Luxemburgo defende calendário único
PUBLICAÇÃO
sábado, 08 de janeiro de 2000
Claudemir Scalone
De Londrina
O técnico Wanderley Luxemburgo defendeu ontem mudanças na organização mundial do futebol para que a Seleção Brasileira não volte a ter problemas com a desconvocação de jogadores devido a atritos com os clubes europeus. Para o treinador da seleção, somente a unificação do calendário mundial pela Fifa poderá resolver o eterno embate entre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e os clubes estrangeiros.
O corte do meia-atacante Denílson, do Bétis da Espanha, da Seleção Pré-Olímpica na última quarta-feira, e a desconvocação do atacante Ronaldo, da Inter de Milão, às vésperas dos amistosos da seleção sub-23 contra a Austrália, em dezembro, são os dois casos mais recentes deste difícil relacionamento.
O corte de Denílson continuou repercutindo ontem no bate-papo da imprensa com o técnico Wanderley Luxemburgo, na concentração da seleção pré-olímpica, no Hotel Crystal.
Denílson teve o corte confirmado na última quarta-feira depois de o Bétis exigir sua presença para disputar dois jogos pelo Campeonato Espanhol. Caso o meia da seleção não retornasse à Espanha, perderia cerca de US$ 15 milhões do contrato de imagem.
A CBF tentou, segundo Luxemburgo, todos os meios possíveis para segurar o jogador no Brasil. Entretanto, o clube espanhol manteve-se inflexível. A CBF entrou no meio do caminho para ver se revolvia o impasse entre o Denílson e o Betis. Mas o Bétis radicalizou, ameaçando o jogador com o rompimento de contrato de imagem, explicou o treinador. Para ele, não houve erro de interpretação do Estatuto do Atleta pela comissão técnica ou pela CBF. Nós intrepretamos o estatuto da forma como ele é, mas a Fifa não entendeu assim. Entendíamos que o prazo legal era de 14 dias. No último Pré-Olímpico, o prazo para os clubes europeus liberarem os jogadores era de 14 dias. O mesmo ocorreu na Copa das Confederações. Agora, a Fifa entende que a Olimpíada é a competição final e o prazo de liberação de jogadores é de cinco dias antes do início dos jogos, afirmou. Se a CBF não o liberasse, seria punida pela Fifa.
Luxemburgo também não admitiu envolver-se em qualquer jogo político. Não sou homem de fazer acerto ou jogo político, rebateu. O técnico entende que a complexidade do Estatuto do Atleta é que permite dupla interpretação. Nós buscamos todos os entendimentos possíveis no caso do Denílson. Agora, não posso preparar o time com o jogador se apresentando cinco dias antes da competição.
Além do caso Denílson, a CBF viu-se envolvida no mês passado com a polêmica do corte do atacante Ronaldo, da Inter de Milão. O clube italiano alegou à Fifa que Ronaldo já havia cumprido os seis jogos legais a entidade do futebol mundial obriga o clube a ceder o atleta sete vezes por ano pela Seleção e só poderia jogar um dos dois amistosos do Brasil contra a Austrália. Entretanto, Ronaldo só havia disputado quatro das seis partidas em que fora convocado.
A atitude intransigente dos dirigentes da Inter e o pouco esforço do atacante em resolver o problema fizeram Luxemburgo desconvocar Ronaldo. O caso deixou estremecida a relação de Luxemburgo com o atacante, tido como titular absoluto do time sub-23. Na época, o treinador praticamente descartou sua convocação para a Olimpíada de Sidney caso o Brasil conquiste uma das duas vagas em jogo no Pré-Olímpico de Londrina. O treinador disse que faltou um ato mais enérgico do Ronaldo.
A situação causou constrangimento entre os organizadores dos jogos na Austrália, já que Ronaldo foi o grande chamariz para atrair os torcedores aos estádios. A saída repentina do craque obrigou os organizadores a devolver os US$ 100,00 cobrados pelo ingresso aos torcedores.
O caso do Ronaldo foi diferente. Ele não jogou os dois amistosos contra a Holanda pois estava contundido, mas a Fifa novamente não entendeu assim, disse ele. Não é só com o Brasil que isso acontece. Todos os países têm esse problema, completou.
Luxemburgo só vê uma saída para a solução deste impasse: a unificação do calendário mundial. Enquanto isso não acontece, ele prega outras medidas de emergência. O contrato do jogador que vai jogar no exterior precisa ser melhor redigido se ele quiser jogar na seleção, defendeu ele, citando o caso do atacante Warley, da Udinese da Itália, que estipulou uma cláusula em seu contrato que o libera para a seleção brasileira. Outra medida seria a revisão do Estatuto do Atleta pela Fifa, reformulando os itens que dão dupla interpretação.
