Há exatos 30 anos a seleção brasileira principal jogava pela primeira e única vez em Londrina. O amistoso com a Romênia movimentou a cidade e levou um grande público ao estádio do Café em um período em que o Brasil e a CBF faziam questão de jogar em todos os estados do país, inclusive no interior.

Jogo foi manchete da FOLHA na edição de 18 de abril de 1991
Jogo foi manchete da FOLHA na edição de 18 de abril de 1991 | Foto: Reprodução

Naquele 17 de abril de 1991, a Seleção ganhou da Romênia por 1 a 0, gol do volante Moacir, e amenizou a pressão sobre o técnico Paulo Roberto Falcão, que havia assumido o Brasil há um ano, mas ainda não tinha vencido após seis partidas. Falcão não perderia mais à frente da Seleção, mas também não teve vida longa no comando até ser substituído por Carlos Alberto Parreira.

“A pressão em cima do Falcão e de toda a seleção realmente era muito grande. Mas esta vitória deixou o vestiário mais tranquilo e o time começou a jogar melhor”, afirma Moacir, ex-volante do Atlético Mineiro e Corinthians, autor do gol no estádio do Café. “Este gol me ajudou muito porque estava me firmando na Seleção”.

Moacir relembra que havia uma cobrança excessiva em cima de Falcão e lamenta que o treinador não tenha tido mais tempo no comando do Brasil. “Ele teve muita audácia e coragem de renovar praticamente toda a Seleção. Ele poderia ser um grande treinador porque era muito inteligente e seus treinamentos eram diferentes”.

Partida não foi lá um primor, mas a vitória satisfez os 38 mil torcedores que foram ao Café
Partida não foi lá um primor, mas a vitória satisfez os 38 mil torcedores que foram ao Café | Foto: Reprodução

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Meu herói do jogo foi o outro Moacir

Do time que jogou no Café vários jogadores seriam tetracampeões mundiais em 1994, como Cafu, Márcio Santos, Leonardo, Mauro Silva, Mazinho e Bebeto. O Brasil teve Sérgio; Balu (Cafu), Ricardo Rocha, Márcio Santos e Leonardo: Mauro Silva, Moacir, Mazinho e Neto; Renato Gaúcho e Bebeto (Careca).

Torcida

O público total presente no estádio do Café foi de 37.199 torcedores – 35.942 pagantes -, com renda de Cr$ 81.084,000, dinheiro suficiente para pagar a cota da CBF pela realização do jogo.

O representante comercial Alex Melo, 45 anos, lembra que já trabalhava na época, mas faltou no emprego para chegar cedo ao Café. “Fui com alguns amigos e ficamos o dia todo rodeando o estádio para tentar entrar e também conseguir algum contato próximo com algum jogador”, comenta. “O jogo não foi tão bom, mas foi muito emocionante e para a cidade, sensacional”.

Jogando de camisa azul, a Seleção realmente não fez uma grande apresentação e o gol só saiu aos cinco minutos do segundo tempo. Após escanteio cobrado por Neto, o goleiro romeno Stelea vacilou, não segurou e Moacir aproveitou o rebote para marcar.

O camisa 10 foi uma das grandes atrações da passagem do Brasil por Londrina. Muitos corintianos foram ao Café para ver o meia, que no ano anterior havia sido campeão brasileiro pelo Timão.

O jogo também teve uma peculiaridade que acompanha o estádio do Café há anos. Assim como acontece atualmente com frequência, faltou energia aos 32 minutos do primeiro tempo e a partida ficou paralisada por cerca de 20 minutos.

Frequentar o Café era uma rotina desde a infância para o contador Danilo Mioto, 40 anos, mas ter a chance de ver a seleção brasileira de perto era como um sonho.

“Eu ia religiosamente aos jogos do Londrina, aquele era o meu mundinho. Mas jogos do Brasileiro e da Seleção era só pela TV, era outro mundo. Me senti vendo artistas famosos. Não era apenas torcer, era vivenciar algo inimaginável”, relata. “O Bebeto, o Renato Gaúcho eram nossos Cristiano Ronaldo e Messi. Não em futebol, é claro, mas em idolatria”.

A paixão e a proximidade com a seleção brasileira eram bem diferentes da vivida atualmente, mesmo porque raramente o Brasil agora faz partidas no país, muito menos no interior.

“Era muito bom jogar em todos os estados e ter este contato próximo com a torcida. Havia uma identificação da população com a seleção. Tínhamos o prazer de sentir um pouquinho de cada torcida dos clubes brasileiros. Hoje, a Seleção está muito distante”, aponta Moacir.

Olheiro

Há 30 anos a quantidade de informações sobre os rivais não era tão abundante como hoje e a comissão técnica do Brasil conhecia pouco da Romênia. O advogado e ex-presidente do Londrina Osvaldo Sestário era amigo da família Vezozzo, proprietária do Hotel Bourbon, onde o Brasil ficou concentrado. Em uma conversa soube da necessidade dos brasileiros e fez a função de informante do técnico Falcão.

“Em 1991 eu era só um torcedor e tinha todos os jogos da Copa de 1990 gravados. Então, me pediram para eu levar as fitas de VHS para a comissão técnica”, recorda. “Anos depois encontrei o Falcão e falamos sobre isso”.

A seleção brasileira voltaria a Londrina em 2000, mas com o seu time olímpico que venceu o Pré-Olímpico na cidade e garantiu vaga nos Jogos de Sidney.

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