luxemburgo defendeu ontem mudanças na organização mundial do futebol para que a Seleção Brasileira não volte a ter problemas com a desconvocação de jogadores devido a atritos com os clubes europeus. Para o treinador da seleção, somente a unificação do calendário mundial pela Fifa poderá resolver o eterno embate entre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e os clubes estrangeiros.
O corte do meia-atacante Denílson, do Bétis da Espanha, da Seleção Pré-Olímpica na última quarta-feira, e a desconvocação do atacante Ronaldo, da Inter de Milão, às vésperas dos amistosos da seleção sub-23 contra a Austrália, em dezembro, são os dois casos mais recentes deste difícil relacionamento.
O corte de Denílson continuou repercutindo ontem no bate-papo da imprensa com o técnico Wanderley Luxemburgo, na concentração da seleção pré-olímpica, no Hotel Crystal.
Denílson teve o corte confirmado na última quarta-feira depois de o Bétis exigir sua presença para disputar dois jogos pelo Campeonato Espanhol. Caso o meia da seleção não retornasse à Espanha, perderia cerca de US$ 15 milhões do contrato de imagem.
A CBF tentou, segundo Luxemburgo, todos os meios possíveis para segurar o jogador no Brasil. Entretanto, o clube espanhol manteve-se inflexível. ‘‘A CBF entrou no meio do caminho para ver se revolvia o impasse entre o Denílson e o Betis. Mas o Bétis radicalizou, ameaçando o jogador com o rompimento de contrato de imagem’’, explicou o treinador. Para ele, não houve erro de interpretação do Estatuto do Atleta pela comissão técnica ou pela CBF. ‘‘Nós intrepretamos o estatuto da forma como ele é, mas a Fifa não entendeu assim. Entendíamos que o prazo legal era de 14 dias. No último Pré-Olímpico, o prazo para os clubes europeus liberarem os jogadores era de 14 dias. O mesmo ocorreu na Copa das Confederações. Agora, a Fifa entende que a Olimpíada é a competição final e o prazo de liberação de jogadores é de cinco dias antes do início dos jogos’’, afirmou. ‘‘Se a CBF não o liberasse, seria punida pela Fifa’’.
Luxemburgo também não admitiu envolver-se em qualquer jogo político. ‘‘Não sou homem de fazer acerto ou jogo político’’, rebateu. O técnico entende que a complexidade do Estatuto do Atleta é que permite dupla interpretação. ‘‘Nós buscamos todos os entendimentos possíveis no caso do Denílson. Agora, não posso preparar o time com o jogador se apresentando cinco dias antes da competição’’.
Além do caso Denílson, a CBF viu-se envolvida no mês passado com a polêmica do corte do atacante Ronaldo, da Inter de Milão. O clube italiano alegou à Fifa que Ronaldo já havia cumprido os seis jogos legais – a entidade do futebol mundial obriga o clube a ceder o atleta sete vezes por ano – pela Seleção e só poderia jogar um dos dois amistosos do Brasil contra a Austrália. Entretanto, Ronaldo só havia disputado quatro das seis partidas em que fora convocado.
A atitude intransigente dos dirigentes da Inter e o pouco esforço do atacante em resolver o problema fizeram Luxemburgo desconvocar Ronaldo. O caso deixou estremecida a relação de Luxemburgo com o atacante, tido como titular absoluto do time sub-23. Na época, o treinador praticamente descartou sua convocação para a Olimpíada de Sidney caso o Brasil conquiste uma das duas vagas em jogo no Pré-Olímpico de Londrina. O treinador disse que ‘‘faltou um ato mais enérgico do Ronaldo’’.
A situação causou constrangimento entre os organizadores dos jogos na Austrália, já que Ronaldo foi o grande chamariz para atrair os torcedores aos estádios. A saída repentina do craque obrigou os organizadores a devolver os US$ 100,00 cobrados pelo ingresso aos torcedores.
‘‘O caso do Ronaldo foi diferente. Ele não jogou os dois amistosos contra a Holanda pois estava contundido, mas a Fifa novamente não entendeu assim’’, disse ele. ‘‘Não é só com o Brasil que isso acontece. Todos os países têm esse problema’’, completou.
Luxemburgo só vê uma saída para a solução deste impasse: a unificação do calendário mundial. Enquanto isso não acontece, ele prega outras medidas de emergência. ‘‘O contrato do jogador que vai jogar no exterior precisa ser melhor redigido se ele quiser jogar na seleção’’, defendeu ele, citando o caso do atacante Warley, da Udinese da Itália, que estipulou uma cláusula em seu contrato que o libera para a seleção brasileira. Outra medida seria a revisão do Estatuto do Atleta pela Fifa, reformulando os itens que dão dupla interpretação.