Histórias da Copa
O Catar quer se apresentar ao mundo ocidental e formatar uma visão receptiva, mas sem que se questionem suas tradições. Difícil
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segunda-feira, 26 de setembro de 2022
O Catar quer se apresentar ao mundo ocidental e formatar uma visão receptiva, mas sem que se questionem suas tradições. Difícil
Julio Oliveira
Estamos a menos de dois meses para o início da Copa do Catar. Há muita expectativa de como será a competição no final do ano, os atletas em meio de temporada, preparação das seleções num curto espaço de tempo e num cenário onde o futebol é apenas o pano de fundo para muitos outros negócios. O Catar quer se apresentar ao mundo ocidental e formatar uma visão receptiva, mas sem que se questionem suas tradições. Difícil.
Há quatro anos a Rússia também tentou. Dentro de campo foi perfeita em organização e segurança, até porque a Fifa é quem cuida. Mas fora dos estádios “silenciou” protestos, escondeu manifestações e restringiu entradas. Muitos deixaram de ir ao Mundial em 2018 por não se sentirem confortáveis no país.
Estive na Rússia durante o Mundial e pude presenciar vários exemplos de como vive uma nação controlada. Uma das regras para as emissoras de televisão, por exemplo, que tinham seus estúdios ao lado do Kremlin, em frente à Catedral de São Basílio, era de que nenhuma câmera ou celular fossem apontados para o Palácio em momentos de chegada ou saída de Vladimir Putin, o que acontecia na maioria das vezes de helicóptero. Para isso não acontecer, vários seguranças permaneciam o tempo todo nos arredores.
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Mas houve uma manhã, no momento da saída do presidente do Kremlin, que aconteceu um alvoroço. E de repente, todas as pessoas de todas as emissoras de TV foram “convidadas” a saírem dos estúdios e redações e se acomodarem no pátio. Uma grande revista aconteceu e uma reunião de quase meia hora, sem que ninguém pudesse trabalhar, deixou claro que se houvesse uma nova suspeita de infração no sentido todas as emissoras não funcionariam mais ali. E ainda era a primeira semana de Copa.
O “recado” foi mais que um alerta para todos. E a situação ficou tão séria que algumas pessoas, ao som de helicóptero, até viravam de costas. Mas quando se é visita, respeita-se os costumes do dono da casa. E no Catar não vai ser diferente, mesmo que antecipadamente se diga que todos serão bem-vindos.
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