Há 30 anos o Londrina negociava o atacante Élber com o futebol italiano, em uma das suas maiores transações feitas até hoje. De uma forma meteórica, o londrinense chegou ao LEC, foi convocado para a seleção brasileira e vendido ao Milan por US$ 1 milhão. A carreira vitoriosa o colocou na história dos melhores do Bayern de Munique.

Imagem ilustrativa da imagem 30 anos de um negócio milionário
| Foto: Rogerio Assis/Folhapress

Élber chegou ao Londrina com 18 anos em 1991 após ser observado pelo ex-presidente Iran Campos, que na época comandava as categorias de base do clube, jogando futsal pela AABB (Associação Atlética Banco do Brasil). Naquele ano se destacou na Copa Londrina de Futebol Júnior e foi convocado pelo técnico Ernesto Paulo para defender a seleção brasileira no Sul-Americano da categoria.

“Depois de um jogo o Ernesto Paulo foi no vestiário e me falou que eu seria convocado para o Sul-Americano. Não acreditei que aquilo estava acontecendo tão rápido, só quatro meses após eu chegar ao Londrina. Para mim, jogar futsal na AABB, disputar o Citadino, trabalhar no Banco do Brasil, já estava bom demais”, afirma Élber.

O Brasil foi campeão sul-americano, Élber se destacou e cravou o seu nome para o Mundial de Portugal, disputado no mês de junho, em uma seleção brasileira que tinha nomes como Roberto Carlos, Paulo Nunes, Marquinhos e Djair. Após não marcar nos dois primeiros jogos, a revelação alviceleste fez um golaço contra a Suécia e entrou no radar de clubes europeus.

Élber marcou quatro gols no Mundial e o Brasil perdeu a final para Portugal nos pênaltis. “Não acredito que tenha faltado algo para sermos campeões. Portugal também tinha um bom time, com nomes como Luís Figo, João Pinto, Rui Costa. Jogamos em um estádio da Luz com mais de 100 mil torcedores e tivemos um gol mal anulado do Paulo Nunes. Mas foi um Mundial espetacular para mim e onde adquiri muita experiência. Fui vice artilheiro e escolhido o segundo melhor jogador da competição”, relembra.

PEQUENO DEMAIS

Presidente do Londrina entre 1990 e 1993, Dorival Pagani recorda que o Tubarão recebeu propostas por Élber do Botafogo e do Mônaco, da França. “O pedido inicial ao Milan foi de US$ 2 milhões e eles ofereceram 500 mil dólares. Após dez dias de negociação, fechamos em US$ 1 milhão. Um olheiro do Milan já estava acompanhando o Élber desde o Sul-Americano”, comenta o ex-presidente.

Élber fez apenas três jogos no time principal do Londrina no período entre o fim do Sul-Americano e a convocação para a Copa do Mundo sub-20. O LEC era dirigido pelo técnico Vanderlei Paiva.

“Quando voltei do Mundial sabia que era a hora de sair. O Milan não viria uma segunda vez atrás de mim. Conversei com a direção e disse que queria sair. Até fiz uma pressão para me negociar, o Londrina tinha ficado pequeno para mim. Era um negócio muito bom para mim e também para o Londrina”, ressalta.

Élber não jogou no Milan e por três anos seguidos foi emprestado ao Grasshopper, da Suíça. “Tinha conhecido o treinador no Mundial e isso ajudou na minha adaptação na Suíça. Apesar do futebol suíço não estar entre os melhores, foi muito importante para mim, aprendi muito, inclusive a falar italiano e alemão”, conta Élber.

Em 1994 o atacante foi negociado com o Stuttgart e três anos depois foi para o Bayern de Munique, onde conquistou inúmeros títulos e entrou para a seleção de todos os tempos do clube bávaro. Jogou no Bayern até 2003 e marcou 139 gols em 266 partidas. Pelo clube, foi campeão da Liga dos Campeões e mundial em 2001.

“O Élber era um atacante que jogava com muita facilidade pelos dois anos. A estrela dele brilhou naquela Copa Londrina e também no Sul-Americano. E aquele golaço contra a Suécia no Mundial, abriu as portas do mundo para ele”, frisa Dorival Pagani.

Dinheiro da venda foi usado para reformar o VGD

Em 1991, um dólar equivalia a um cruzeiro, moeda brasileira na época. Do valor bruto, de US$ 1 milhão de dólares, foram feitos alguns repasses de comissões pela negociação e o montante líquido foi dividido meio a meio entre o Londrina, como clube, e a gestão das categorias de base do LEC, que era comandada por Iran Campos.

“A destinação do dinheiro foi decidida pela diretoria executiva e pelo Conselho. E se optou em reformar o VGD (Vitorino Gonçalves Dias). Construímos a atual sede administrativa, o alojamento para os jogadores e fizemos a troca do gramado, a dimensão do campo era menor do que a atual. Fizemos a drenagem do gramado, a reforma do alambrado e a colocação da iluminação”, detalha o ex-presidente Dorival Pagani.

Pagani ressalta que entre o fim da década de 1980 e início da de 1990, o Londrina era referência nacional em revelação de jogadores e convocações para a seleção brasileira. Entre 1991 e 1994, o Tubarão foi tricampeão da Taça Cidade de Londrina, uma das três competições mais importantes da categoria sub-20 no Brasil. Em 1994, o clube teve a sua melhor participação na Copa São Paulo, quando foi o quarto colocado.

“Em quatro anos tivemos 15 convocações para as categorias de base da seleção brasileira. A nossa parceria com os gestores da base era muito boa e ainda reservava 50% de qualquer negociação para o clube, bem diferente do que acontece hoje, quando o Londrina fica com apenas 5% com alguma venda”, cita Pagani, comparando a relação atual com a SM Sports.

Atacante tentou intermediar parceria para o LEC

Morando definitivamente há dois anos na Alemanha, Élber é embaixador do Bayern Munique há cinco anos. Representa o clube alemão em eventos com torcedores, patrocinadores e parceiros. Com todo o seu prestígio no futebol alemão e europeu, o ex-atacante revelou que tentou por duas vezes intermediar uma parceria para o Londrina.

A primeira ainda quando jogava pelo Bayern. Élber agendou uma visita de dirigentes do LEC com representantes do clube alemão. “A comitiva do Londrina era encabeçada pelo Iran Campos e o encontro contou até com o Franz Beckenbauer. A negociação estava encaminhada, mas o Bayern acabou entrando em uma crise financeira e todos os investimentos fora da Alemanha foram cortados”, lembra.

A outra tentativa de encontrar investidores foi recente e o LEC já tinha a parceria com a SM Sports. De acordo com Élber, o gestor Sérgio Malucelli o informou que o seu sócio Juan Figger tinha interesse em vender o seu percentual de 50% do Centro de Treinamentos.

“Perguntou se eu conhecia alguém que tivesse vontade de investir. Achei a pessoa e o negócio estava certo. O empresário já estava com viagem marcada para Londrina, mas o Malucelli me informou que o Figger tinha desistido de vender. Achei uma pena e ficou até ruim para mim porque tinha dado a minha palavra ao investidor”, comenta.

Élber revela que sempre acompanha os jogos do Londrina e torce para o clube chegar à Série A, mas descarta qualquer outra articulação para buscar investidores para o Tubarão. “Depois desta última tentativa perdi o interesse de fazer qualquer outra coisa com o Londrina. Sigo na torcida pelo clube, mas uma ajuda direta está fora de cogitação”.

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