Dois repórteres esportivos goianos serão indiciados por injúria racial por comentários realizados contra o jogador Celsinho, do Londrina, durante o jogo contra o Goiás, no estádio Hailé Pinheiro, em Goiânia, no dia 17 de julho. Esse é o resultado do inquérito nº 1 instaurado pelo Geacri (Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância), inaugurado no dia 16 de agosto.

"Esse gesto de protesto e todos os outros que nos representam  mostram realmente de fato a força e a importância que nós temos para comprar lutar contra os preconceitos raciais.", disse Celsinho.
"Esse gesto de protesto e todos os outros que nos representam mostram realmente de fato a força e a importância que nós temos para comprar lutar contra os preconceitos raciais.", disse Celsinho. | Foto: Ricardo Chicarelli/Londrina Esporte Clube

Durante o jogo, os repórteres esportivos realizaram comentários depreciativos sobre o cabelo crespo do jogador, durante transmissão da partida para a rádio. Após a partida, Celsinho registrou a ocorrência na Polícia Civil do Paraná, que encaminhou os autos para o grupo especializado em Goiás. A oitiva de Celsinho foi realizada por meio de videoconferência.

Segundo o delegado Joaquim Adorno, titular do grupo especializado, o inquérito será remetido ao Judiciário antes do prazo limite legal. O crime pelo qual os repórteres foram indiciados está tipificado no Artigo 140, Parágrafo 3, do Código Penal. Se condenados, poderão cumprir penas de um a três anos de reclusão e multa. A pena pode ser agravada por ter o crime sido cometido na presença de várias pessoas e/ou propagada em redes sociais. A Polícia Civil também enviará cópia do inquérito à vítima para que tome as providências que entender pertinentes na área cível.

VÍTIMA FREQUENTE

Depois da situação em Goiânia, uma semana depois o narrador da Rádio Clube do Pará chamou o cabelo de Celsinho de "ninho de cupim". Um mês mais tarde, contra o Brusque, um conselheiro do clube catarinense que estava na arquibancada do estádio chamou o cabelo de Celsinho de "cachopa de abelha".

Na mesma partida o jogador foi chamado de macaco, em episódio registrado em vídeo e divulgado pelo Londrina nas redes sociais.

"Cara, é constrangedor. Te afeta psicologicamente e emocionalmente. Você não consegue ter dimensão tampouco consegue entender o que de fato está acontecendo no momento. Nós sabemos que existe isso no meio da nossa sociedade, mas enquanto a gente não passa na pele não tem como ter essa dimensão, mas de fato acontece. E é triste você ser chamado de uma situação que você não imagina no meio de seu trabalho. É muito constrangedor", disse Celsinho à FOLHA sobre os episódios de racismo que vem sofrendo.

OUTRO LADO

Em comunicado publicado após a repercussão do caso em Goiás, a Rádio Bandeirantes afirmou que repudia veementemente "qualquer ato que possua cunho ou menção racista a qualquer pessoa" e solicitou a imediata rescisão contratual dos jornalistas.

Em nota publicada na época, o narrador Romes Xavier disse que foram “colocações erradas que jamais deveriam ter sido ditas. Quem me acompanha, sabe o quanto sou crítico sobre condutas como essa. Peço perdão. Quem nunca errou”. Segundo ele, não houve "a intenção de discriminar o jogador Celsinho". "Lamento o ocorrido e estou tentando ser uma pessoa melhor todos dias", afirmou. O comentarista Vinícius Silva também publicou nota após o episódio. "Demonstro todo arrependimento pelo comentário infeliz referente ao atleta Celsinho. Peço desculpas a ele e sua família. Entrei em contato com Celsinho demonstrando todo remorso. A Rádio Bandeirantes é completamente contra essa postura e eu particularmente também sou"