SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Palmeirense fanático e amante de futebol, Eliezer Pena foi morto na manhã de sexta (22), em Bragança Paulista (SP), quando a moto que dirigia foi atingida pelo carro conduzido pelo zagueiro Renan —ironicamente pertencente ao Palmeiras, mas que jogava por empréstimo pelo Red Bull Bragantino. Eliezer morreu no local. O jogador não se feriu, se recusou a fazer o teste de bafômetro e foi detido. Segundo a polícia, o carro invadiu a pista contrária na rodovia Alkindar Monteiro Junqueira e provocou o acidente.

Aos 38 anos, o gerente de produção viajava a trabalho e deixou a esposa Isabela, duas filhas pequenas (Júlia, de 10 anos, e Helena, de cinco) e muitos amigos.

O UOL Esporte conversou com um de seus amigos de infância, Raul Silveira Junior. Segundo ele, o amigo —nascido em São Bernardo do Campo (SP) mas que desde pequeno morava no Jardim Recreio, em Bragança—, era um exemplo de pai e de amigo, além de ser fanático pelo esporte praticado profissionalmente por Renan, cujo destino nos gramados está indefinido.

'ESTÁDIO' NA RUA

"Desde que eu me mudei para a rua dele, com quatro anos, viramos amigos. O Eliezer sempre foi um cara sangue bom demais e apaixonado por futebol. Ele tentou ser jogador e chegou a fazer teste em alguns clubes. Até hoje, ele jogava nos times amadores da cidade, sempre que tem oportunidade, ele estava lá", disse Raul, professor de Educação Física também de 38 anos e que, apesar de morar em Brasília há mais de uma década, afirma não ter perdido o contato com Eliezer.

"Nessa rua, éramos uns dez, doze meninos... e todos eram nascidos em 1983, 1984, então, crescemos juntos. Jogávamos bola direto na rua... não só futebol, mas muita brincadeira: taco, pique-esconde, polícia e ladrão... jogávamos muito baralho e truco. Eliezer gostava muito de truco, não jogava muito bem, não, mas gostava!", lembrou o amigo.

Sem saída e com poucos carros para atrapalhar o movimento, a tal rua, a Artur Guilardi, serviu de estádio para Eliezer e sua galera por muitos anos.

De acordo com Raul, o sonho de ser jogador profissional, no entanto, acabou de vez quando Eliezer precisou trabalhar e ajudar a família financeiramente.

Foi ainda na juventude que o menino caseiro conheceu Isabela e se apaixonou: o namoro virou casamento e logo vieram as duas filhas, para a alegria de um pai considerado exemplar.

"Ele era um paizão. Eu tenho uma filha de 13 anos. Ela, quando ia para lá [Bragança], brincava com a filha mais velha dele. Ele era sempre muito amoroso e carinhoso, está junto com a Isabela desde os 14 anos de idade. A relação deles era muito boa. Ele era um cara muito carinhoso. Ele ia buscar a Isabela quando ela estudava à noite, fui várias vezes com ele buscar ela. Era um menino muito bom, de coração enorme", prosseguiu.

AMOR POR PALMEIRAS E BRAGANTINO

Apesar do pai santista, Eliezer escolheu torcer pelo Alviverde, mas, mesmo assim, apoiava o time de Bragança e várias vezes foi torcer por ele no estádio da cidade. "Em Bragança, todo mundo é Bragantino e outro time. O Eliezer também", explicou o amigo.

"Para gente, é bem irônico. Estamos falando de um palmeirense, de um cara apaixonado por futebol, que chegou a tentar ser jogador de futebol... ele mudou de emprego faz pouco tempo, estava indo para o trabalho novo. O destino às vezes prega peças", lamentou Raul.

Mesmo distante e sem ver Eliezer pessoalmente há mais de dois anos por causa da pandemia, Raul não demorou para ser informado sobre a morte do ex-vizinho e eterno amigo. "Nos últimos dias, falei com ele pelas redes sociais. Ele me mandou parabéns no meu aniversário e trocamos algumas ideias".

"Fiquei sabendo [do acidente] por um grupo de amigos que temos de Bragança. Meu irmão ainda mora lá. Fiquei sabendo por ele, que mandou a mensagem no grupo. Ficamos bastante abalados. Desta nossa galera da infância, é o primeiro que a gente vê perdendo a vida. Ainda não conseguimos entender. Entrei em contato com amigos que temos em Bragança e sei que a família dele está muito abalada. A esposa, as filhas... todos estão sem chão", finalizou.