O Londrina dá os primeiros passos para transformar o clube em uma S/A (Sociedade Anônima). Na última semana o Conselho de Representantes autorizou que o processo seja iniciado e que seja criada uma comissão para discutir os melhores modelos para a realidade do Alviceleste.

A mudança na forma de gerir e administrar o Tubarão é a maneira que o clube entende ser a ideal pensando em um futuro que não está tão longe assim. A partir de dezembro de 2020, o LEC não terá mais o contrato de gestão com a SM Sports – o acordo não será renovado, pelo menos não da forma atual – e a intervenção da Justiça do Trabalho também chegará ao fim. O clube terá que andar com suas próprias pernas e encontrar os melhores caminhos para continuar competitivo em campo e sólido financeira e administrativamente.

“Na modalidade de clube associativo que temos hoje não há interesse de nenhum investidor ou grupo ou até mesmo grandes clubes de fora do país em colocar dinheiro no Londrina. Acredito que uma mudança para S/A será interessante para todos os lados”, afirmou o presidente Claudio Canuto.

A transformação em clube-empresa também é bem vista pelo gestor Sérgio Malucelli e pode fazer com quea SM Sports continue vinculada de alguma forma ao LEC. “Ao final do contrato eu vou embora, mas tenho certeza que a melhor saída para o Londrina é virar SA. Pode até ser bom para a SM também, mas será muito mais positivo para o Londrina”, frisou Malucelli.

Desde 2018 o Londrina tem a assessoria da Red Land Football, agência de consultoria para clubes de futebol. A empresa, com experiência de trabalhos em clubes da Europa e ligas como a Premier League, representa o LEC em possíveis negociações e, inclusive, tem conversas com dois gigantes do futebol inglês. “Se você olhar o mapa do Paraná, quantos clubes temos do lado de cá do Estado? O Londrina tem muito potencial pela riqueza da cidade, pela condição de captação de atletas, pela sua história e tradição”, ressaltou João Fernando Zogheib, proprietário da Red Land. “Se transformar em S/A é ponto fundamental para qualquer investimento de fora do país. É bom para o investidor e para o torcedor também”.

Marca

O próximo passo do Londrina dentro deste processo é saber quanto vale a sua marca. “Não sabemos qual é a realidade. Alguns falam que vale R$ 5, R$ 10, R$ 20 milhões. Vamos contratar uma consultoria especializada e isenta para fazer este estudo”, garantiu Claudio Canuto.

Sérgio Malucelli tem participado de algumas reuniões no Conselho mostrando que a SM Sports pode ser uma das investidoras no novo formato. O empresário entraria com o seu CT no negócio e ficaria com um percentual da nova empresa. “Acredito que o CT valha de R$ 30 a R$ 40 milhões. Mas se unirmos a marca Londrina e o CT teríamos um produto muito mais forte a oferecer”, ressaltou.

Segundo o dirigente, ele tem vários contatos com investidores internacionais interessados em investir no LEC. Na opinião de Malucelli, o melhor caminho seria criar uma empresa nova, que iria gerir o clube, com percentuais divididos entre o LEC, a SM Sports e o futuro investidor. “Tenho investidores, clubes e empresários dispostos a entrar no Londrina. Eu seria um dos sócios, mas não vou mais gerir o futebol”, afirmou.

Para João Fernando Zogheib, o Londrina tem potencial de investimento com a presença da SM Sports ou sem ela. “O mais importante nisso tudo é o clube dar os passos para se transformar em S/A”, apontou.

PL cria regime especial de tributação

Pelo menos três propostas tramitam no Congresso Nacional a respeito da transformação dos clubes em sociedades anônimas do futebol. A que agrada a maioria dos parlamentares e também o governo é o projeto de lei 5082/2016.

De acordo com o advogado especialista na área esportiva Luis Felipe Assunção, o PL prevê a criação do Refut, um regime especial com um prazo de tempo estipulado para que os clubes que aderirem recolham imposto sobre uma única alíquota de 5% sobre o rendimento bruto mensal.

“Nenhum clube ainda fez esta transformação porque não há uma legislação que indique este passo a passo. Hoje, as sociedades sem fins lucrativos pagam poucos tributos e mesmo assim os clubes estão entre os maiores devedores”, frisou o advogado, do escritório Marques, Martins e Assunção.

O PL prevê quatro formas de se constituir uma S/A, sendo duas mais interessantes para os clubes. “O próprio clube se transformar em uma S/A ou o clube constituir uma S/A e transferir para esta empresa todos os direitos relacionados ao futebol com o clube ficando com 100% das ações”, explicou Assunção.

Este foi o modelo apresentado pelo advogado aos conselheiros do LEC. “O clube, então, escolheria como faria a captação dos recursos, seja por título de dívidas ou com um sócio minoritário, como fez o Botafogo-SP, que vendeu 40% das ações para uma empresa”.

Clubes como São Paulo e Athletico Paranaense já têm todo o processo para transformação em S/A e aguardam apenas a aprovação da nova lei. Paralelo a isso, a CBF já autorizou o investimento estrangeiro no futebol brasileiro. A primeira consequência prática disso foi a compra do Bragantino pela Red Bull por R$ 45 milhões. O clube paulista lidera com folga A Série B do Campeonato Brasileiro.

“O formato administrativo dos nossos clubes é arcaico e não combina mais com os milhões que circulam no futebol. Esta mudança legislativa e do próprio futebol em si indicam que quem estiver preparado vai surfar melhor na onda e beber a água mais limpa. Este é o momento de se preparar para as mudanças”, ressaltou Luis Felipe Assunção.

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