SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Italo Ferreira viu com naturalidade as notas recebidas por Gabriel Medina e Kanoa Igarashi em uma das baterias semifinais do surfe nas Olimpíadas de Tóquio. O medalhista de ouro foi questionado duas vezes sobre o tema em entrevista coletiva realizada em Chiba e ficou incomodado.

Indagado se havia conversado com o compatriota, o potiguar respondeu: "Não, a gente só se abraçou. Ele deu os parabéns, mas faz parte". Em seguida, o campeão analisou a apertada disputa entre Medina e Igarashi, que levou vantagem na visão dos juízes.

"Ele [Medina] estava muito bem na bateria. No meu ponto de vista, relaxou um pouco. E aí o Kanoa fez o que não fez em alguns anos e virou a bateria. Claro que a bateria é até o último minuto", afirmou Italo, que derrotou o japonês na decisão e, com larga vantagem, iniciou a celebração antes do fim da bateria.

"Na minha situação, na minha final, era quase impossível ele virar faltando um minuto. Precisava de uma combinação, duas notas altas. Eu fiz meu trabalho. Cheguei aqui com um objetivo, em nenhum momento eu pensei em nada além do ouro. Então, estou saindo daqui satisfeito", acrescentou.

Diante da insistência nos questionamentos sobre a derrota de Medina, Ferreira chegou a se irritar. Indagado sobre os comentários publicados por famosos e anônimos que viram Gabriel "roubado", Italo chamou a pergunta de "chata" e recordou situações em que julgou ter sido prejudicado no circuito mundial.

"O surfe é subjetivo, e o Kanoa fez uma manobra que não fez em quase toda a vida dele. O cara acertou na bateria, ele deu sorte. Quando eu estava voltando, o Owen [Wright, surfista da Austrália] falou: 'Se fosse vocês, não viravam, mas foi o Kanoa'. O cara foi realmente para o tudo ou nada e virou a bateria", disse o brasileiro.

Medina estava à frente, com um 8,43 e um 8,33 em duas ondas com manobras aéreas que lhe renderam um total de 16,76. Igarashi, que tinha uma nota 7,67, também buscou o seu aéreo, tirou 9,33 e alcançou 17,00 (as duas melhores notas de cada surfista são as que valem pontos na bateria), conquistando sua vaga na final.

"O aéreo foi bem executado. Eu daria 9,5 se fosse julgar, mas aí todo o mundo tem sua opinião. Não posso falar porque não estou lá em cima, eu só surfo. Eu já fui [prejudicado] algumas vezes também, com o Gabriel. Todo o mundo que está competindo está sujeito a alterações [nas notas], e às vezes é algo fora do nosso controle", acrescentou Italo.

No Mundial deste ano, Ferreira chegou a quebrar uma prancha, irritado com uma eliminação que considerou injusta. "É só não baixar a cabeça, treinar e ir para a próxima. Eu saí da Austrália em segundo, podia ter saído em primeiro [lugar do ranking, ocupado por Medina]. Tomei uma porrada em Narrabeen e fui campeão olímpico", concluiu.