São Paulo - Fez-se a alegria para o torcedor do Fluminense .O clube tricolor enfim é campeão da Copa Libertadores, troféu obtido com vitória por 2 a 1 sobre o Boca Juniors, na tarde de sábado (4), no estádio Mario Filho, no Rio de Janeiro.

Cano e John Kennedy fizeram os gols do título, que jamais havia sido alcançado pela formação das Laranjeiras.

De frente para o morro de Mangueira, vizinho ao Maracanã, o time de Cartola obteve aquela que pode ser considerada a sua maior glória. A equipe tricolor, que homenageou em verde e rosa o compositor de "Amor Proibido" no uniforme lançado mais recentemente, deixou olhos rasos d'água na arquibancada, mas os corações feridos eram os argentinos.

Diante de um adversário com seis taças da competição, o Fluminense contou com o talento de Cano para abrir o placar aos 35 minutos do primeiro tempo. Depois de uma tabela de Keno e Arias, Cano recebeu na grande área e emendou de primeira, no canto direito do goleiro Sergio Romero.

Na etapa final, o Fluminense teve chances de ampliar o placar, mas não conseguiu e ainda viu o Boca empatar aos 26 minutos, com Advíncula. Ele recebeu a bola na direita, cortou para o meio e acertou o canto direito de Fábio.

Após o gol de empate, o técnico Fernando Diniz colocou John Kennedy no lugar de Ganso. O técnico disse, conforme imagens da transmissão, que Kennedy faria o gol do título.

O jogo foi ficando dramático e, a partir dos 35 minutos, a torcida começou a cantar "a bênção João de Deus", música que os tricolores tradicionalmente cantam quando o time está em dificuldades.

Na prorrogação, aos oito do primeiro tempo, Kennedy cumpriu a profecia de Diniz. Recebeu a bola de Keno na entrada da área e encheu o pé. Ao ir para torcida comemorar o gol, o atacante, que já tinha amarelo, foi expulso. Diniz tirou Keno e colocou David Braz para fechar a casa e festejar o título.

O triunfo coroa o trabalho de Diniz, que tinha no Campeonato Carioca sua grande conquista como treinador e cicatriza feridas da agremiação das Laranjeiras, que acumulou fracassos em suas oito participações anteriores na Libertadores, alguns deles extremamente dolorosos.

O troféu esteve ao alcance em 2008 - centenário de Cartola. Derrotada pela LDU por 4 a 2 no jogo de ida da final, no Equador, a equipe buscou no Rio uma vitória de virada por 3 a 1, mas levou a pior nos pênaltis. No ano seguinte, contra a mesma LDU, deixou escapar outro título internacional: com a derrota por 5 a 1 em Quito, o 3 a 0 em casa não foi suficiente na Copa Sul-Americana.

Desta vez, como passou a ocorrer na edição de 2019, a decisão foi disputada em partida única. O duelo derradeiro estava marcado para o Maracanã desde o começo do campeonato, independentemente dos clubes na briga, e o Fluminense trabalhou por mais uma chance de triunfar no local.

A campanha, é verdade, teve sobressaltos. A classificação às oitavas de final só foi obtida na última rodada da fase de grupos, em um tenso empate com o peruano Sporting Cristal, seguido de vaias pela má atuação. A sequência teve triunfos tranquilos sobre o Argentinos Juniors e o paraguaio Olimpia antes de um confronto dramático com o Internacional nas semifinais.

No jogo de ida, no Rio, o Fluminense saiu na frente, teve um jogador expulso, levou a virada e buscou o empate por 2 a 2 com um a menos. Em Porto Alegre, o Inter marcou em falha do goleiro Fábio e teve duas oportunidades claras para selar a vaga na decisão. Enner Valencia falhou. John Kennedy, aos 36 minutos do segundo tempo, e Cano, aos 42, não.

A vitória de virada por 2 a 1 levou a formação tricolor à final contra o tradicional Boca, que teve também um caminho acidentado até o Maracanã. Após uma passagem sem sustos em uma chave frágil, apostou no goleiro Romero e avançou à decisão sem nenhuma vitória no mata-mata. Com seis empates, derrubou nos pênaltis o uruguaio Nacional, o argentino Racing e o Palmeiras.

No embate derradeiro, o time carioca teve uma atuação até que tranquila contra o poderoso Boca. O time de Diniz foi pouco pressionado e depois que abriu o placar com Cano, aos 35, dominou todas as ações.

Com o título inédito, o time carioca vai ao Mundial entre os dias 12 e 22 de dezembro. A competição irá reunir os campeões da Liga dos Campeões da Asia, Liga dos Campeões da África, Concacaf Champions League, OFC Champions League, Saudi Pro League e UEFA Champions League --entre eles, o inglês Manchester City.

O campeão da Libertadores também irá competir pela Copa Interamericana, com o Inter Miami, de Lionel Messi.

APOSTA EM DINIZ

Valeu a aposta do Fluminense em Diniz. E a aposta de Diniz no Fluminense. Em abril de 2022, quando o clube ficou sem técnico, o mineiro mandou mensagem para o presidente Mário Bittencourt, oferecendo-se para o cargo vago. Segundo ele, "algo do além, espiritual", motivou a atitude.

O treinador já havia dirigido a formação tricolor em 2019, sem títulos na segunda passagem, manteve seu estilo particular, baseado na profusão de opções para passes curtos, porém conseguiu minimizar os riscos e alcançar resultados mais expressivos --que o levaram à seleção brasileira, onde também trabalha, desde julho.

Com os gols do artilheiro Cano e a chegada do craque Marcelo, campeão de tudo no Real Madrid, o time conquistou o Campeonato Carioca fazendo 4 a 1 no rival Flamengo. Foi um momento considerado importante para equipe e comandante, que ganharam confiança e construíram a campanha do título da Libertadores.

O triunfo continental rendeu US$ 27,15 milhões em prêmios (R$ 136,3 milhões). O valor é considerado importante pela diretoria do clube, que fechou o ano passado com a dívida perto dos R$ 800 milhões. Nada disso parece importar agora para o torcedor do Fluminense, que chora. Disfarça e chora. Ou, ao menos por um momento, leva a vida a sorrir.

Fez-se a alegria.

NO RIO DE JANEIRO

FLUMINENSE 2 x 1 BOCA JUNIORS (ARG)

Fluminense: Fábio, Samuel Xavier (Guga), Nino, Felipe Melo (Marlon) e Marcelo (Diogo Barbosa); André, Martinelli (Lima) e Ganso (John Kennedy); Arias, Keno (David Braz) e Cano. Técnico: Fernando Diniz.

Boca Juniors: Sergio Romero; Advíncula, Figal (Valdez), Valentini, Fabra; Pol Fernández, Ezequiel Fernández (Saracchi), Medina (Taborda) e Barco (Langoni); Merentiel (Janson) e Cavani (Benedetto). Técnico: Jorge Almirón.

Local: Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)

Data: 4 de novembro de 2023 (sábado)

Horário: 17h (de Brasília)

Árbitro: Wilmar Roldan (COL)

Assistentes: Alexander Guzman (COL) e Dionísio Ruiz (COL)

VAR: Juan Lara (CHI)

Cartões amarelos: Keno, John Kennedy, Nino e Cano (Fluminense) e Cavani, Figal, Langoni e Fabra (Boca Juniors)

Cartões vermelhos: John Kennedy (Fluminense) e Fabra (Boca Juniors)

Público: 69.232

Renda: 31.702.250,00

Gols: Fluminense: Cano, aos 36 minutos do 1T, e John Kennedy, aos 10 minutos da prorrogação; Boca Juniors: Advincula, aos 27 minutos do 2T